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Casa da História em Bonn permite vivenciar Alemanha de 1945 até hoje

8 de maio de 2012

Museu na antiga capital apresenta de forma viva a história do país desde o pós-guerra. Criada como iniciativa estatal, mostra de objetos é uma das que mais atrai visitantes na Alemanha, numa média de 600 mil por ano.

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Foto: DW

Um jipe dos EUA, uma foto gigantesca de tropas norte-americanas hasteando sua bandeira nas ruínas da sede do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, tendo a águia do Reich em primeiro plano: não se trata de uma cópia, mas sim de um original.

Quem entra na Haus der Geschichte (Casa da História) em Bonn se sente, justamente, em meio à história. E logo fica claro por que é pura bobagem a tão famosa "Hora Zero", que supostamente soou em 8 de maio de 1945. Não há novos começos na história, há continuidade e ruptura, mas não: tabula rasa e "tudo novo".

Haus der Geschichte US-Jeep
Jipe dos EUA: peça originalFoto: DW

Assim, a exposição começa logo com os temas com que os Aliados confrontaram os alemães após o fim da Segunda Guerra Mundial: documentários sobre as crueldades dos nazistas, o Holocausto, os processos de Nurembergue. A mensagem é: para vencedores e vencidos, vítimas e agressores, não há futuro sem que se olhe para trás.

À honra da antiga capital

A exposição da Haus der Geschichte é uma das mais visitadas da Alemanha. A iniciativa de fundação da casa partiu do ex-chanceler federal Helmut Kohl. O plano original era uma coleção sobre a história da República Federal da Alemanha e a divisão do país. Ninguém poderia imaginar que o projeto de prestígio estatal se transformaria em tamanho sucesso de público.

Em meados de abril de 2012, o museu havia recebido 10 milhões de visitantes. A média, desde a inauguração em 1994, é de 600 mil visitantes por ano para a mostra permanente sobre a história alemã a partir 1945. A entrada é franca, pois o local é inteiramente financiado com verbas públicas.

Haus der Geschichte Jukebox
Jukebox: Alemanha entre "schlager" e rock 'n' rollFoto: DW

Mesmo após a reunificação do país e a opção por Berlim como capital da república, Bonn permaneceu como posto da Casa da História, como uma espécie de reconhecimento para a cidade, que foi capital alemã provisória de 1949 a 1990. Afinal de contas, foi às margens do rio Reno que nasceu o primeiro Estado democrático alemão, definido como parte tanto da comunidade de valores ocidentais como da Europa em processo conjunto de crescimento.

Hoje, a casa mantém dependências em Berlim e Leipzig. Para a mostra permanente em Bonn, ela dispõe de 4 mil metros quadrados. Cerca de 7 mil objetos expostos e 150 estações multimídia relatam a história do pós-guerra em ordem cronológica.

História viva

Um grupo de estudantes franceses está diante de uma estação multimídia que mostra um filme sobre os campos de extermínio. Os alunos fazem aquilo que é típico de sua geração: tiram fotografias com os telefones celulares.

"Vivenciar história" é o slogan e a missão que o museu se autoimpõe. A exposição não se compõe de objetos isolados – explicados através de um texto de acompanhamento –, mas sim de conjuntos de objetos: os originais são postos em cena lado a lado com cópias e contextualizados, utilizando texto, som e filme.

Haus der Geschichte Ein Stück Mauer
Fragmento do Muro de BerlimFoto: DW

Simultaneamente aos marcos político-históricos importantes, testemunhas da época contam a história como a viveram subjetivamente. "Essas testemunhas apresentam frequentemente pontos de vista conflitantes, os quais explicam a história muito melhor do que se fosse apresentada uma única vertente. Essa perspectiva múltipla, que pudemos criar através das estações biográficas, ajuda as pessoas a vivenciar a história com autenticidade", explica Harald Biermann, da Haus der Geschichte.

Do cinema ao Facebook

Enquanto política, economia e sociedade se reconstituíam nas quatro zonas de ocupação, e rapidamente ficava claro que Josef Stalin pretendia com "sua" zona soviética, as pessoas do Leste e do Oeste têm algo em comum: elas podiam ter vivido o fim da guerra, mas agora tinham que sobreviver a paz.

Quem podia, dava uma escapada do dia a dia indo ao cinema: o mundo perfeito por algumas horas, numa película romântica. A visitante Angelika Berger fica fora de si: "O cinema, isso era a minha juventude!". O que mais lhe interessa é o tempo que ela própria viveu, as décadas de 50 e 60. "Eu tinha 16 ou 17 anos. Na época, me deixavam ver um filme a cada três, quatro meses, quando a gente conseguia juntar um marco. Os filmes românticos eram a coisa mais linda, para mim."

Ela sempre leva alguém junto à Casa da História. Desta vez é sua vigorosa tia Inge, nascida em 1922, em Berlim. Ela chegou a sentir um frio na espinha, tão viva foi a lembrança durante seu giro pela exposição. E comenta como eram desconfortáveis os assentos do salão plenário do parlamento na década de 50. "Sentei para experimentar. Tão baixos, quase não levantei mais! Não era fácil o que as pessoas tinham que aguentar no Bundestag, na época do Konrad Adenauer", comenta, rindo alto.

Já as francesas Sophie e Mariana, de 14 anos de idade, se interessam mais pela mostra especial "Aos 17 – ser jovem na Alemanha", que ilustra o mundo e as aspirações dos adolescentes do país, da década de 40 até os dias de hoje. "Com essa parte é que eu me identifico mais: tem a geração Facebook. É, por assim dizer, a nossa geração", se admira Sophie. No geral, ambas apreciam que aqui a história seja contada através de objetos.

Haus der Geschichte Reichtagsgebäude Feierlichkeiten zur Wiedervereinigung.
Reunificação alemã: o Reichstag em 3 de outubro de 1990Foto: Haus der Geschichte

O passado e o hoje

Outro grupo de escolares bem mais maduros aprende com a guia do museu como a política de distensão dos anos 70 levou à dissolução da hegemonia soviética e, por fim, à queda do Muro de Berlim. O tema "reunificação" não é encenado de forma bombástica, com pompa e glória. Afinal, a história não termina aí, nem mesmo o roteiro pela exposição: clima, globalização, migração – os desafios ainda são inúmeros.

A Casa da História de Bonn enfrenta esses desafios de diversas maneiras. A exposição não termina no passado, mas sim forma uma ponte com o momento atual, e é moderna, Ela apresenta muitas informações em formato multimídia e com base nas pesquisas históricas mais recentes, pois foi totalmente atualizada entre outubro de 2010 e maio de 2011.

"Aproveitamos as reformas para corrigir certas falhas da exposição anterior. Demos mais ênfase à RDA [Alemanha Oriental, sob regime comunista] e à Guerra Fria", revela o historiador Harald Biermann. "Toda pessoa que se ocupa da história sabe que é necessário distância. Agora temos a distância necessária em relação aos acontecimentos dos últimos 20 anos."

Ele fala em "abrir caminhos através da história". Também se poderia falar em expor continuidades e rupturas. Como quer que se descreva o processo: trata-se sempre de descobrir o que o passado tem a ver com o presente.

Autor: Birgit Görtz / Augusto Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer