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"Centelha divina" inspira Beethovenfest 2014

A. Boutsko / R. Fulker / A. Valente5 de setembro de 2014

Entre grandes nomes e jovens músicos, entre tradição e novidade, o festival em Bonn entra em sua primeira edição sob a direção geral de Nike Wagner. No foco da programação, quatro ciclos beethovenianos completos.

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Com Nike Wagner, uma da mais tradicionais famílias musicais alemãs assume o festival de BonnFoto: B. Frommann

O lema do Beethovenfest que se realiza de 6 de setembro a 3 de outubro de 2014 é "Centelha divina". A frase é plena de associações, pois "Freude schöner Götterfunken" (Alegria, bela centelha divina) é um dos versos iniciais da Ode à Alegria, de Friedrich Schiller, que Ludwig van Beethoven (1770-1827) escolheu como texto para o visionário final de sua Nona sinfonia.

Nesse movimento, pela primeira vez na história do gênero sinfônico, um coro e solistas vocais complementam as forças instrumentais da orquestra. O poema celebra a inspiração artística, que levaria a nada menos do que a confraternização de todos os povos.

A nova diretora geral do Festival Beethoven de Bonn, Nike Wagner, "herdou" esse slogan de sua antecessora, Ilona Schmiel, que liderou o evento de 2004 a 2013. Mas conferir a cada edição um slogan próprio é uma das tradições que Wagner pretende manter, por considerá-la um excelente meio de condensar mais o programa e dar-lhe um direcionamento definido.

Jovens astros do pódio orquestral

Quem procurar vai encontrar, de fato, numerosas "centelhas" na programação do festival, que, afinal, porta o nome de um dos maiores compositores ocidentais e se realiza em sua cidade de nascença.

Um grande foco são os quatro ciclos de obras beethovenianas. Um deles é a integral das nove sinfonias – pela quarta vez na história recente do evento, criado em 1845 por Franz Liszt. Elas serão executadas na sala Beethovenhalle, em quatro dias seguidos, pela City of Birmingham Symphony Orchestra, regida por seu titular, Andris Nelsons.

Nascido na Letônia, o maestro de 35 anos é um dos mais solicitados de sua geração. "Pode não ser uma programação muito original", comenta Nike Wagner à DW, "mas Nelsons é um regente tão sério quanto empolgante. Ele vai nos apresentar todo o Beethoven, 'com seus picos e vales'", promete.

Andris Nelsons
Andris Nelsons, um dos regentes mais conceituados de sua geraçãoFoto: imago/CTK Photo/S. Zbynek

A diretora se mostra igualmente entusiástica com um outro jovem astro do pódio orquestral, o canadense Yannick Nézet-Séguin, que se apresentará com a Orquestra Filarmônica de Rotterdam. "Uma bomba de energia! O que quer que ele toque, se transforma em fogos de artifício. Neste caso, serão as obras do alto romantismo, Gustav Mahler e Richard Strauss." E reforça: "Os concertos desses dois maestros, ninguém deve perder."

Um segundo ciclo beethoveniano é formado pelos cinco concertos de piano, interpretados pelo solista norueguês Leif Ove Andsnes e a Mahler Chamber Orchestra. E o violinista grego Leonidas Kavakos será acompanhado pelo italiano Enrico Pace em todas as dez sonatas para violino e piano do compositor nascido em Bonn.

Por último, o ciclo dos 16 quartetos de cordas do mestre, executados pelo russo Borodin Quartet, entra em seu terceiro e último ano. Aqui, as obras de Beethoven são confrontadas com as de compositores russos, sobretudo de Dimitri Shostakovich (1906-1975).

Dramaturgia de programação

"É preciso montar uma espécie de dramaturgia no programa: posicionar Beethoven em relação a outras obras, tanto mais antigas quanto contemporâneas, para mostrar a influência beethoveniana sobre a música sinfônica europeia", é a convicção de Nike Wagner.

A matinê de abertura já mostra bem o que a bisneta do compositor Richard Wagner quer dizer. Em Bagatellen für B, para piano e orquestra, Reiner Bredemeyer, nascido em 1970, tenta "raciocinar adiante" o pensamento musical do músico clássico-romântico. E em seguida o pianista japonês Shinnosuke Inugai, vencedor do Concurso Beethoven de Bonn em 2013, interpreta as "verdadeiras" bagatelas beethovenianas – das quais a mais conhecida é Für Elise.

Finale Beethoven-Competition Shinosuke Inugai
Shinosuke Inugai, vencedor do Concurso de Piano BeethovenFoto: Dan Hannen/Beethovenfest

No "Fim de Semana dos Quartetos", quatro jovens conjuntos compõem um programa com música de 1814 (Congresso de Viena), 1914 (início da Primeira Guerra Mundial) e 2014. E o concerto "Passio – Compassio" investiga os passos de Johann Sebastian Bach e da música dos primeiros cristãos e dos muçulmanos.

Jovens músicos e grandes nomes

O projeto Orchestercampus, desenvolvido em parceria com a DW, entra em seu 14º ano. Encerrando o "Beethoven ile bulusma" (Encontro com Beethoven), que, por três anos, teve a Turquia como foco, a Bilkent Youth Symphony Orchestra, de Ancara, e seu regente Işin Metin estarão em Bonn.

Do programa consta uma nova composição de Tolga Yayalar, jovem compositor de Istambul. Encomendada pela DW, ela será executada pela primeira vez em 23 de setembro, juntamente com a Nona sinfoniade Beethoven.

Como nos anos anteriores, o Beethovenfest 2014 está repleto de "grandes nomes" da música erudita. A abertura de gala do festival, com obras dos românticos alemães Felix Mendelssohn-Bartholdy e Robert Schumann, cabe à London Symphony Orchestra e o maestro John Eliot Gardiner. E a "Serenada de encerramento" é entoada pela Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, sob a batuta de Paavo Järvi e tendo como solista o pianista russo Arkady Volodos.