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Capital da Cultura a qualquer preço?

Ingun Arnold (as)19 de dezembro de 2003

Gênova (Itália) e Lille (França) serão as próximas, Graz (Áustria) foi em 2003. Inúmeras cidades brigam pelo título de Capital Européia da Cultura. Mas será que o esforço compensa?

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Uma ilha artificial ilumina o rio Mur: uma das novidades em GrazFoto: AP

“O pior que uma Capital da Cultura pode fazer é passar o ano promovendo uma espécie de Oktoberfest cultural”, avisa Wolfgang Lorenz, superintendente da Capital Européia da Cultura deste ano, a cidade de Graz, na Áustria. Mais de 6 mil eventos e 108 projetos foram organizados ao longo dos últimos 12 meses pela principal cidade da Estíria, atraindo quase 3 milhões de visitantes. Com tantas opções, havia atrações para todos os gostos, de exposições de arte até quermeses de bairro – o que, no fim das contas, não deixa de soar exatamente como uma Oktoberfest.

Graz é considerada uma das mais bem-sucedidas capitais da cultura no aspecto financeiro. O comitê organizador contabiliza um acréscimo de 25% nas diárias de hotéis e contas zeradas – as despesas foram iguais às receitas, o que é raro. Mas dos quase 60 milhões de euros do orçamento, a União Européia entrou com apenas meio milhão de euros, o restante o próprio comitê organizador teve de arrumar. Ainda: a cidade está quebrada. Faltam mais de 600 milhões de euros nos cofres públicos.

Cultura ou turismo?

Kunsthaus Graz
A nova casa de cultura de Graz se destaca entre a vizinhançaFoto: AP

O que os habitantes de Graz ganharam com a escolha da cidade para ser Capital Européia da Cultura em 2003 é um casa de shows nova em folha, uma casa de cultura, uma casa de literatura, um museu infantil e uma sala de concertos. Com o orçamento municipal no vermelho, a manutenção de todos esses espaços fica dificultada. E como ocupar esses lugares quando Graz voltar à sua rotina normal? “A continuidade do boom cultural é questionável. Depois de um ano como capital cultural, o caixa para eventos artísticos e culturais costuma infelizmente estar mais vazio do que antes”, diz Isabelle Schwarz, da Fundação Cultural Européia, relatando a experiência da maioria das capitais da cultura. A longo prazo, os empresários do setor turístico acabam lucrando mais do que as pessoas do meio artístico e cultural. “Obviamente também há as histórias de sucesso, como o caso de Glasgow, mas infelizmente elas são minoria”, afirma Schwarz.

O que é uma Capital da Cultura?

Karlsbrücke in Tschechien, Prag
Praga: uma das Capitais Européias da CulturaFoto: Transit

O conceito “Capital Européia da Cultura” tem quase 20 anos. Em 1985, a então ministra da Cultura da Grécia, Melina Mercouri, teve a idéia de aproximar as pessoas e os povos da Europa fazendo com que eles refletissem sobre suas raízes culturais comuns. Na época a idéia de uma “casa comum européia” era muito menos conhecida e disseminada do que é hoje: metade do continente vivia atrás da Cortina de Ferro, a internet era restrita ao meio acadêmico e o euro não existia nem em sonho. E nem os vôos baratos, que levam os europeus de um lado para o outro do continente de uma maneira rápida e econômica.

O conceito de Capital Européia da Cultura acompanhou essa evolução e as cidades candidatas também devem fazê-lo. “A candidatura deve ressaltar um 'diferencial europeu' ”, afirma o gerente do Conselho Cultural Alemão, Olaf Zimmermann. Ele aconselha e apóia as 16 candidatas alemãs que disputam o título de capital cultural em 2010. Muitas fracassam exatamente em mostrar esse diferencial. “Em relação aos efeitos locais, ao fomento de espaços culturais europeus e ao fomento de uma forte identidade multicultural européia, o balanço é antes negativo”, diz Schwarz.

Sempre os mesmos erros

G8 Proteste
Gênova foi palco de protestos contra o G-8Foto: AP

“A ênfase nas características européias ainda é muito vaga”, concorda a germanista de Chemnitz Ingrid Hudabiunigg. O sucesso turístico aparenta ser o mais importante. “Muitas cidades candidatas têm centros históricos que são embelezados à custa de muito dinheiro”, afirma ela. “Mas poucas mostram também suas contradições.” Esse também é o caso de Gênova, critica Hudabiunigg, antes mesmo que o ano de capital cultural da cidade portuária italiana tenha começado. “Gênova se concentra totalmente na sua alta cultura e no seu rico passado”, diz ela. “Mas a cidade também é o portão de entrada, na Itália, de migrantes africanos legais e ilegais. Serão eles simplesmente afastados?!”