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Festival de Cannes

12 de maio de 2010

O Festival Internacional de Cinema de Cannes volta os olhos para as cinematografias da Ásia, África, Leste Europeu e Oriente Médio, regiões presentes na mostra competitiva deste ano.

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Em sua 63ª edição, festival francês também destaca cinematografias pouco exploradasFoto: Brigitte Lacombe

O festival de cinema mais importante do mundo, que começa nesta quarta-feira (12/05) e vai até 23 de maio próximo, apresenta este ano uma diversidade maior na escolha dos filmes em competição. Na corrida pela Palma de Ouro, estão presentes não apenas o cinema hollywoodiano e contribuições dos países europeus que tradicionalmente mais produzem cinema, mas também filmes da Argélia, do Chade, da Coreia do Sul, Tailândia, Ucrânia e México.

Os diretores da Ásia, Oriente Médio, América Central e Coreia, cujos filmes concorrem no festival, não são, contudo, desconhecidos no meio cinematográfico. Da mostra competitiva participa, por exemplo, o conhecido Abbas Kiarostami, diretor iraniano de renome internacional, vencedor da Palma de Ouro em Cannes por seu Gosto de Cereja (1997).

Flash-Galerie Filmfestspiele Cannes 2010
'Copie Conforme', de Abbas Kiarostami, na mostra competitivaFoto: MKD diffusion

O tailandês Apichatpong Weerasethakul é outro cineasta conhecido nos festivais internacionais, autor de filmes que fascinam há muito o público especializado. E entre os nomes dos veteranos deste ano no festival francês está ainda Alejandro González Innárritu, considerado um dos grandes inovadores do cinema, com seu antológico Amores Brutos e Babel, este último vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007.

Crise em Hollywood

A queda de qualidade da produção hollywoodiana reflete-se também nesta 63ª edição do Festival de Cannes, onde estão representados sobretudo os diretores da velha guarda do cinema norte-americano. O britânico Ridley Scott, cujos filmes são produzidos em Hollywood, abre o festival com sua versão de Robin Hood, sem encontrar muita repercussão entre o público ou a mídia.

Atenção maior pode angariar o mais novo filme de Woody Allen, You will meet a tall dark stranger, ou a saga financeira sob as lentes de Oliver Stone: Money never sleeps, ambos, contudo, fora de competição. Oficialmente Doug Liman representa os EUA na mostra competitiva com Fair game.

Manoel de Oliveira e Godard

A França anfitriã marca tradicionalmente forte presença no festival. Além dos filmes "da casa" estão presentes duas contribuições britânicas, uma italiana, bem como filmes da Hungria, Rússia e da Ucrânia. Crítica e público deverão também se manter especialmente atentos à mostra paralela Un certain regard, com a presença de O estranho caso de Angélica, o mais novo filme do diretor português Manoel de Oliveira, hoje com 101 anos, e Film Socialisme, longa de Jean-Luc Godard com Patti Smith no elenco.

Flash-Galerie Filmfestspiele Cannes 2010
'You, my hoy', de Sergei Loznitsa, coprodução alemã-ucraniana-holandesaFoto: Fortissimo Films

Um olhar mais acurado deixa claro, contudo, que a grande maioria dos filmes, sejam eles da mostra competitiva ou das paralelas, são grandes coproduções internacionais. Uma prova de que a indústria cinematográfica globalizada tende a funcionar cada vez mais em rede. Um dos exemplos disso na concorrência à Palma de Ouro é o You, My Joy, do diretor ucraniano originário da Bielorússia e radicado na Alemanha Sergei Loznitsa, que exibe em Cannes seu longa, uma coprodução ucraniana-alemã-holandesa.

Presença alemã

O diretor alemão Christoph Hochhäusler participa com seu Unter dir die Stadt (Sob você, a cidade) da mostra paralela Un certain regard, uma história de amor e poder num cenário de bancos. Na Quinzena dos Realizadores está presente Picco, do jovem diretor Philip Koch.

Exibido anteriormente no festival Max-Ophüls, marcador de tendências no mercado interno do cinema alemão, Picco é um drama austero e sinistro, situado numa penitenciária e baseado numa história real. Escolhas que reforçam o clichê de uma cinematografia alemã séria e pesada, mas que não surpreendem em Cannes, já que esse viés do cinema alemão agrada tradicionalmente aos franceses.

Protestos da Itália e contra o Irã

Antes mesmo do início do festival, surgiram protestos por parte de Sandro Bondi, ministro italiano da Cultura, contra o documentário Draquila – A Itália treme. O filme vê com olhar crítico a postura do governo Berlusconi após o terremoto ocorrido no último ano em Áquila, uma pequena localidade na região dos Abruzos.

Offside iranischer Regisseur Jafar Panahi Berlinale 2006 ausgezeichnet mit dem Silbernen Bären
Diretor iraniano Jafar Panahi: preso indevidamenteFoto: AP

Na cerimônia de abertura do festival, a Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci) lembrou mais uma vez o trágico destino do conhecido diretor iraniano Jafar Panahi, detido no início de março último com sua mulher e filha pela polícia iraniana. Desde então Panahi está preso, sem que qualquer tipo de acusação formal pese contra ele.

O diretor, ex-assistente de Abbas Kiarostami, ganhou a Câmera de Ouro em Cannes, no ano de 1995, por seu primeiro longa O balão branco. Sua detenção, segundo os representantes da Fipresci, são um crime contra a democracia e os direitos humanos. Não se sabe, porém, se as discussões sobre a prisão do diretor, durante o festival, poderão de alguma forma contribuir para convencer os detentores do poder em Teerã a mudar de opinião.

Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Simone Lopes