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China presenteia América Latina

Steffen Leidel (sm)19 de novembro de 2004

Em sua viagem à América Latina, o presidente chinês Hu Jintao prometeu investimentos de bilhões de dólares. Para o Brasil e a Argentina, isso é uma bênção, mas não deixa de implicar risco. Alemães opinam sobre a questão.

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Presidente chinês Hu Jintao e esposa, com Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, no RioFoto: AP

Desde 2001, a Argentina luta contra a pior crise financeira e econômica da sua história. Finalmente, o presidente Néstor Kirchner tem uma boa notícia a dar. A China pretende investir quase 20 bilhões de dólares na Argentina no decorrer da próxima década. Isso foi o que assegurou o presidente chinês, Hu Jintao, na terça-feira (16), em Buenos Aires, para onde viajou após visita ao Brasil.

Recursos para infra-estrutura

Desde o colapso econômico, a Argentina mal conseguiu atrair investidores europeus e americanos. De acordo com o Financial Times, os investimentos diretos na região entre 2001 e 2003 caíram de 70,5 para 30,5 bilhões de dólares. Agora, a China está disposta a investir em telecomunicações e tecnologia de satélites. Os recursos chineses serão destinados em grande parte ao desenvolvimento de infra-estrutura, algo que Buenos Aires não tem condições de fazer no momento.

Em sua passagem anterior pelo Brasil, Hu Jintao também prometeu investir bilhões de dólares na construção de um oleoduto, de usinas de aço e alumínio, portos e ferrovias.

Os interesses da América Latina e da China são convergentes. "A China é fundamental para o Brasil como compradora de matérias-primas e produtos agrícolas", explica Heinz Preusse, professor de Economia da Universidade de Tübingen.

Soja, carne e cobre para a China

Desde 2002, o Brasil duplicou suas exportações de aço para a China, atingindo um volume de 5,8 bilhões de dólares. Além disso, o país asiático também foi o maior comprador de soja do Brasil e da Argentina. "As maiores taxas de crescimento deverão ser registradas futuramente na exportação de carne e frutas frescas", prevê Mauro Toldo, do Deka-Bank. O Chile também lucra com a escassez de matérias-primas na China, exportando para lá grandes quantidades de cobre.

O que mais ajudará os dois países em crise econômica serão os investimentos em infra-estrutura, afirma Toldo. Não faz muito tempo que os exportadores de soja enfrentaram problemas de capacidade de transporte marítimo, lembra.

Os investimentos chineses deverão impedir que coisas do gênero voltem a acontecer. Eles também deverão servir de incentivo para a exploração de reservas naturais no litoral da Patagônia, por exemplo, onde se suspeita a existência de petróleo e gás natural.

Medo dos produtos baratos da China

Fato é que o Brasil e a Argentina já se fizeram merecer os ricos presentes da China, ao reconhecerem o status da república asiática como uma economia de mercado. "Isso, apesar de anteriormente ambos terem apresentado queixa à Organização Mundial de Comércio (OMC) contra os produtos baratos exportados pela China", ressalta Thomas Scharping, especialista em economia chinesa da Universidade de Colônia.

No entanto, o reconhecimento da China como uma economia de mercado dificulta a aceitação de queixas contra a subvenção de diversos setores, como a indústria têxtil e de calçados. É por isso que, no Brasil e na Argentina, há quem advirta de concessões excessivas à China: isso poderia ocasionar uma enchente de produtos baratos chineses no mercado latino-americano.

O empenho da China na América Latina também indica que o país está aceitando cada vez mais sua "integração na economia mundial", comenta Scharping: "Parece que a cúpula em Pequim tomou uma decisão básica e está se permitindo uma maior dependência de importações". Antigamente, a regra era que apenas 5% dos grãos poderiam ser importados de outros países; hoje, esta cota já é de 10%.