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Bush e Israel: "uma afronta à UE"

av15 de abril de 2004

Políticos alemães e representantes palestinos indignados com o apoio à política de Ariel Sharon quanto aos palestinos. O governo em Berlim prefere manter a reserva.

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Bush e Sharon contra o mundoFoto: AP

Decepção, indignação e críticas ferozes, não só do mundo árabe: a rigor, o presidente norte-americano, George W. Bush, não podia esperar outra reação a suas declarações sobre a situação no Oriente Médio. Sua entrevista coletiva de imprensa desta quarta-feira (14) foi tudo, menos uma contribuição à paz na região.

Embora apoiando o plano do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, de dissolver os assentamentos na Faixa de Gaza, Bush fez concessões altamente discutíveis. Segundo ele, Israel não deve nem devolver os territórios ocupados desde 1967, nem permitir aos palestinos expulsos em 1948 o retorno ao solo israelense.

Apenas poucas horas antes, o presidente do Egito, Mohamed Hosni Mubarak, insistira que se continue respeitando o Road Map ("rota da paz"). O especialista em questões relacionadas ao Oriente Médio, Peter Philipp, acredita que Bush, com suas declarações, possivelmente deu o golpe de misericórdia neste plano desenvolvido pela ONU, a União Européia, Rússia e os próprios EUA.

Pois um dos elementos essenciais do Road Map é o fato de os partidos em conflito poderem definir entre si uma regulamentação duradoura de paz. Segundo Philipp: "Ao antecipar os resultados de uma eventual negociação, o presidente norte-americano sabotou justamente este ponto".

O fim do Road Map?

O porta-voz do Partido Social Democrático (SPD) para assuntos de política externa, Gernot Erler, declarou em entrevista à DW-TV que "a mudança de posição de Bush é uma afronta à UE, Rússia e Nações Unidas", alertando: "A política de Bush aprofunda o fosso entre os Estados Unidos e o mundo árabe".

Erler disse não poder entender por que o presidente americano se permitiu tamanho risco, diante da atual situação no Iraque. A "guinada de Bush" só seria explicável tendo em vista as próximas eleições presidenciais em seu país: "É sabido que há uma grande influência de organizações judaicas, justamente nos EUA. [As declarações do presidente] podem ter sido uma concessão neste sentido".

O diretor da Delegação Geral Palestina na Alemanha, Abdallah Frangi, afirmou que Bush traz "a desgraça para toda a região", ao defender os interesses do governo Sharon. Ele estaria ignorando o Direito Internacional, arriscando a permanência dos grandes assentamentos judaicos na Cisjordânia e a subsistência de um futuro Estado palestino.

Reserva e otimismo em Berlim

O porta-voz de Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, assegurou que a UE não reconhecerá qualquer alteração nas fronteiras estabelecidas em 1967, que não seja fruto de negociações entre Israel e os palestinos. As declarações recentes de Bush "diferem consideravelmente da posição aprovada por todos os chefes de Estado e de governo da UE, durante o encontro de cúpula em março".

Até o fim da tarde desta quinta-feira (15), o governo alemão não se pronunciara sobre a óbvia gafe de Bush, preferindo concentrar-se na intenção de Israel de retirar todos os seus assentamentos da Faixa de Gaza, assim como alguns na Cisjordânia. Segundo o porta-voz do governo em Berlim, Béla Anda, trata-se de um "passo importante" rumo a uma solução bilateral.

Anda afirmou que as conversações entre Bush e Sharon "puseram novamente em movimento" o processo de paz estagnado. O ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, comentou que a função do "Quarteto do Oriente Médio" (ONU, UE, Rússia e EUA) é aproveitar agora a "nova dinâmica".