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PolíticaPolônia

Centro-direita supera populistas no parlamento da Polônia

Jacek Lepiarz
16 de outubro de 2023

Ainda que partido nacionalista PiS siga como maior força política, oposição centrista terá maioria no parlamento polonês. Donald Tusk planeja voltar a chefiar o governo.

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Político polonês Donald Tusk aparece sorrindo, com um microfone na mão. Ele veste camisa clara e terno escuro.
Donald Tusk foi chefe de governo da Polônia de 2007 a 2014 e pretende voltar a exercer o cargoFoto: Kacper Pempel/REUTERS

"Conseguimos, de verdade!", exclamou o líder da oposição de centro-direita da Polônia, Donald Tusk, após o fechamento das urnas na noite de domingo (15/10): "O mau tempo passou, o governo do PiS acabou", declarou.

Logo após a divulgação da boca de urna na Polônia, Tusk, que lidera o partido Plataforma Cívica (PO), estava confiante na vitória: "A democracia e a liberdade venceram. Nós expulsamos [o PiS] do poder." Visivelmente emocionado, acrescentou: "Sou a pessoa mais feliz do mundo!"

A projeção foi confirmada na manhã desta segunda-feira, de acordo com números do instituto de pesquisas Ipsos. Conforme os dados, o Partido Lei e Justiça (PiS), de Jaroslaw Kaczynski, no governo há oito anos, obteve 36,6% dos votos. Com isso, segue sendo a maior força política da Polônia, mas sem maioria absoluta. Quatro anos atrás, o PiS havia conquistado 43,6% dos votos e 235 mandatos.

A coalizão centrista KO, liderada por Tusk, que, além do PO, inclui os verdes e outro partido menor, obteve 31%. Seus potenciais parceiros – a democrata-cristã Terceira Via e a Nova Esquerda – obtiveram 13,5% e 8,6%, respectivamente.

Isso daria aos três partidos, que já haviam feito campanha por um governo conjunto, uma maioria de 248 assentos na câmara baixa do parlamento (Sejm), que tem 460 assentos, tirando o PiS do poder. O resultado oficial deve ser confirmado nos próximos dias.

De acordo com esse cálculo, o PiS teria apenas 198 lugares. Seu único parceiro possível de coalizão, a Confederação da Liberdade e Independência, de ultradireita, obteve 6,4% dos votos e terá 14 assentos. Com um programa econômico liberal e slogans anti-Ucrânia, ele buscava votos mais à direita do espectro: "Sofremos uma derrota. Queríamos virar o jogo, mas não conseguimos", admitiu um de seus principais políticos, Slawomir Mentzen, após fechadas as urnas.

Jaroslaw Kaczynski, que governa a Polônia, aparece ao centro da imagem com vários correligionários, entre homens e mulheres, e com a plateia sacudindo bandeiras da Polônia.
PiS, comandado por Jaroslaw Kaczynski, segue como maior força política, mas perdeu a maioria no parlamentoFoto: Aleksandra Szmigiel/REUTERS

Kaczynski quer seguir governando

Apesar dos números desfavoráveis, Kaczynski não parece pronto para jogar a toalha. Na noite da eleição em Varsóvia, o político de 74 anos se mostrava combativo, descrevendo o resultado da eleição como um "grande sucesso" para seu partido. Foi "a quarta vitória do PiS numa eleição parlamentar", enfatizou o nacionalista de direita.

"Não permitiremos que a Polônia seja traída, que perca o que há de mais precioso na história da nação: o direito de decidir seu próprio destino", disse a seus partidários, acrescentando uma observação que a oposição interpretou como ameaça: "Temos dias de luta e tensão pela frente."

Líder do PO e candidato natural à chefia de governo, Tusk não se intimidou com tais comentários e anunciou para breve as negociações para formar um governo de coalizão "assim que os resultados das eleições forem confirmados".

