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Brasileiro propõe volta ao ofício do arquiteto

Simone de Mello25 de julho de 2002

A arquitetura contemporânea não pode continuar indiferente às necessidades humanas e sociais, afirma o arquiteto paulista Joaquim Guedes, em entrevista à DW, durante o congresso mundial de arquitetura, em Berlim.

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Smog sobre a cidade do México: arquitetos discutem problemas ambientais das megalópoles em BerlimFoto: AP

"O que eu vejo na arquitetura de todos os lugares é um deslocamento do real. As pessoas se deixam levar por forças estranhas muito marcadas pelo dinheiro, pela moeda, gerando construções monetaristas, exibicionistas." Para o arquiteto paulista, Joaquim Guedes – expoente da arquitetura moderna paulista, autor de importantes projetos urbanísticos no Norte e Nordeste do Brasil e professor aposentado da FAU/USP – o 21º congresso internacional da UIA representa uma boa oportunidade de repensar a arquitetura e resgatar sua dimensão humana. Joaquim Guedes é membro da Comissão Científica do 21º Congresso Mundial da União Internacional de Arquitetos (UIA), realizado até sexta-feira (26), em Berlim.

Fator ecológico como consequência

– A adequação ambiental e o uso racional dos recursos naturais, importantes temas do congresso "Recurso Arquitetura", não são novidades para Joaquim Guedes, cujos projetos se caracterizam por uma nítida preocupação em integrar a construção à paisagem e ao entorno. "A arquitetura sempre teve esta preocupação. Só que quando havia menos pessoas no mundo, isso era mais fácil, do ponto de vista dos recursos naturais" – diz Guedes, que rejeita soluções autoritárias e paternalistas, afirmando que a escala do problema é que deve definir a escala de sua solução. "O importante é voltarmos a pensar numa arquitetura de origem, de base, destinada às pessoas. A proteção dos recursos naturais é uma consequência lógica disso."

Longe do fazer arquitetônico

– Na avaliação de Guedes, à medida que os problemas sociais se agravaram, tornando-se complexos demais para serem resolvidos por um único profissional, o arquiteto começou a trabalhar em cooperação com outros especialistas que, por sua vez, passaram a se considerar urbanistas. No entanto – ele ressalta – "a única pessoa realmente aberta para ouvir a todos e dar forma à arquitetura e à cidade, continua sendo o arquiteto." Apesar de a arte da construção já ter assumido uma dimensão industrial, distanciando os arquitetos do canteiro de obras, Guedes acredita que ainda é possível interferir de forma produtiva no desenvolvimento urbanístico.

O valor humano

– Para isso, é necessário voltar à essência da arquitetura, insiste Guedes: retornar à pessoa humana como valor primordial; redescobrir os valores que derivam dela, como liberdade, ética e princípios ecológicos; aprofundar-se no conhecimento do sítio escolhido para a construção e analisar as atividades humanas previstas para aquele espaço, para, por fim, trabalhar a matéria.

Matéria e arte

– "O fundamental é a matéria. É ela que cria a vida social, nos remete às nossas necessidades e nos ensina a fazer forma." – diz Guedes, que não dissocia a arte da funcionalidade: "O que importa é a arte de construir as formas de que essa sociedade necessita, que sempre serão novas enquanto eu usar uma linguagem nova e criar novos significados. Isso é arte."