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Como os alemães aprendem sobre o nazismo

Gabriela Soutello16 de setembro de 2015

Na escola, eles têm o primeiro contato com o tema do nazismo entre 13 e 15 anos. Mas quem cresce na Alemanha presencia a história do Terceiro Reich nas ruas, no turismo e nas memórias de família.

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Museu Casa da História, em Bonn, conta a trajetória da Alemanha de 1945 até os dias de hojeFoto: Haus der Geschichte/A. Thünker

"Tudo bem se você não colocar o meu nome?", pede o professor de história entrevistado pela DW Brasil. A preferência pelo anonimato não é um traço do estereótipo "desconfiado" alemão: ainda é preciso cuidado com as palavras em conversas sobre o nazismo no país. O professor justifica: não quer associar o que diz à escola onde leciona. "É somente a minha opinião", diz.

"Os alemães que realmente entenderam o que aconteceu na história ainda têm vergonha", afirma ele. A história a que ele se refere é o Terceiro Reich, período entre 1933 e 1945, quando Adolf Hitler instaurou o governo Nacional Socialista totalitário na Alemanha e foi responsável pelo massacre de milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.

"Os jovens costumam se interessar pelo tema", diz o professor, que dá aulas para alunos da Weiterführende Schule – que no Brasil corresponde ao período entre o 6º e 9º ano do Ensino Fundamental. "Uma pergunta que eles sempre me fazem é: 'se você tivesse vivido na época, teria feito parte daquilo?'. Eu sinceramente não sei o que faria naquele contexto, tendo um professor nazista me ensinando como eu deveria me portar."

Peter Hoffmann der Pressereferent von Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland
Hoffmann: preservar a história para não repeti-laFoto: Martin Magunia

A percepção sobre o mal causado pelo nazismo só veio muito depois, explica o professor. Ele conta que ouvia histórias de seus pais, que eram crianças na época, sobre a recepção ao ditador quando ele visitava a cidade. "Havia uma atmosfera de euforia sempre que Hitler aparecia. Foi um fenômeno de massa."

O primeiro contato

Estudar esse fenômeno faz parte do programa de todas as escolas no país. Os alemães começam a aprender sobre o nazismo quando têm entre 13 e 15 anos. As aulas introdutórias ao tema não são baseadas apenas em livros, mas também em filmes como O Diário de Anne Frank (1959) e O Menino do Pijama Listrado (2008), além de visitas a diversos museus e memoriais, sinagogas e cemitérios judeus.

Hannah Weiss, de 19 anos, ainda se lembra de seu primeiro contato com o tema. "Foi na 5ª ou na 6ª série, quando assistimos a um documentário sobre a 2ª Guerra Mundial. Eu fiquei bastante chocada, o assunto me atingiu de um jeito muito profundo", conta. "Eu e meus colegas conversávamos muito sobre isso, as imagens e os filmes não saíam da nossa cabeça."

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Hannah conta que ficou em choque quando aprendeu sobre o nazismoFoto: Hannah Weiß

Passado e futuro

Setenta anos após o fim do nazismo, a Alemanha continua estigmatizada pelo acontecimento em todo o mundo. Peter Hoffmann, porta-voz do museu Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland (Casa da História da República Federal da Alemanha), em Bonn, afirma que, embora a maioria das pessoas hoje não tenha culpa pelos crimes nazistas, elas se sentem responsáveis.

"Os museus e monumentos históricos têm a função de contribuir para que a memória do nazismo e da Segunda Guerra continue viva, e para que o que ocorreu no passado não se repita", afirma Hoffmann. Além dos memoriais, é possível encontrar em todo o país placas douradas no chão em frente a casas onde viviam famílias de judeus. Nelas, além dos nomes e sobrenomes, há a data de quando as pessoas foram deportadas e em que campo de concentração foram mortas.

Laura Burzywoda, de 26 anos, considera importante que o campo do turismo na Alemanha esteja associado à sua história: "Quando viajei ao Peru e contei que era alemã, algumas pessoas me responderam com a saudação 'Heil, Hitler!'. Não sei se era uma brincadeira, mas eu não achei engraçado. Acho que essas pessoas não têm noção do que realmente aconteceu."

Formada em Estudos da América Latina com foco em antropologia, Laura procura entender o que se passou com sua família durante o nazismo. Em 2014, ela viajou para a cidade onde sua avó morava com a família na época – Zlaté Hory, na República Tcheca, que antes se chama Zuckmantel e pertencia à Alemanha. Lá, sua tia avó contou sobre o dia em que a cidade esperava pelo momento em que Hitler passaria de carro.

Laura Buzywoda Porträt
Laura diz que é difícil acreditar que seus antepassados ficavam eufóricos na presença de HitlerFoto: Gabriela Soutello

"Ela disse que ele pegou a flor de sua mão e beijou sua bochecha. Foi estranho ouvir isso, porque havia uma espécie de orgulho no jeito como ela falava", lembra Laura. "Foi difícil perceber que naquela época algumas pessoas, como a minha tia avó, acreditavam viver bem."

O professor de história, que até hoje não canta o hino alemão quando o país se apresenta para uma partida de futebol, por exemplo, afirma que o "orgulho nacionalista" é uma das questões mais problematizadas na Alemanha atualmente. "Nós temos o direito de ter orgulho de sermos alemães? Muitos dizem que sim, outros dizem que não, e que precisamos tomar cuidado com isso. É um tema que está sempre em discussão aqui", explica.