Aos 66 anos, ele já foi primeiro-ministro de 2007 a 2014, e tem bons motivos para se orgulhar de seus mandatos. O bom resultado eleitoral do PO é, acima de tudo, um sucesso pessoal. Em 2022, tendo retornado de Bruxelas, onde liderou o Partido Popular Europeu (EPP),  ele reorganizou o PO, que estava em profunda crise, e começou uma campanha eleitoral intensa, em que teve que enfrentar a brutal agitação do PiS, que o difamou como  "colaborador alemão" e "teleguiado por Berlim e Bruxelas".

Um eleitor de Donald Tusk celebra o bom resultado nas urnas. Ele veste uma camiseta com a foto do político polonês e também uma peruca vermelha.
Eleitor de Donald Tusk comemora o bom resultado do partido Plataforma Cívica, de centro-direitaFoto: Rafal Oleksiewicz/AP/picture alliance

Bola está com o presidente

Todos os olhos estão agora voltados para o presidente polonês, Andrzej Duda, que deve convocar a primeira sessão do novo parlamento dentro de 30 dias e depois terá duas semanas para designar o político que formará o governo. Este precisa, então, obter a aprovação parlamentar para seu gabinete, dentro de mais 14 dias.

Se ele não obtiver o voto de confiança, a iniciativa passa para o parlamento, que pode eleger um candidato a primeiro-ministro com maioria, num processo que pode se arrastar até o final do ano. Em sua primeira aparição após a eleição, Duda manteve a discrição: "Estamos aguardando calmamente os resultados."

Vários políticos da oposição pediram ao presidente que conceda o mandato para os três partidos oposicionistas governarem juntos. Mas Duda se sente ligado ao PiS, partido que o indicou para a eleição presidencial em 2015, e nos últimos anos tem apoiado abertamente as políticas de Kaczynski. Seu veto pode dificultar a vida do novo governo. A próxima eleição presidencial só se realiza em 2025.

Um futuro governo de coalizão liderado pelo PO deverá enfrentar uma oposição forte. Tusk anunciou durante a campanha que a primeira coisa que pretende fazer é retomar a imprensa de direito público, que o PiS degradou a ferramenta de propaganda governamental. Ele também quer que quem violou o Estado de direito responda pelos próprios atos. Esperam-se intensos conflitos com os populistas conservadores.

Indivíduos em uma fila para votar. Ao lado, uma urna abriga diversos envelopes com votos.
Eleição teve recorde histórico de comparecimento desde a mudança para a democracia, há 34 anosFoto: ALEKSANDRA SZMIGIEL/REUTERS

Reaproximação com União Europeia

Para a oposição, a reorientação no relacionamento com a União Europeia (UE) como uma tarefa importante: "O objetivo do governo será restaurar o Estado de direito para que o dinheiro congelado do fundo de reconstrução da UE possa finalmente chegar à Polônia", frisa Piotr Buras, do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

 "Sob o comando de Tusk, o governo polonês vai se tornar um protagonista construtivo na UE, melhorando as relações com os principais parceiros e restaurando a confiança na postura pró-europeia da Polônia", declarou o cientista político.

"A Polônia está retornando ao caminho europeu", reforçou Rafał Trzaskowski, prefeito de Varsóvia e confidente próximo de Tusk. A eleição despertou grande interesse na Polônia, com um comparecimento de 72,9%, um recorde histórico desde a mudança democrática, há 34 anos. Em junho de 1989, quando os poloneses decidiram abolir o regime comunista, 62,7% dos eleitores aptos a votar foram às urnas.

Do lado de fora de várias seções eleitorais nas grandes cidades, muitos ainda estavam esperando para votar depois da meia-noite. Os moradores locais ofereciam sanduíches, pizza e café. A comissão eleitoral estadual garantiu que qualquer um que estivesse na fila até as 21 horas teria permissão para votar. Algumas seções eleitorais em Cracóvia e Wrocław permaneceram ativas até o início da manhã.

"Foi uma celebração da democracia. O PiS teve que se dar conta de que nem tudo pode ser comprado com dinheiro", comentou o sociólogo Jerzy Flis. Ele destacou a enorme mobilização de jovens eleitores, entre 18 e 29 anos, que contribuíram significativamente para a vitória da oposição.