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Começa o festival CineLatino

Maristel Alves dos Santos20 de abril de 2005

Nesta semana, Tübingen sedia o maior festival de cinema latino-americano da Alemanha. A DW-WORLD falou com o responsável pelo projeto, o brasileiro Paulo Roberto de Carvalho, sobre as dificuldades e os méritos do evento.

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Cena do filme brasileiro 'O Homem que Copiava', em cartaz no festivalFoto: CineLatino

Tübingen é uma pequena cidade no sul da Alemanha, a 40 quilômetros de Stuttgart. Antiga, tranqüila e acolhedora, Tübingen tem uma universidade com mais de 500 anos, ruelas pitorescas e uma atmosfera idílica que fascina turistas.

Porém, de 20 a 27 de abril, a cidade oferece uma outra atração que tem dado o que falar e o que "assistir". Uma vez ao ano, a pacata Tübingen torna-se a capital do cinema latino-americano. Já há mais de uma década, a cidade é a sede do festival CineLatino.

O evento, que começou modesto e despretensioso, chegou à sua 12ª edição como o maior do gênero na Alemanha e ultrapassando as fronteiras de Tübingen. Até 1º de maio, a programação também será mostrada paralelamente em Stuttgart, Heidelberg, Frankfurt e Freiburg.

O CineLatino recebeu, em 2004, um público de 15 mil pessoas e, este ano, acontece em conjunto com o festival CineEspañol. O evento em dose dupla estréia com Crimen ferpecto e com a presença de seu diretor, o espanhol Álex de la Iglesia.

Além de filmes, será oferecido um programa de palestras e conferências sobre a situação política, econômica e social na Argentina, país de destaque este ano no festival.

Madame Satã
'Madame Satã' será apresentado no festivalFoto: CineLatino

Por trás dessa história de sucesso, encontra-se o idealizador e organizador do evento, Paulo Roberto de Carvalho. Produtor e consultor internacional de cinema, Paulo mora há 17 anos na Alemanha, mas seu interesse pelo cinema surgiu ainda no Brasil.

Nascido em Barretos (SP), Paulo estudou oceonografia e, na década de 80, após concluir o curso, trabalhou como livreiro na capital paulista. Aos finais de semana, apresentava obras especializadas de cinema e teatro em um cineclube da cidade. Ali, passou a conhecer e integrar a cena brasileira de cinema.

Em 1988, Paulo veio à Alemanha com uma bolsa de estudos para profissionais do setor literário. Ele veio com a intenção de permanecer um ano no país, mas mora em Tübingen até hoje com a esposa e a filha.

Em meio à correria da véspera de abertura do festival, Paulo Roberto de Carvalho arrumou um tempo para falar à DW-WORLD sobre seu trabalho.

DW-WORLD: No ano passado, seu festival teve um público de 15 mil pessoas. Por que o cinema latino-americano atrai tanto o público alemão?

Paulo Roberto de Carvalho: O trabalho que estamos fazendo ao longo destes 12 anos de divulgação do cinema latino-americano na Alemanha começa a surtir efeito. Por outro lado, os filmes latino-americanos, nos últimos anos, têm tido uma presença importante nos festivais internacionais e atraído a atenção das distribuidoras alemãs.

Plakat CineLatino 2005
O cartaz do evento


Cineastas alemães como Rainer Simon e Markus Vetter também têm grande interesse na América Latina. O que você acha deste intercâmbio cinematográfico?

No ano passado e neste, percebemos que muitos diretores alemães estão filmando na América Latina, basicamente documentários. Na sua maioria, são produções alemãs e não co-produções. Durante o último Festival de Berlim, foi assinado um acordo de co-produção entre Brasil e Alemanha. Esperamos que seja rapidamente ratificado nos dois países e que traga bons frutos na área cinematográfica.

Este ano, o Festival de Cinema Espanhol uniu-se ao CineLatino. Qual foi o motivo desse casamento? E o que você espera dele?

Nos últimos anos, já vínhamos apresentando produções espanholas e também co-produções entre Espanha e diversos países latino-americanos. Devido a motivos financeiros e à dificuldade de encontrar datas favoráveis, decidimos juntar os dois festivais. Uma grande parte do público se interessa por estes filmes e, nestes anos, montamos uma estrutura de divulgação do CineLatino que funciona muito bem e que pode ser utilizada da mesma forma para o CineEspañol.

