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Com imagem arranhada, Obama faz primeira visita a Berlim como presidente

18 de junho de 2013

Em sua primeira visita a Berlim em 2008, o então candidato democrata Barack Obama foi recebido como rei. Ao visitar a capital alemã pela primeira vez como presidente, ele deverá ver que não há mais tanta euforia no país.

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Foto: Getty Images

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega nesta terça-feira (18/06) a Berlim para uma visita de dois dias que será marcada principalmente pelo discurso que ele deverá fazer na quarta-feira diante do Portão de Brandemburgo, um dos principais símbolos da capital alemã.

Parece ter acabado a euforia com que Obama foi recebido em 2008, quando ainda era candidato democrata à presidência dos EUA e pronunciou um discurso sobre seu programa de política externa diante de 200 mil pessoas na Coluna da Vitória, outro local emblemático de Berlim. A imagem de Obama, antigamente ligada a expectativas e esperança, agora está arranhada com escândalos como o da Agência Nacional de Segurança (NSA), que teria coletado dados de cidadãos norte-americanos e estrangeiros. Na bagagem, Obama trouxe argumentos para dissipar o medo dos alemães de terem tido seus dados recolhidos, secretamente, pelos EUA.

Na terça-feira, por exemplo, ativistas de internet protestaram diante do Checkpoint Charlie, local de passagem de tropas americanas no antigo Muro de Berlim, que dividia a capital alemã em dois lados, o capitalista e o comunista da ex-República Democrática da Alemanha. Membros da associação Sociedade Digital e outros grupos criticaram Obama por violar os direitos fundamentais com a vigilância de dados.

Ascensão e queda na imprensa

Três matérias de capa da revista alemã Der Spiegel – um dos principais semanários do país – mostram como as percepções dos alemães sobre o presidente norte-americano se transformaram com o passar dos anos. Em 2008, logo após o ex-senador do Estado de Illinois ser escolhido para a Casa Branca, a revista descrevia Obama como o "presidente do mundo".

Pouco menos de quatro anos mais tarde, a capa da Der Spiegel estampava os dizeres "Presidência Fracassada" e especulava que Obama não seria reeleito.

Agora, a edição mais recente do semanário alemão – publicada uma semana antes da primeira visita de Obama à Alemanha como presidente dos EUA – traz na capa uma imagem do presidente sobreposta à figura do antigo presidente norte-americano John. F. Kennedy, com o título "O amigo perdido".

O artigo afirma que os alemães não precisam ou não desejam mais ter um presidente norte-americano como exemplo heroico. A comparação entre os dois presidentes feita pela revista deixa Obama em desvantagem em relação a Kennedy.

"Depois de quatro anos e meio no poder, não há a perspectiva de um final feliz", diz o texto. "Assim como Kennedy nunca esteve realmente próximo de completar a reconstrução de seu país, Obama acabou sendo uma decepção – e agora que ele aparenta ser ainda mais 'linha dura' em relação às questões de segurança nacional, acabou deixando os seus apoiadores muito incomodados."

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As comparações de Obama com Kennedy e Reagan serão inevitáveisFoto: picture-alliance/dpa

Em 2008, quando Obama fez seu discurso como candidato à presidência em frente à Coluna da Vitória em Berlim, ele foi recebido como um salvador que acabaria com a detestada guerra no Iraque e a conduta de imposição de poder de seu antecessor, o republicano conservador George W. Bush. Há certo descontentamento na mídia alemã, não apenas com o que Obama fez, mas também com o que ele deixou de fazer. O escândalo envolvendo a NSA é apenas um exemplo.

Porém, o mundo passou por diversas transformações desde que Obama assumiu a presidência dos EUA. A crise financeira deixou claro que os temas mais importantes são de fato globais. As relações entre os países – e até mesmo entre países e continentes – passaram a ser vistas sob uma nova perspectiva. 

"A Europa, ou o Velho Continente, não depende mais de um herói brilhante dos EUA, muito menos de um salvador. Os EUA não podem mais desempenhar esse papel, mesmo se quisessem", diz o texto da Der Spiegel.

