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Checkpoint Berlim: Proposta indecente

3 de abril de 2017

Suábios oferecem milhões para reconstrução do Palácio de Berlim, mas condição para doação foi considerada uma afronta pelos berlinenses. Antiga rivalidade resulta em perdas para ambos os lados.

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Fundação precisa de doações para cobrir parte de custos da obra no Palácio de Berlim
Fundação precisa de doações para cobrir parte de custos da obra no Palácio de BerlimFoto: picture-alliance/dpa/D.Kalker

Berlim, a cidade que se orgulha por seu multiculturalismo, costuma receber seus novos habitantes de braços abertos. Mas, como para toda regra, neste caso há também uma exceção. A hospitalidade é completamente esquecida se o novo morador vier da região da Suábia, que abrange boa parte do estado alemão de Baden-Württemberg, no sul do país.

A rivalidade entre berlinenses e suábios, principalmente os de Stuttgart, pode ser comparada à existente entre Brasil e Argentina. Em Berlim, o conflito ganhou até um nome: Schwabenhass, ou ódio aos suábios.

Os berlinenses costumavam acusar os suábios, que têm fama de caretas, de estarem acabando com o bairro Prenzlauer Berg, onde muitos que se mudaram para a capital resolveram morar. O conflito ganhou notoriedade em 2012, após um antigo parlamentar reclamar que o pão francês estava sendo vendido neste bairro como Wecken, nome suábio, e não mais como o berlinense Schrippen. Além da polêmica do pão, pichações apareceram no bairro mandando os suábios embora.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Recentemente, essa rivalidade atingiu um novo patamar: no centro da capital, está sendo reconstruído o antigo Palácio de Berlim. Além de recursos federais, a obra seria paga com doações.

Empresários de Baden-Württemberg tiveram a ideia de doar 5 milhões de euros, mas, em contrapartida, pediram que uma das salas do palácio recebesse o nome do estado. Seria como se os argentinos oferecessem esse dinheiro para financiar um museu no Brasil e pedissem que uma das salas fosse chamada de Maradona.

Os brasileiros provavelmente aceitariam a proposta, afinal, dinheiro é dinheiro, porém, virariam o jogo e tirariam sarro dos argentinos, dizendo que eles precisam pagar para que o ídolo deles receba homenagens, diferente do Pelé.

Mas, como os alemães não têm essa habilidade de rir da própria desgraça, a fundação responsável pela obra, mesmo precisando da doação, recusou o dinheiro e disse que só aceitaria se não precisasse homenagear Baden-Württemberg. O governo federal tentou mediar o conflito e fez uma contraproposta aos empresários: chamar uma das salas de Friedrich Schiller, um dos suábios mais famosos. Os doadores, porém, não estavam dispostos a fazer concessões.

E como ninguém estava disposto a ceder, os suábios, que têm fama de pão-duro na Alemanha, puderem economizar esse dinheiro, mas acabaram sem homenagens, e os berlinenses ficaram sem uma importante contribuição.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.