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Cinema brasileiro além fronteiras

Soraia Vilela13 de fevereiro de 2003

Diretores brasileiros debatem em Berlim os rumos da cinematografia do país.

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Cena de "O Homem do Ano", de José Henrique FonsecaFoto: Internationale Filmfestspiele Berlin

Tarcísio Vidigal, diretor do Grupo Novo de Cinema e TV e responsável pela comercialização dos filmes brasileiros na Berlinale, anunciou durante um debate organizado pela Embaixada do Brasil em Berlim, que 22 longas brasileiros serão exibidos na capital alemã em meados deste ano. Um dos bons resultados obtidos, apesar da escassa presença brasileira no festival. Com dois curtas e três longas, a cinematografia do país manteve uma pálida posição no labirinto de opções oferecido pelo primeiro festival "classe A" de 2003.

Se o Oriente Médio ou o Sudeste Asiático conseguiram atrair maior espaço nas mostras e maior atenção da mídia alemã, isso não se dá em função de qualquer deficiência no número de ofertas brasileiras. "Aqui na Europa, somos uma cinematografia periférica", observa Paulo de Carvalho, diretor de uma mostra de filmes latino-americanos em Tübingen. Se Berlim não abriu tanto suas portas como o esperado, "em outros festivais deste ano, como Sundance e Roterdã, o Brasil esteve bem representado", completa Carvalho.

Recepção –

Quando conseguem chegar ao público, os filmes brasileiros são, via de regra, bem recebidos. As sessões de Amarelo Manga, de Cláudio Assis, e O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, tiveram salas de exibição cheias. "Como o público europeu tem acesso a cinematografias de todo o mundo, há uma certa facilidade em assimilar a brasileira", acredita o gaúcho Renato Falcão, diretor de A Festa de Margarete, um dos filmes mostrados em Berlim na mostra do Mercado de Filmes, aberta a distribuidores.

A mineira Patrícia Moran, que concorreu ao Urso de Ouro com seu curta Pano Seqüência, acredita que hoje "há espaço para tudo, desde o experimental até o mais oficial". O importante, na opinião da cineasta, é continuar produzindo, não importando se low budget ou com gordos orçamentos. O papel da divulgação e distribuição, no entanto, é apontado pelos cineastas como um dos pontos críticos para o futuro do cinema brasileiro. "Hoje, é por causa de lobby que se vende. Não sejamos ingênuos de pensar que, se a gente fizer filmes, vão ser simplesmente comercializados. Não vão", denuncia Cláudio Assis, diretor de Amarelo Manga, exibido no Fórum do Jovem Cinema. "Se o Brasil não forçar a barra para se criar uma onda brasileira no cinema mundial, nada vai acontecer", alerta Falcão.

Novos eixos -

Outra mudança em curso apontada pelos diretores presentes em Berlim é a lenta, porém corrente, expansão do pólo cinematográfico brasileiro para além das fronteiras do eixo Rio—São Paulo. "A produção tem aumentado, e o cinema tem mostrado a cara do Brasil longe dali", comenta Falcão. O diretor João Batista de Andrade, que mostra em Berlim seu Rua Seis, Sem Número (também no Fórum), espera que seja possível "quebrar a necessidade de ter que migrar para fazer cinema". Se a expansão dos núcleos de produção está em curso, ainda há muito a ser feito. "Está mudando, mas ainda vai ter que mudar muito mais", finaliza Assis.

Triste é perceber que a temática preferida dos organizadores de grandes festivais, quando se trata de Brasil, está quase sempre atrelada à violência urbana. Um selo que mesmo os europeus mais interessados pela produção tupiniquim não conseguem deixar de lado.