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Chipre assume a presidência rotativa da União Europeia

Carlos Albuquerque1 de julho de 2012

Uma pequena ilha com grandes problemas irá comandar a partir de 1° de julho os conselhos ministeriais da União Europeia. Em vários aspectos, Chipre não preenche os requisitos necessários.

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Ausschnitt aus dapd-Bild: Pope Benedict XVI walks with Cyprus' President Dimitris Christofias, left, during a welcoming ceremony at Paphos airport in southwest Cyprus, Friday, June 4, 2010. Pope Benedict is in Cyprus for a three-day official visit. In the background is seen a Cyprus flag. (ddp images/AP Photo/Petros Karadjias).
Zypern übernimmt EU-RatspräsidentschaftFoto: AP

A crise na zona do euro lança suas sombras sobre a presidência do Conselho da União Europeia (UE). Com Chipre, pela primeira vez um país-membro da UE, socorrido por injeções financeiras do bloco, assumirá a presidência do Conselho. Poucos dias antes de ocupar a nova função, Chipre entrou com pedido de resgate financeiro a Bruxelas.

Assim como a Espanha, Chipre possui um problema financeiro específico: seus bancos estão afundados em dívidas. Yannis Emmanouilidis, especialista em Chipre e Grécia no think tank de Bruxelas Centro de Política Europeia, fala de "laços bastante estreitos entre Chipre e Grécia, principalmente no setor bancário".

Através da reestruturação da dívida grega, os bancos cipriotas tiveram de aceitar grandes perdas. Ainda não estão esclarecidos, porém, nem o montante nem as condições da ajuda requerida por Chipre

Dinheiro de Moscou

Nesse contexto, o país já havia recebido há alguns meses apoio de outro lado. Em dezembro, a Rússia concedeu um empréstimo de 2,5 bilhões de euros para Chipre. Por temer uma dependência do país beneficiário frente a tais doadores, a ajuda de terceiros não é particularmente bem vista pela União Europeia. O eurodeputado democrata-cristão cipriota Yannis Kasoulides, no entanto, não vê motivos para esta desconfiança.

Ele perdeu o segundo turno da eleição presidencial para o comunista Dimitris Christofias. No entanto, "embora eu seja um adversário político de Christofias e critique frequentemente sua política, eu não acredito que esse empréstimo foi concedido por alguma coisa em troca."

Por que então a ajuda russa? Emmanouilidis explica isso através dos "laços histórico-culturais mantidos há séculos" e da tradição cristã ortodoxa comum. No entanto, principalmente interesses econômicos estavam em jogo. "Existem investidores russos no Chipre, que também aplicaram seu dinheiro no sistema financeiro cipriota. Assim, há boas razões para que Moscou tenha ajudado o Chipre", disse.

Negociações com a Turquia congeladas

O Chipre é o primeiro país-alvo de um pacote de resgate a assumir a presidência da UE. O bloco europeu também nunca teve na presidência um país cujo chefe de governo é de um partido comunista. Trata-se também do único país-membro da UE com território dividido. Do ponto de vista legal, o Chipre, como um todo, aderiu ao bloco em 2004. Isto só vale, porém, para o sul da ilha, falante de grego. A parte norte foi ocupada por tropas turcas em 1974 e se autodenomina República Turca do Chipre do Norte, que é reconhecida como Estado somente pela Turquia.

Por outro lado, a Turquia não reconhece a República do Chipre. Ancara fechou seus portos e aeroportos aos cipriotas e rejeita uma união alfandegária com o vizinho. Essa política pode afetar a presidência rotativa do Conselho da UE porque o governo turco, que negocia adesão ao bloco europeu, pretende boicotar todos os conselhos ministeriais referentes à Turquia, que o Chipre venha a comandar.

Para Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, trata-se de uma situação intolerável. "Não é possível que um país que pretenda aderir à UE diga que não reconhece outro país que já é membro, negando-se a manter suas atividades enquanto este membro estiver na presidência."

Schulz: apoio da UE

Mas é evidente que a UE não pode forçar a Turquia. O eurodeputado Kasoulides enxerga a situação com calma. "Acho que pode prejudicá-los, mas a decisão pertence a eles." O presidente do Chipre vê um claro perigo de que a situação bloqueie a presidência do Conselho da UE. Durante recente visita a Bruxelas,

Dimitris Christofias prometeu que seu governo está disposto a "continuar o diálogo para a solução do problema do Chipre também durante a presidência do Conselho, sob a condição de que a outra parte o queira".

Cypriot President Dimitris Christofias makes his statement to the media at the presidential palace in Nicosia, Cyprus, Friday, June 1, 2012. The president says he has tasked officials to draw up plans on how the country would deal with Greece's possible exit from the eurozone. Christofias told a news conference that conditions would be "chaotic" if debt-drowned Greece quits the euro and that the impact of such a move would be felt not only by all other countries using the currency, but all of Europe. (Foto:Petros Karadjias/AP/dapd)
Dimitris Christofias Präsident ZypernFoto: AP

E se houver uma escalada dos desdobramentos diplomáticos? "Caso a Turquia desenvolva outras atividades ou adote medidas – o que hoje eu não posso reconhecer – então certamente a UE ficará do lado do Chipre", Schulz assegurou a Christofias. O presidente do Parlamento Europeu alertou, no entanto, para possíveis exageros. "Todos nós temos um grande interesse em conseguir cooperações plausíveis com a Turquia".

Reunificação: meta de longo prazo

Christofias reiterou, em Bruxelas, a meta da tentativa de diálogo com o lado turco. É a reunificação "do nosso país e do nosso povo", disse o presidente cipriota. A última tentativa séria para alcançar esse objetivo foi o plano de Kofi Annan, em 2004, que falhou devido à rejeição da grande maioria da população, que fala grego.

Entre os defensores estava o eurodeputado Yannis Kasoulides. "Eu devo admitir – e você fala com alguém que era entusiasmado com a perspectiva de uma unificação – que estou profundamente decepcionado. E, sob as atuais circunstâncias, eu não posso vislumbrar um acordo a curto prazo."

A razão para tanta rejeição ao plano na época foi o medo de que os turcos não cumprissem suas obrigações. "Se mudássemos a situação, nós o faríamos porque os turcos aceitaram que o problema está resolvido. Então a Turquia retiraria suas forças da ilha e permitiria que o Chipre funcionasse como um Estado independente e soberano."

Mas estes são sonhos para o futuro. Durante a presidência rotativa do Chipre no Conselho da UE, a discussão interna cipriota vai prosseguir muito lentamente, e o silêncio continuará a reinar nas relações entre Chipre e Turquia

Autor: Christoph Hasselbach (ca)
Revisão: Marcio Pessôa