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Checkpoint Berlim: Para entender o "mau humor" dos nativos

Clarissa Neher24 de junho de 2016

A simpatia não costuma ser listada entre as qualidades dos berlinenses. Mas, com um pouco de paciência, é possível perceber que a típica grosseria esconde um certo humor, como relata Clarissa Neher.

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Berlinenses têm fama de grosseiros
Foto: picture-alliance/Tagesspiegel/K.U. Heinrich

Os berlinenses têm fama de serem mal-humorados e grosseiros. Seriam os parisienses da Alemanha. À primeira vista, parecem sempre irritados e reclamando de tudo. Uma simples pergunta pode desencadear uma reação que, para qualquer pessoa não habituada, soa como ofensa. A resposta vem seca e direta, no dialeto típico da cidade.

Mas essa imagem se desfaz quando se conhece melhor os berlinenses, que no fundo são simpáticos e bem-humorados. Boa parte da má impressão inicial tem a ver com a maneira curta e grossa de eles se comunicarem. As respostas são diretas, sem rodeios. Um "não sei" costuma parar por aí e não vem acompanhado de nenhuma ajuda.

O Berliner Schnauze, dialeto típico da cidade, também não ajuda muito. Para começar, Schnauze, apesar de se referir à boca, pode também significar focinho. Isso já diz muito sobre o grau de requinte desse linguajar.

Uma conversa entre dois berlinenses parece uma briga, mas, com um pouco de atenção, dá para perceber que aquele aparente confronto não passa de um bate-papo acalorado entre amigos. A "grosseria" esconde, na verdade, uma espécie de humor.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Quantas vezes não me deparei com esse humor disfarçado no mercado, na padaria ou bares. Até a resposta de um "bom-dia" soava como um "por que você está me cumprimentando?". Essa reação vinha, no entanto, seguida de um sorriso ou de uma pergunta que desmontavam essa impressão.

Assim fui descobrindo que o berlinense, apesar do "focinho", pode ser muito simpático. No mercadinho da esquina ou na padaria da rua, essa dinâmica salta aos olhos: a caixa do supermercado conhece a maioria dos clientes, pergunta sempre com aquele dialeto seco como vão os filhos, como foi a mudança, a consulta ao médico e parece saber da vida de todos que frequentam o local.

É claro que há berlinenses grosseiros, como em qualquer lugar do mundo. Certa vez, no ônibus, ao tentar sair pela porta da frente – porque estava lotado – o motorista teve um ataque. "Aqui é só para embarcar!", berrou no mais perfeito Berliner Schnauze. Minha prima, que estava a passeio na cidade, levou um susto e achou que tinha cometido um crime da maior gravidade.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.