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Transatlântico de junco

Ole Tangen Jr (jl)13 de julho de 2007

Alguns cientistas são capazes de ir longe para provar uma teoria. O botânico e arqueólogo Dominique Görlitz é um deles. Ele está içando velas para cruzar o Atlântico – contra o vento – em uma embarcação de junco.

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O Abora 3, que já está em alto marFoto: DW

Muito antes de Colombo ou até dos vikings, homens da Idade da Pedra já costumavam fazer viagens transatlânticas regularmente em barcos à vela com casco de junco, segundo a teoria do botânico e arqueólogo Dominique Görlitz. Os antigos marinheiros teriam estabelecido rotas comerciais entre as Américas, Europa e África utilizando a corrente marítima do Golfo e os ventos principais. E isso há 14 mil anos.

Para testar sua teoria, o alemão de 40 anos, acompanhado de outros 11 voluntários, iniciou uma jornada de mais de 6 mil quilômetros, içando as velas do Abora 3, uma embarcação de 12,5 metros de comprimento e 3,7 metros de largura, construída apenas com junco e corda. Ele saiu de Nova York dia 11 de julho de 2007 e espera aportar na Espanha dentro de 65 dias.

"Nós subestimamos as habilidades de nossos antepassados", disse Görlitz, que embarcou na aventura que faz parte de sua pesquisa de PhD na universidade de Bonn, na Alemanha. "Se o homo erectus foi capaz de sair da África e se assentar em outros continentes há quase 2 milhões de anos, por que um homem do mar do Período Neolítico seria incapaz de cruzar esse trecho marítimo tão simples?"

Görlitz disse acreditar que a descoberta de vestígios de nicotina e cocaína – substâncias nativas das Américas – nas tumbas egípcias de Ramsés II e Tutancamon, os quais viveram por volta de 1300 a.C., junto com gravuras rupestres encontradas perto de Gibraltar corroboram a hipótese de que o comércio transatlântico começou muito antes de Cristóvão Colombo zarpar em 1492.

BdT Atlantiküberquerung mit Boot aus Schilf
Görlitz zarpou para uma viajem de ida e volta entre Nova York e EspanhaFoto: picture-alliance/dpa

A viagem de volta

Se for bem sucedida, a travessia representará o retorno simbólico de uma expedição do aventureiro norueguês Thor Heyerdahl. Vinte e três anos após sua viagem a bordo do Kon-Tiki em 1947, ele velejou do Marrocos até as Bahamas no barco Ra II, provando que a viagem transatlântica – pelo menos com as correntes de ar favoráveis – era possível.

"Thor Heyerdahl sempre fez viagens só de ida, ele sempre ia de A para B", disse Görlitz. "Nós planejamos fazer a volta, de B para A, como todos os marinheiros teriam feito."

Nomeado a partir de um deus das Ilhas Canárias, o Abora 3 foi construído às margens do Lago Titicaca na Bolívia, por Fermin Limachi, um dos membros da equipe – um índio aymara, cujo pai construía barcos para Heyerdahl. "Tendo crescido ao lado de um grande barco, todos feitos para viagens oceânicas, eu me sinto honrado de ser parte da equipe", disse Limachi. "É minha forma de homenagear meu pai."

Velejando contra o vento

O barco é dispõe de um equipamento desenvolvido por Görlitz durante duas expedições pelo Mar Mediterrâneo, a bordo dos Abora 1 e Abora 2. As novas técnicas permitem que o barco se mantenha no prumo mesmo contra o vento, algo que antes era impensável para as embarcações de junco.

Segundo Görlitz, o Abora 3 foi bem sucedido em testes feitos em Nova York para ver como a embarcação se comportava ao velejar contra o vento.

Vindos da Alemanha, Noruega Bolivia e EUA, a equipe do Abora 3 vai ter que enfrentar os desafios do Atlântico Norte – durante a época de furacões – sem sequer os confortos de um banheiro a bordo. No entanto, equipamentos de tecnologia de ponta como comunicadores e navegadores por satélite, transmissores de emergência e três barcos infláveis com espaço para 12 pessoas, fazem parte da bagagem dos aventureiros.

Schilf-Schiff des Botanikers und Archäologen Dominique Görlitz
Todo feito de junco e corda, o navio construído na Bolívia conta com técnicas modernas para atravessar o oceanoFoto: DW

Uma aventura moderna

Para o norueguês Tormod Granheim, membro da equipe, todas as aventuras são um somatório de adrenalina, perigo e preparação exaustiva. "As pessoas só vêem a aventura, mas nem pensam na quantidade de trabalho em terra firme que envolve uma expedição como esta."

Os membros da equipe do Abora 3 disseram entender que a expedição não prova a existência prévia de comércio transatlântico mas, se for bem sucedida, Görlitz espera que ela possa mostrar que o homem do Neolítico era muito mais avançado do que se pensa hoje em dia.

"Essas aventuras estão tentando contar a história da humanidade que não pode ser explicada somente com a ciência e o DNA", disse Bauge "São necessários muitos estudos botânicos, biológicos e arqueológicos, além de expedições como estas para nos ajudar a entender nosso passado".