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Com centenas de milhões viajando, Ano Novo põe transporte na China à prova

6 de fevereiro de 2013

Estado se esforça para lidar com maior fenômeno de migração do mundo e põe milhões de ônibus e milhares de trens para circular. Muitos chineses, no entanto, não conseguem aproveitar maior feriado do ano devido ao caos.

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Foto: picture-alliance/dpa

Cansado das frequentes complicações, o estudante Ye Tao, de 21 anos, decidiu mudar radicalmente neste Ano Novo chinês. Em vez de enfrentar, como nos anos anteriores, ônibus e trens lotados, ele optou por percorrer de bicicleta os 600 quilômetros que separam Guangzhou, onde estuda, de Zhanjiang, sua cidade natal.

Foram necessários cinco dias para fazer o percurso, mas ele não se arrependeu. Os trens nesta época do ano, conta, estão insuportavelmente cheios, e para coisas simples, como usar o banheiro, é preciso ficar horas na fila.

A maior migração em massa do mundo está em andamento. E se para a maioria na China a chamada Festa da Primavera – ou Ano Novo – é uma oportunidade de viajar para ver parentes e amigos, para o sistema de transporte público e seus funcionários, o feriado é um pesadelo.

Passagens se esgotam

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Tumulto em aeroporto na China: espera-se mais de 10 mil aviões em serviço para atender à demandaFoto: picture alliance / dpa

Entre 26 de janeiro e 7 de março espera-se que 3,4 bilhões de viagens sejam feitas – incluindo os diversos trechos percorridos por uma única pessoa. O dia 9 de fevereiro, Ano Novo no calendário chinês, é tido como o dia mais complicado. É tradição que famílias inteiras saiam dos mais afastados cantos do país – às vezes do exterior – para jantar e queimar fogos de artifício ao lado de parentes para marcar a virada de ano – desta vez, o Ano da Cobra.

São três as principais fontes desse gigantesco fluxo humano. Os cerca de 236 milhões de trabalhadores que deixaram suas cidades natais em busca de trabalho e melhores condições de vida no próspero Leste do país; os estudantes que, como Ye Tao, querem estar com os parentes para o mais importante evento familiar do ano; e os milhões de turistas, a maioria pertencente à nova e crescente classe média chinesa, que tem duas semanas de folga neste período do ano e usa o tempo para viajar.

Segundo o governo, serão 2,6 milhões de ônibus de viagem – com um total de 78 milhões de assentos –, além de 5.300 trens de longa distância e 10 mil aviões diariamente em serviço. Os esforços para elevar a capacidade do transporte público são igualmente colossais, mas não suficientes.

Apesar de ficarem horas na fila, milhões de trabalhadores migrantes acabam sem passagem, que se esgotam em questão de minutos. Vendas on-line são raras, porque os sistemas costumam colapsar com a alta demanda. A saída às vezes está no mercado negro, embora o risco seja alto em caso de flagrante.

Fenômeno recente

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O governo colocou milhares de trem em circulação para tentar evitar caos durante o feriadoFoto: AFP/GettyImages

Essa verdadeira tsunami de chineses ansiosos por viajar é um fenômeno recente. Há 30 anos, o termo "tráfego de Ano Novo" não existia. O conceito só apareceu pela primeira vez em 1986, quando começaram as críticas ao tratamento dado aos trabalhadores migrantes. Eles não eram autorizados a ter residência nas grandes cidades onde trabalhavam e tinham que deixar para trás as famílias, inclusive crianças, lembra o professor de economia Zhao Jian, da Universidade Jiaotong, em Pequim.

"Se não podemos resolver o problema de que centenas de milhões de chineses precisam viajar para casa no Ano Novo, nosso sistema de transporte ficará extremamente sobrecarregado. O problema é urbanização", afirma.

A urbanização progride também de forma veloz na China, mas não o suficiente para mudar a a situação a curto prazo. No ano que vem, o Ano do Cavalo, Ye Tao pode ter que novamente pegar sua bicicleta e pedalar 600 quilômetros para visitar a família.

Autor: Hao Gui (rr)
Revisão: Francis França