Barack Obama an der Siegessäule in Berlin 2008
Barack Obama discursa em frente à Coluna da Vitória em Berlim, em 2008Foto: picture-alliance/dpa

Fim da euforia

Por outro lado, Obama deverá discursar diante de um público fascinado diante do Portão de Brandemburgo, onde são esperadas seis mil pessoas. 90% dos alemães teriam votado em Obama na eleição do ano passado, se pudessem. Mesmo assim, a euforia entre os fãs do presidente dos EUA em Berlim abrandou.

"Talvez isso ocorra por causa dele mesmo, ou quem por causa dos políticos em geral. Mas de alguma forma aquela aura especial acabou", afirma Hagen, promotor de eventos de 38 anos de idade. Sobre o escândalo da NSA, ele diz que "sempre houve a suspeita de que algo desse tipo poderia ocorrer, mas ainda assim é um choque quando um fato desses se torna público".

O fracasso do presidente em fechar a prisão militar de Guantánamo, em Cuba – promessa de campanha de Obama – é outro assunto que revolta os alemães.

Mas, para muitos alemães, o presidente cumpriu as principais promessas que fez ao retirar as tropas americanas do Iraque. Ao menos superficialmente, Obama também adotou uma política externa mais aberta e global. Temas espinhosos da política interna dos EUA, como a reforma do sistema de saúde ou a dívida pública do país não têm muito peso a milhares de quilômetros da Casa Branca.

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A popularidade de Obama na Alemanha ainda é bastante alta, ultrapassando os 50%Foto: DW/N. Fischer/Stiftung Haus der Geschichte

Pragmático, porém respeitador

Em 2008, Obama queria que seu comício fosse realizado em frente ao Portão de Brandemburgo, mas a chanceler federal Angela Merkel resistiu alegando que o local era reservado apenas aos chefes de Estado. Agora, Obama terá a chance de discursar no mesmo local  ele finalmente tem a chance de discursar no mesmo local onde, em 1987, o ex-presidente Ronald Reagan realizou seu pronunciamento histórico, pedindo ao então premiê soviético Mikhail Gorbatchov que derrubasse o muro de Berlim.

Ao contrário de muitos de seus conterrâneos, a chanceler alemã sempre aparentou certo ceticismo em relação ao carisma de Obama. "Desde o princípio, Merkel evitou se impressionar com a chamada 'Obamania'", explicou Johannes Thimm, especialista do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança, em entrevista à DW. "Com o tempo, a chanceler e o presidente estabeleceram um relacionamento de trabalho pragmático, porém de respeito. Ambos sabem que precisam um do outro. Obama é menos guiado por sentimentos pessoais com os demais líderes internacionais do que o seu predecessor, George W. Bush, e mostrou que considera a chanceler alemã uma importante aliada, ao condecorá-la em 2011 com a medalha presidencial da liberdade", explicou Thimm.

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Angela Merkel e Barack Obama têm um relacionamento sóbrio, mas respeitosoFoto: Reuters

Ainda não se sabe sobre o que os dois líderes vão falar. "Certamente o caso da NSA será abordado, já que Merkel está em plena campanha eleitoral e de olho nas legislativas de setembro na Alemanha. Por isso, ela não pode ignorar a indignação da opinião pública alemã sobre o assunto. Mas o foco da reunião provavelmente será sobre temas como a crise financeira na Europa e o acordo de livre comércio planejado entre a UE e os EUA, além do conflito na Síria", avalia Thimm.

O discurso de Obama em frente ao Portão de Brandemburgo deverá também tratar de temas mais amplos e menos específicos – e as comparações com Kennedy e Reagan serão inevitáveis. Não seria demais imaginar que o presidente, famoso por ser um brilhante orador, terá seu momento Ich bin ein Berliner – quando o presidente Kennedy declarou em alemão ser um berlinense.

Segundo observadores, a euforia pode ter esfriado em torno de Obama – mas, quanto mais durar o mandato do presidente norte-americano, mais o foco da opinião pública deverá se voltar para a herança política e não ao seu potencial político.

Autor: Jefferson Chase (rc)