Heavy metal

Imagine um lugar onde as vacas pastam calmamente, os baixos rugem e as guitarras elétricas choram. Pareceu contraditório? Desde 1990, essa situação faz parte da rotina de Wacken, quando, por alguns dias, o vilarejo no norte da Alemanha se transforma no ponto de encontro mundial dos metaleiros.

Desde a última quinta-feira (05/08) até este sábado, 75 mil fãs de metal adotam Wacken como seu lar em função da 21ª edição do Wacken Open Air, W:O:A.

As características dos participantes do festival são fáceis de reconhecer: cabeludos vestidos de preto que sacodem a cabeleira ao som de acordes agressivos e vocais gritantes. Em uma das mãos, um copo de cerveja. Na outra, só os dedos mínimo e indicador ficam erguidos para o alto, simbolizando o "garfo" (ou sinal do demônio). Mas os 1.850 habitantes de Wacken afirmam que, na prática, a história é bem diferente.

Durante 11 meses, a população local vive num clima pacato e introspectivo. Nas horas de lazer, participam de clubes de caça e tiro ou de uma associação de agricultoras. A música que eles escutam se resume ao coral da igreja, à banda de voluntários dos bombeiros e a uma associação de canto coral.

Mas, em agosto, o cenário se transforma. Dezenas de milhares de amantes de heavy metal lotam o pequeno vilarejo, acampando em currais desativados. Ônibus de turismo trazem fãs de longe para a área a céu aberto, que fica a cerca de 50 minutos de Hamburgo.

A atração transforma Wacken em um dos principais pontos da costa alemã do Mar do Norte por três dias. Mais de 100 bandas – que alcançam um volume de mais de 120 decibéis – dividem-se em quatro palcos. Astros como Alice Cooper, Iron Maiden, Slayer e Mötley Crüe são presenças confirmadas.

Pausa para as compras

Durante o evento, os fãs não dedicam seu tempo apenas no "mosh", espécie de dança dos metaleiros (movimento com a cabeça ao ritmo da música) ou tocando as guitarras invisíveis. Eles ficam pacientemente na fila para comprar uma lembrança do festival: "Minha namorada disse que devo trazer algo para ela".

Na espera, eles discutem sobre a qualidade do tecido das camisetas do W:O:A. "Eu nunca dei bola para o material da camiseta. Eu compro, visto e era isso", afirmou um deles. Outra dúvida é se elas são realmente usáveis: "Para mim, elas são muito vulgares…" Outros trocam receitas para o churrasco da noite.

Os papos começam assim. Muitos jogam conversa fora: "Achei o pessoal que está acampando ao nosso lado muito legal. Eles acertaram um despertador extra para estarem na hora certa para a abertura".

Nesse meio-tempo, muitos se encontram nas performances da banda dos bombeiros, que todos os anos abre o festival com um espetáculo à parte: músicas tradicionais de biergarten. As canções animam até os metaleiros mais freaks a cantar junto.

Autora: Julia Dócolas

Revisão: Roselaine Wandscheer