1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Como numa pirâmide

Agências (av)7 de agosto de 2008

Pela primeira vez foi encontrado um abrigo das Forças Armadas nazistas, perfeitamente preservado. Móveis, livros, remédios e outros objetos do dia-a-dia foram mantidos a salvo do calor e da luz durante 63 anos.

https://p.dw.com/p/EsLA
Achado sensacional na costa dinamarquesaFoto: picture-alliance/ZB

De lanterna na mão, o historiador amador Tommy Cassoe imerge do abrigo de guerra enterrado na costa ocidental da Dinamarca. "Missão concluída, o bunker está vazio", anuncia, e exibe seu achado aos curiosos reunidos na praia de Krylen: latas de conserva enferrujadas, cabos elétricos e garrafinhas plásticas com antídoto contra gás mostarda.

Há apenas alguns meses, esse bunker nazista intacto foi exposto pelas ondas – juntamente com outros três –, durante uma violenta tempestade. As construções de ferro e aço permaneceram ocultas sob as dunas locais desde 1945. A descoberta é considerada uma sensação por arqueólogos e historiadores.

"Achado único"

"É fantástico os havermos encontrado totalmente mobiliados, com camas, cadeiras, mesas, sistemas de comunicação e objetos pessoais dos soldados que os habitavam", comenta Jens Andersen, diretor do Museu Hanstholm, especializado em fortalezas nazistas. Durante cinco anos, nove soldados dividiram com seus superiores os parcos 20 metros quadrados do abrigo.

Deutschland U-Boot Bunker Valentin in Bremen
Bunker marítimo em Bremen, norte alemãoFoto: AP

Segundo ele, os nazistas construíram cerca de 8 mil bunkers na Dinamarca, 7 mil dos quais na costa oeste, como defesa contra uma eventual invasão. Contudo, após a Segunda Guerra quase todos foram esvaziados pelos dinamarqueses, à procura dos tão necessários metais e componentes elétricos.

A descoberta de um bunker intacto é "única na Europa", afirma o especialista em bunkers europeus Bent Anthonisen. Dois meninos de nove anos de idade deram a pista dos quatro abrigos aos cientistas, ao encontrar, em maio último, um balde na entrada de uma das construções. Os jornais locais relataram o achado. Tommy Cassoe pôs-se imediatamente a caminho de Krylen, e foi o primeiro a pisar no abrigo intocado.

Como numa pirâmide

"Foi como adentrar o interior de uma pirâmide", descreve o historiador amador. Ele precisou cavar um túnel na areia até a entrada. "O que vi me deixou sem fala. Era como se os soldados alemães houvessem estado lá na véspera."

Pesquisadores e arqueólogos logo acorreram aos bunkers e os evacuaram em poucos dias. Eles trouxeram à luz os mais diversos objetos do dia-a-dia dos soldados, como botas, roupa de baixo, garrafas de bebida, livros, selos, remédios e ferramentas. "Foi uma corrida contra o tempo, devido ao perigo de saques", conta Anthonisen.

Graças à extensiva cobertura pela imprensa, neste verão muito mais turistas da Dinamarca e da Alemanha procuraram Krylen do que nos anos anteriores. Anthonisen promove visitas guiadas às construções da Segunda Guerra.

"Lixo" nazista

Porém nem todos ficaram tão entusiasmados com a descoberta. "Isso tudo devia ir pelos ares", escreveu um morador ao jornal da localidade. Um tal "lixo" não deveria ainda por cima atrair turistas, criticou.

Apesar das críticas, todos os achados foram enviados ao Museu Oelgod, a poucos quilômetros da praia, a fim de serem examinados. Seu diretor, o alemão Gert Nebrich, classificou a descoberta como "muito interessante", por ser tão rara. Todos os objetos estão bem conservados, mantidos durante 63 anos em ambiente frio e escuro.