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Cidade fundada por refugiados da 2ª Guerra acolhe sírios

Volker Witting (av)13 de julho de 2016

Com apenas 25 mil habitantes, Espelkamp, no oeste da Alemanha, tem longa experiência em lidar com estrangeiros recém-chegados ao país. Ela foi fundada por fugitivos da Prússia Oriental e Silésia.

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Centro de Espelkamp, na Renânia do Norte-Vestfália, oeste da Alemanha
Centro de Espelkamp, no oeste da AlemanhaFoto: DW/V. Witting

Espelkamp não é exatamente uma metrópole, nem o local mais cosmopolita do mundo. Com apenas 25 mil habitantes, a cidade no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália abriga diversas fábricas de médio porte, principalmente um conhecido produtor de máquinas caça-níqueis.

Ela foi projetada e erguida no prazo de poucos anos como locação para fábricas de munição nazistas, e foi arrasada pelas bombas dos Aliados no fim da Segunda Guerra Mundial. Pouco mais tarde, refugiados da Prússia Oriental e da Silésia (hoje Polônia) ocuparam as barracas destroçadas, fundando a nova Espelkamp.

Seguiram-se os "trabalhadores convidados" do milagre econômico alemão dos anos 70. No início da década de 90, chegaram os russos de origem alemã, retornando à terra de seus pais após a queda do regime soviético.

"Para muitos spätaussiedler [como são chamados esses imigrantes] Espelkamp era mais conhecida do que Berlim", comenta o prefeito Heinrich Vieker.

Continuando a tradição

Fiel a essa tradição multicultural, agora os mais novos residentes vêm da Síria, Afeganistão e Eritreia. "A incerteza e insegurança sobre o próprio status de refugiado é desgastante para muitos", explica o político democrata cristão. "Simplesmente não estávamos preparados para essa imigração em massa. Nós tivemos que improvisar."

Uma antiga escola foi transformada em abrigo, assim como diversos apartamentos desabitados. Com contêineres equipados até mesmo com modernas máquinas de lavar roupa, construíram-se dois assentamentos. "Tentamos alocar os refugiados de forma descentralizada, para que não se formem guetos", frisa Vieker.

Claudia Armuth, do serviço de imigração de menores da cidade, tem trabalhado há décadas com estrangeiros recém-chegados. Ela ressalta que havia mais spätaussiedler nos anos 90 do que os atuais migrantes do Oriente Médio. "Espelkamp não tem mais medo desse tipo de coisa. Estamos bem organizados", afirma.

Saad, imigrante da Síria, em Espelkamp, na Alemanha
Saad, da Síria, se sente em boas mãos, mas quer estudar numa cidade maiorFoto: DW/V. Witting

Em boas mãos

Saad estudava informática em Damasco antes de fugir da guerra civil entre o governo de Bashar al-Assad e rebeldes. Agora, em Espelkamp, ele ajuda outros sírios recém-chegados a aprenderem alemão.

Assim como outros migrantes, esses compatriotas de Saad não podem participar das aulas oficiais de idioma e de integração, pois seus requerimentos de asilo ainda não foram julgados. Sem iniciativas de voluntários ou a ajuda de grupos das Igrejas, as opções deles seriam extremamente limitadas.

Saad se sente em boas mãos nessa cidade construída por refugiados. "A gente de Espelkamp é muito boa para nós", elogia, com um largo sorriso. No entanto, "eu gostaria de viver e estudar numa cidade maior, talvez em Bielefeld", ressalva, referindo-se à localidade de 328 mil habitantes, cerca de 50 quilômetros ao sul.

Heinrich Vieker, prefeito de Espelkamp
Prefeito Heinrich Vieker aposta na sensibilidade dos habitantes para lidar com os problemas da migraçãoFoto: DW/V. Witting

Hospitalidade – com exceções

Apesar da faixa "No Asyl und Pro NPD" (sigla do neonazista Partido Nacional-Democrático da Alemanha) afixada no parapeito de uma ponte, e de alguns moradores hostis terem pichado suásticas nos lares de refugiados, em geral, Espelkamp acolheu com hospitalidade seus novos habitantes.

"Nós mesmos tivemos que fugir, nós vivemos isso. Temos uma sensibilidade especial quando se trata de lidar com a situação dos refugiados", assegura o prefeito.

A maioria dos novos moradores de Espelkamp é muçulmana e encontra apoio espiritual no modesto centro comunitário e mesquita mantidos pela união para assuntos turco-islâmicos Ditib. Cerca de 500 pessoas se reúnem para as preces de sexta-feira no local, fundado em 1977 por imigrantes turcos, e os refugiados são bem-vindos.

Abdalah, de 13 anos, imigrante sírio na Alemanha
Abdalah, de 13 anos, espera poder se reunir aos paisFoto: DW/V. Witting

Soluções para tudo

Um deles é Abdalah Alalouis, de 13 anos de idade. Ele e o irmão vieram de Deir Ezzor, no leste da Síria, e esperam poder um dia se reunir à família. "Eu quero que os meus pais venham para a Alemanha", apela, usando o pouco alemão que já aprendeu. "Meus pais não têm os documentos para entrar no país", lamenta Abdalah, que não quer voltar de jeito nenhum para a guerra em sua terra natal.

Espera, incerteza, tédio. O prefeito Vieker conhece os problemas, mas o que mais lhe preocupa é o fato de muitos dos migrantes não disporem de qualificações profissionais para preencher as poucas vagas de trabalho disponíveis na cidade.

"Simplesmente não temos ofertas de emprego suficientes aqui", diz o prefeito. No entanto, mais do que qualquer outra, a cidade dos refugiados deve superar mais essa dificuldade.