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Como os israelenses veem a vitória de Trump

Miriam Dagan md
24 de novembro de 2016

Direita de Israel vê um parceiro ideológico no futuro presidente americano e prefere fazer vista grossa para os recentes incidentes antissemitas registrados entre os seus apoiadores.

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Então candidato Trump e premiê israelense, Benjamin Netanyahu
Então candidato Trump e premiê israelense, Benjamin Netanyahu, durante encontro em setembroFoto: Picture-alliance/dpa/K. Gideon

A conferência do movimento "alt-right" no fim de semana passado deixou claro: há um espírito de otimismo entre os radicais de direita dos Estados Unidos. Após gritos de heil Trump! e declarações antissemitas, seguiu-se na plateia a saudação nazista.

Enquanto, nos Estados Unidos, judeus liberais se mostraram chocados com a eleição de Donald Trump e a nova onda de crimes antissemitas, poucas reações foram registradas em Israel.

Mas agora políticos de oposição reagiram. A ex-ministra do Exterior Tzipi Livni, do partido de centro-esquerda União Sionista, afirmou estar profundamente perturbada e acrescentou que políticos de todo mundo precisam dizer que "não há lugar para isso" nas suas sociedades.

Já o presidente do partido liberal Yesh Atid, Yair Lapid, apelou aos políticos americanos para que condenem tais "expressões de simpatia por nazistas".

Situação tensa

Trump se distanciou do movimento de extrema direita "alt-right", ao qual seu futuro conselheiro-chefe, Steve Bannon, ofereceu uma plataforma com seu site Breitbart News. Mas a nomeação de Bannon é apenas um exemplo de uma série de incidentes com conotações antissemitas. Eles incluem, por exemplo, a publicação de uma ilustração contra Hillary Clinton durante a campanha, trazendo notas de dólar e uma estrela semelhante à de Davi.

O clima político e social nos Estados Unidos é tenso. "Desde os anos 30 que a comunidade judaica americana não experimentava tamanho grau de antissemitismo no discurso político e público", alertou a influente Anti-Defamation League, organização ativa na luta contra a discriminação dos judeus.

Cartaz de manifestante compara bilionário a Hitler
Cartaz de manifestante compara bilionário a Hitler: clima tenso nos EUAFoto: Getty Images/AFP/D. R. Henkle

Mas entre os políticos em Israel predomina uma compreensão tácita de que se deve aceitar o resultado das eleições democráticas nos EUA e que não se deve melindrar o maior parceiro estratégico do país. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu saudou oficialmente a eleição de Trump. Na coalizão de direita de Netanyahu há pessoas que veem um parceiro ideológico no novo presidente dos Estados Unidos. Nacionalistas esperam obter agora sinal verde dos americanos para a continuação dos assentamentos na Cisjordânia.

Um ministro do partido nacional-religioso Casa Judaica até mesmo expressou seu apoio explícito a Bannon. E Naftali Bennett, ministro da Educação e presidente do mesmo partido, reuniu-se recentemente com assessores de Trump para discutir alternativas para a solução de dois Estados. Netanyahu respondeu com uma repreensão considerada atípica, afirmando que nenhum membro de seu gabinete deve fazer contato com assessores de Trump antes que as linhas políticas do futuro governo dos EUA estejam claras.

Bom para Israel, ruim para os judeus nos EUA?

O próprio Trump até agora se mostrou ao lado de Israel. Por isso, ele goza da aprovação da direita do país. Para ela, é mais importante o apoio do presidente dos Estados Unidos, por exemplo, em questões de segurança – tais como a prevenção de um Irã com tecnologia nuclear – do que as preocupações dos judeus nos Estados Unidos. E isso inclui fazer vista grossa para o antissemitismo nos EUA.

A jornalista Tal Shalev, da editoria de política do site de notícias israelense Walla, vê essa situação com preocupação, temendo que as relações entre Israel e os judeus americanos sejam prejudicadas. "É um dilema para Israel: o que é bom para o país pode ser ruim para os judeus nos EUA. É importante que Israel demonstre mais solidariedade com a comunidade judaica americana", afirma.

O jornal de esquerda Haaretz também vê nessa situação como uma ameaça, mas também uma oportunidade. "Nunca houve tamanha oportunidade, para os judeus liberais em ambos os países, de se entenderem e terem uma causa comum, de apoiarem uns aos outros em tempos difíceis", escreve a publicação.