1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Brasileiro é um desastre para os direitos humanos, diz ONG

(ef)24 de julho de 2002

A nomeação de Sérgio Vieira de Mello para o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pode ser relevante para o Brasil, mas é um desastre para os direitos humanos.

https://p.dw.com/p/2VPk
Sergio Vieira de Mello (e) com o presidente do Timor Leste, X. Gusmao, e o premier japonês J. KoizumiFoto: AP

Esta opinião é da organização alemã Sociedade de Defesa dos Povos Ameaçados, baseada na atuação do brasileiro como encarregado das Nações Unidas no Timor Leste. Em entrevista a Deutsche Welle, o diretor de Relações Internacionais da ONG ativista dos direitos humanos em Göttingen, Ulrich Delius, disse que Vieira de Mello evitou um engajamento claro pelos direitos humanos na ex-colônia de Portugal e negou apoio a todos os esforços de organizações internacionais para a criação de um tribunal internacional para julgar genocídios.

Delius qualificou Vieira de Mello como um "burocrata típico da ONU" e "um fiel seguidor do secretário-geral, Kofi Annan". O brasileiro não seria só incapaz de criticar Estados poderosos, como também não teria vontade política de fazer declarações sobre questões polêmicas, segundo o representante da ONG alemã. "Como especialista excelente em todas as questões de organizações internacionais, ele incorpora a auto-censura altamente praticada na ONU", afirmou.

A Sociedade de Defesa dos Povos Ameaçados exigiu que Vieira de Mello dê continuidade à política de sua antecessora, a irlandesa Mary Ronbinson, e não se intimide com o que chamou de diferença alarmante entre teoria e prática dos direitos humanos. Ela cobrou sobretudo críticas à política de potências como os Estados Unidos, China e Rússia. A propósito, Delius lembrou que Robinson foi incômoda não só por causa de suas críticas à política americana, mas também à russa e chinesa.

O futuro alto comissário da ONU deve igualmente deixar claro que é um escândalo o fato de a Comissão dos Direitos Humanos da ONU ser o grêmio internacional mais importante na proteção dos direitos fundamentais e estarem representadas nela estados que violam maciçamente esses direitos. Ele citou Cuba, Líbia e Sudão como exemplo.

Delius criticou especialmente a intenção anunciada por Vieira de Mello de despolitisar a questão dos direitos humanos. "Este problema é também sempre político e sem democratização nos Estados ditatoriais os direitos da pessoa humana não são observados", disse ele, acrescentando que os ditadores também falam de direitos humanos, mas os violam.

Sobre o plano do futuro alto comissário de buscar o diálogo e evitar a confrontação, o representante da Sociedade de Defesa dos Povos Ameaçados afirmou: "diálogo com regimes que violam os direitos humanos não exclui críticas abertas. Pelo contrário, só sob críticas maciças os Estados que pisoteiam esses direitos se dispõem a fazer concessões". Delius concluiu que Vieira de Mello vai estragar a reputação de Mary Ronbinson se cumprir a sua promessa de evitar confrontação no Alto Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos. O brasileiro de 54 anos, com larga experiência em regiões em conflito, como Kosovo e Timor Leste, assumirá o cargo em Genebra, em 12 de setembro.