Como surgiu a idéia do CineLatino?

O CineLatino é na realidade um desenvolvimento do CineBrasil, que começamos a organizar em Tübingen através da Sociedade Cultural Brasil-Alemanha (SCBA). Maria Luiza Fontenelle, na época responsável pela programação da SCBA, me convidou para organizar a Mostra de Filmes Brasileiros, pois, na época, eu já integrava o Festival de Cinema Francês de Tübingen.

Quais foram as maiores dificuldades encontradas para realizar essas 12 edições do CineLatino?

A maior dificuldade consistiu em manter a continuidade do festival e apresentar um programa de qualidade, com filmes atuais, diversificado, além de ter a cada ano convidados, tudo isso com um orçamento relativamente pequeno.

O cinema latino-americano tem caído nas graças de Hollywood. Você tem receio de que o cinema latino possa se comercializar?

Hollywood tem sempre um espaço para as produções latinas, pois tem uma comunidade latina muito grande. Tem atraído também alguns diretores latino-americanos para filmar nos Estados Unidos. Mas eu vejo o cinema latino-americano com uma linha autoral muito forte, independente, que não tem espaço no esquema de Hollywood.

O Homem que Copiava
Cena de 'O Homem que Copiava'Foto: CineLatino


No Brasil, a emissora Globo está investindo também em filmes. Você acha que isso é motivo de alegria ou de lástima para o cinema brasileiro?

Existem alguns bons exemplos de colaboração da televisão com o cinema, como na Alemanha, onde a televisão ajudou a desenvolver o Novo Cinema Alemão nos anos 70, ou a Chanel Four, na Inglaterra.

No Brasil, a TV Globo utiliza, de forma agressiva, a sua penetração maciça na sociedade brasileira e, através das grandes produções com estrelas globais, atinge milhões de espectadores, coisa que produções independentes não conseguem. Mas este esquema funciona somente dentro do mercado brasileiro. Em nível internacional, tanto nos mercados quanto em festivais, este tipo de produção não funciona.

Na sua opinião, quais são os caminhos para incentivar o cinema latino-americano?

Um dos caminhos mais interessantes seria através de co-produções, com a participação de produtoras ou instituições que apóiem o cinema do Sul. Ou a criação de prêmios em festivais que favoreçam uma maior presença de filmes latinos nos mercados.

Neste ano, o destaque no festival é a Argentina, país que tem se sobressaído pela sua produção cinematográfica. Como foi que o cinema argentino conseguiu sobreviver e driblar a crise econômica e política vivida no país?

A Argentina é realmente um caso à parte. Existe uma quantidade enorme de jovens cineastas egressos das escolas de cinema, que filmam com um orçamento baixíssimo. Eles conseguem financiar seus filmes através do apoio do Instituto de Cine, de fundações internacionais e, principalmente, lançando mão de co-produções, na sua maioria com a França.

O Homem que Copiava
Cena de 'O Homem que Copiava'Foto: CineLatino

Você, além de organizador do CineLatino, também é produtor e consultor em outros festivais. Conte um pouco sobre essas atividades.

Tenho trabalhado como consultor para alguns festivais internacionais como Locarno na Suíça, Infinity Festival na Itália, para o Festival de Mannheim-Heidelberg, além de participado de diversos encontros de co-produção organizados por vários festivais. Estes trabalhos geram um efeito sinergético e ajudam diretamente na seleção de filmes para o CineLatino.


Como produtor tenho uma sócia, Gudula Meinzolt (MilColores Media), com quem divido o trabalho e que também está presente em vários dos festivais acima citados.


O CineLatino cresceu e incrementou-se ao longo dos anos. Existem ainda planos de expansão do festival nos próximos anos?

A nossa idéia é investir no CineLatino/CineEspañol, trabalhar mais o conteúdo, isto é, desenvolver projetos em conjunto com a Universidade de Tübingen e com as cidades com que trabalhamos.

No momento, não pretendemos aumentar o número de filmes e nem o número de cidades participantes. Mas, às vezes, temos que mudar nossos planos quando recebemos propostas interessantes, como foi o caso do CineEspañol.