1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Chile lança investigação sobre desaparecidos da ditadura

31 de agosto de 2023

Presidente Gabriel Boric assinou decreto iniciando política sem precedentes de busca sobre o destino das vítimas de desaparecimentos forçados durante regime de Augusto Pinochet.

https://p.dw.com/p/4VnjG
Homem e mulher seguram um boneco de papelão representando um homem em escala natural em meio a uma multidão
Parentes de desaparecidos durante ditadura chilena em passeata para relembrar as vítimas do regime de Augusto PinochetFoto: Martin Bernetti/AFP

O presidente do Chile, Gabriel Boric, assinou nesta quarta-feira (30/08) um decreto que dá início a uma política sem precedentes de busca sobre o destino das vítimas de desaparecimentos forçados durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

"Tenho a convicção de que a democracia é a memória e o futuro, e não pode ser uma sem a outra", disse o mandatário chileno durante uma cerimônia emotiva, rodeado de políticos, ativistas dos direitos humanos e parentes das vítimas.

"Assumimos a responsabilidade como Estado, e não apenas como governo, de remover todas as barreiras para esclarecer as circunstâncias do desaparecimento ou morte das vítimas de desaparecimento forçado", enfatizou.

Política permanente e sistemática

A intenção é que o plano consista em uma "política nacional permanente e sistemática" para esclarecer o destino dos desaparecidos, calculados em 1.469 pessoas, das quais apenas 307 foram encontrados.

Entre os objetivos desta política pública está a "localização, recuperação, identificação e restituição dos restos mortais das vítimas de desaparecimento forçado", todos eles opositores políticos da ditadura ou militantes de esquerda.

"O Estado não respondeu às famílias, nem à sociedade em geral, para dar as respostas que o país precisa, os desaparecidos são desaparecidos para todos nós", sublinhou o chefe de Estado chileno. 

Um dos desafios mais complexos que esta política enfrenta é "reconstruir as trajetórias das vítimas de desaparecimento forçado, incluindo a sua detenção e sequestro até o seu destino final". 

Prestação de contas à sociedade

O processo inclui também a prestação de contas à sociedade chilena sobre o andamento dos processos, assim como a implementação de medidas de reparação e garantias de não repetição da prática de tais crimes. 

"O Estado chileno nunca deu uma explicação ou mostrou deferência às esposas, filhos e filhas, mães e pais, netos e netas dos desaparecidos, enquanto suas famílias procuravam desesperadamente", disse a presidente da Associação de Familiares de Detidos e Desaparecidos (AFDD), Gaby Rivera, em seu discurso. 

A líder da AFDD destacou a "vontade política" do presidente e insistiu no acompanhamento que os grupos de familiares farão para a implementação desse plano.

Até agora, as circunstâncias dos que foram declarados desaparecidos não foram investigadas. Parentes desconfiam que os militares chilenos escondem informações sobre o destino das vítimas e pedem a liberação de arquivos.

Verdade e Justiça

O projeto, oficialmente conhecido como Verdade e Justiça, terá orçamento e pessoal exclusivo, com investigadores encarregados de reconstruir os últimos dias das vítimas.

No início desta semana, o Departamento de Estado dos EUA desclassificou os briefings apresentados a Richard Nixon, o presidente americano na época, em 8 e 11 de setembro (dia do golpe de Estado chileno). Os relatórios mostram como ele foi informado sobre o golpe iminente no Chile, que fez parte da onda de ditaduras militares na região na década de 1970.

Documentos encontrados nos EUA também revelaram o apoio ativo do então governo brasileiro na execução do golpe militar no Chile.

Legado de abusos

Pinochet tomou o poder num golpe de Estado sangrento apoiado pelos EUA em 11 de setembro de 1973 e permaneceu governando até 1990. 

Durante a sua ditadura, cerca de 40.175 pessoas foram executadas, detidas ou desapareceram ou foram torturadas como prisioneiras políticas, segundo o Ministério da Justiça do Chile. Segundo os relatórios governamentais, das 1.469 vítimas de desaparecimentos forçados, 1.092 foram detidas secretamente e 377 foram executadas.

Pinochet morreu em 2006, aos 91 anos, e nunca foi condenado pelos crimes cometidos durante o período que comandou o Chile. Muitos têm pressionado o governo por mais respostas e pela responsabilização dos envolvidos nos crimes da ditadura.

md/cn (EFE, Reuters, AFP)