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Cinema grego enfrenta dificuldades para superar a crise

15 de dezembro de 2012

Quando se fala hoje em Grécia, o assunto predominante é a crise financeira. No atual contexto, os cineastas do país lutam por seus filmes. A cooperação com parceiros europeus é uma das saídas para enfrentar os problemas.

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Foto: Griechische Filmtage Nürnberg

Muitos frequentadores assíduos das salas de cinema não saberiam dizer como anda o cinema grego hoje em dia. Apesar da crise que assola a Grécia, alguns bons diretores continuam, contudo, suas atividades.

No 3° Festival de Cinema Grego em Nurembergue, foram recentemente exibidas várias produções do país. Um dos cineastas gregos ativos no momento é, por exemplo, Panos Karkanevatos, diretor e produtor de filmes de ficção e documentários, entre eles Athanasia (2008), a história de um amor proibido numa isolada ilha do Mar Egeu.

Weihnachtstango
Cena de 'Tango de Natal', do diretor Nikos KoutelidakisFoto: Griechische Filmtage Nürnberg

Cooperação com parceiros europeus

"O número de frequentadores das salas de cinema na Grécia diminuiu dramaticamente", reclama Karkanevatos. Muita gente, por razões financeiras, opta por ficar em casa em frente à TV, em vez de se deslocar ao cinema ou ao teatro.

As condições de produção no país também pioraram sensivelmente, com sérios cortes em patrocínios culturais. "Quando o dinheiro diminui, a arte é o primeiro setor a sentir as medidas de economia", diz Karkanevatos. A única chance para a garantia de um futuro do cinema grego é, segundo o diretor, o estabelecimento de coproduções e uma estreita cooperação com parceiros europeus.

Séries turcas: mais baratas

Até mesmo as produções para a televisão estão sofrendo com as medidas de austeridade, conta o cineasta Nikos Koutelidakis, que exibiu recentemente em Nurembergue seu longa de ficção Tango de Natal (2011). As emissoras de televisão estão interessadas acima de tudo nos índices de audiência, dando pouca importância à qualidade da programação e a noticiários baseados em pesquisas mais profundas.

Em diversos canais privados de TV, as séries gregas foram sendo substituídas por turcas, que são mais baratas. "As emissoras públicas continuam, como antes, transmitindo produções de qualidade – mas não gregas e sim em inglês", constata Koutelidakis.

Nikos Koutelidakis
O diretor grego Nikos KoutelidakisFoto: Thomas Senne

Outra crítica do diretor volta-se contra os desacertos da política de programação do Centro de Cinema Grego, que serve de apoio aos distribuidores de cinema no país. A organização acabou, nos últimos anos, voltando-se em excesso para as próprias demandas, ignorando assim as necessidades do público.

Hoje, segundo Koutelidakis, os problemas foram reconhecidos e estão sendo tomadas medidas para mudar as estruturas antigas e emperradas. "O leque de ofertas de filmes gregos tornou-se bem mais diversificado que antigamente", confirma também Irini Pappa, diretora do Festival em Nurembergue.

Migração e crise financeira

Alguns films gregos recentes criticam abertamente a situação atual do país, como é o caso, por exemplo, de Welcome to all saints (2011), do diretor Sotiris Goritsas – um acerto de contas com o sistema grego de saúde. O filme acompanha um ortopedista que acaba de assumir um posto num hospital público.

Em breve, o protagonista descobre que médicos, enfermeiros e até os pacientes comportam-se de maneira absurda no dia a dia da instituição. Sua conclusão: o sistema de saúde não está a serviço dos enfermos, mas é uma espécie de organização monstruosa, à qual todos se submetem. "Quero mostrar em meus filmes a atualidade e a realidade gregas", explica Goritsas.

Sotiris Goritsas
Sotiris Goritsas: realidade do país nas telasFoto: Thomas Senne

O mesmo acontece com outros diretores no país, que se voltam cada vez mais em suas obras para os efeitos da crise financeira, inclusive para a evasão de mão de obra jovem e qualificada. Até mesmo a televisão grega já tratou deste assunto, embora de maneira "consideravelmente superficial", avalia Goritsas.

Merkel: mentora de medidas disciplinares para a Grécia?

Para os gregos, os alemães exercem um papel "tragicômico", comenta Antonis Angelopoulos. O diretor, que em seu mais recente filme Ilha 2 narra a saga dos moradores de uma ilha em busca de um tesouro perdido, tem uma opinião clara sobre o assunto: "A política alemã para a Grécia é comparável ao comportamento de um professor frente a alunos ruins".

Em vez de incentivar os alunos a desenvolverem suas capacidades, eles só são punidos. A crise financeira e os alemães como mentores europeus de medidas disciplinares são, para Angelopoulos, um fonte interessante de material para futuras produções cinematográficas, possivelmente de teor cômico-satírico.

Autor: Thomas Senne (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque