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A candidata europeia

30 de maio de 2011

A francesa Christine Lagarde sabe ser direta e convincente e faz bom uso de um sorriso franco e otimista. Ela inicia pelo Brasil sua campanha à chefia do FMI, mas traz na bagagem um caso que pode lhe trazer problemas.

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O sorriso é uma das armas da francesa Christine Lagarde
O sorriso é uma das armas da francesa Christine LagardeFoto: dapd

Crescem as chances de a ministra francesa da Economia, das Finanças e da Indústria, Christine Lagarde, de 55 anos, vir a ser a próxima chefe do FMI. Neste domingo (29/05), o ministro francês do Exterior, Allan Juppé, afirmou que ela conta com o apoio de todos os líderes do G8, incluindo, portanto, a Rússia, o Japão e os Estados Unidos.

Também neste domingo Lagarde confirmou os planos de que vai viajar para as principais nações emergentes em busca de apoio. Nesta segunda-feira, ela estará no Brasil. Depois vai à China, à Índia e a "alguns países da África", afirmou à rádio Europe 1. Os Brics têm criticado a preferência dada aos europeus no comando do FMI, mas ainda não indicaram um candidato próprio.

Lagarde foi a primeira mulher a comandar o Ministério da Economia e das Finanças em Paris, a primeira mulher a comandar as finanças em um país do G8 e está agora perto de se tornar a primeira mulher no comando do FMI. As chances são boas, já que os sinais de apoio à sua candidatura só têm aumentado nos últimos dias.

Apoio na Europa e nos EUA

A França, é claro, a apoia, assim como a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), o Reino Unido, a Itália, a Irlanda e a Holanda. A Alemanha não se posicionou oficialmente a favor de Lagarde, mas sinalizou apoio.

Segundo a governo francês, Lagarde teria também o apoio da China, apesar de os países emergentes já terem dito que preferem um candidato próprio a um europeu. O Ministério chinês do Exterior não comentou as declarações francesas. Com a China do seu lado, Lagarde largaria com ampla vantagem na corrida ao cargo.

Também os Estados Unidos manifestaram indiretamente apoio a Lagarde. A secretária de Estado Hillary Clinton disse admirar a francesa. "Sou uma grande apoiadora da ideia de que mulheres qualificadas – e ela certamente é uma – recebam a oportunidade de comandar organizações internacionais", disse Clinton.

Os Estados Unidos e os países europeus têm, juntos, mais da metade dos votos necessários para decidir quem assumirá o comando do FMI.

Frankreich Finanzministerin Christine Lagarde
Lagarde trabalhou durante muitos anos na área de direito internacionalFoto: AP

Estilo direto e pragmático

Lagarde certamente não é uma candidata indesejada para os americanos, já que tem relações estreitas com os Estados Unidos. Ela concluiu um estudo superior no país e teve suas primeiras experiências políticas como estagiária do deputado republicano William S. Cohen, que mais tarde foi secretário da Defesa no governo Bill Clinton.

De volta à França, estudou Direito e Inglês e começou uma carreira de advogada na empresa de direito internacional Baker & McKenzie. Depois de 18 anos, retornou aos Estados Unidos para assumir o cargo de diretora-geral do escritório da empresa em Chicago. Em 2005, foi convencida pelo então chefe de governo da França, Jean-Pierre Raffarin, a retornar ao país e a entrar para a política.

Lagarde trouxe dos Estados Unidos o estilo pragmático, anglo-saxão de lidar com problemas. Por isso, foi inicialmente ridicularizada como grosseira pelos franceses. Causou sensação, por exemplo, quando anunciou um rigoroso programa de contenção de despesas, em franco contraste com o Estado que de tudo cuida, ao qual os franceses estavam acostumados.

Quando ouviu críticas devido ao alto preço da gasolina, sugeriu aos franceses que passassem a andar de bicicleta. Por fim, a ministra conseguiu se impor com seu estilo direto, sem papas na língua. Um de seus grandes feitos foi, durante a crise financeira de 2009, ter colaborado para que o pacote de resgate de 750 bilhões de euros saísse do papel e que fossem determinados limites para os fundos de hedge. Isso lhe rendeu o título de "ministra das Finanças do ano" do jornal britânico Financial Times.

Lagarde tem posições parecidas com as do ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn: ela é a favor da economia de mercado e da globalização, mas dentro de regras claras. E ela defende, assim como o presidente Nicolas Sarkozy, que o FMI seja ampliado para uma espécie de governo econômico mundial.

Suspeita de abuso de poder

Sempre bronzeada e bem-vestida, com um sorriso que chama tanta atenção quanto sua altura de 1,80 metro, Lagarde é uma cosmopolita que irradia otimismo. Como a irmã mais velha de três irmãos, aprendeu cedo a se impor num universo masculino. Determinada e de aguçado espírito coletivo, conseguiu chegar à equipe nacional francesa de nado sincronizado.

O pai, um professor de inglês, morreu cedo, quando ela tinha apenas 17 anos. Casada por duas vezes, Lagarde é mãe de dois filhos homens. Desde 2006, mantém uma relação com o empresário Xavier Giocanti.

Mas seu passado profissional não é impecável. Em 2007, a ministra decidiu que uma longa batalha judicial envolvendo o empresário Bernard Tapie e o então parcialmente estatal banco Crédit Lyonnais não seguiria o curso normal, mas seria arbitrado por um painel de juízes. Como resultado, o empresário recebeu uma indenização de 285 milhões de euros do banco.

Hoje Lagarde é acusada de abuso de poder e de favorecimento ao empresário. Porém, mesmo políticos oposicionistas afirmam que Lagarde agiu a pedido de Sarkozy, que é um amigo de Tapie. A Justiça francesa deverá decidir no próximo dia 10 de junho se será aberto um inquérito para investigar a denúncia de abuso de poder.

O dia 10 de junho é também a última data para lançar uma candidatura à chefia do FMI. Se o processo contra ela será de fato aberto, ainda não se sabe. Porém uma coisa é certa: o FMI não precisa de mais um político francês com problemas com a Justiça.

Autores: Insa Wrede / Alexandre Schossler
Revisão: Rodrigo Rimon