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60 anos de DGB

6 de outubro de 2009

Durante trajetória da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), sua tarefa, sua imagem, sua posição na sociedade, como também sua relação com a política sofreram mudanças. Ato em Berlim marca 60 anos de fundação.

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DGB afastou-se da política desde os anos 90Foto: picture-alliance/ dpa

O ano de 1949 foi de rupturas, também para o movimento trabalhista alemão. No dia 13 de outubro foi fundada a Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB). Nesta terça-feira (06/10), em Berlim, um ato solene lembrou os 60 anos de fundação da organização-teto que abrange 16 ramos sindicais.

Como primeiro presidente da confederação, o sindicalista Hans Böckler, na época com 74 anos, anunciou durante na cerimônia de fundação seu desejo de conseguir um equilíbrio justo na sociedade através da atividade sindical.

"Nós temos o sincero desejo de organizar este sindicato de tal forma que venha a se tornar, futuramente, uma verdadeira pátria para todos os trabalhadores. É imperativo melhorar seus destinos, através da luta por uma maior participação tanto nos bens materiais quanto nos bens culturais da vida."

Anos rebeldes

Hans Böckler
Hans Böckler foi primeiro presidente da DGBFoto: picture-alliance/ dpa

Em seu congresso de fundação, a DGB anunciou que sua meta era ser independente, do ponto de vista da política partidária, sem ser neutra. Os fatores unificadores deveriam ser acentuados e os divisores, superados. A DGB exigia que as indústrias-chave, principalmente as de carvão e aço, fossem transformadas em propriedade coletiva.

Nunca mais, salientou várias vezes Hans Böckler, uma democracia deverá ser destruída com a ajuda de tais indústrias. Após não ter obtido maioria para seus planos de coletivização, outra ideia passou à linha de frente. A DGB queria impor a participação dos trabalhadores em grandes empresas.

"Não foi o desejo de poder que motivou o sindicato, mas sobretudo a percepção de que a democracia econômica deve acompanhar a democracia política", dizia Böckler.

A luta pela participação paritária foi o primeiro grande desafio da confederação sindical alemã. No entanto, o governo conservador do então premiê Konrad Adenauer não concordava com a ideia de outorgar direito de voto aos trabalhadores.

Em 1951, finalmente, chegou-se a um acordo. Na indústria minero-siderúrgica, os futuros conselhos de administração deveriam ser constituídos de forma equitativa, metade por representantes dos acionistas e metade pelos dos trabalhadores e sindicatos.

Anos dourados

Até 1966, os anos de avanço econômico trouxeram à Alemanha taxas de crescimento médio de 6,3% ao ano. Praticamente, não havia desemprego, o que deu espaço aos sindicatos para impor melhores condições de trabalho. Foi assegurado o direito à continuação do pagamento salarial em caso de doença, à carga de trabalho de 40 horas semanais, ao pagamento do 13º salário e a férias anuais de quatro semanas.

No entanto, o fim das minas de exploração do carvão mineral, a contração da indústria pesada e a crise do petróleo também anunciaram novos tempos para os sindicatos. O governo social-liberal de Helmut Schmidt realizou cortes nos estímulos trabalhistas, aposentadorias e também no serviço público. As contribuições para o seguro-saúde e o seguro-desemprego ficaram mais caras. O desemprego ganhou um significado até então desconhecido.

Vorsitzende des Deutschen Gewerkschaftsbundes Michael Sommer am Montag in Berlin Bundespraesident Horst Koehler Bundeskanzlerin Angela Merkel
Michael Sommer, presidente da DGB, entre Kohler e Merkel, na cerimônia dos 60 anos em BerlimFoto: AP

Apesar disso, havia muitos pontos de contato entre a política e os sindicatos. Tradicionalmente, a relação dos sindicatos com o Partido Social Democrata (SPD) sempre foi bastante próxima. Funcionários dos sindicatos passaram a ocupar cargos no funcionarismo público, o que não agradava em nada os empregadores. O tom ficou mais ríspido, como constatou Heinz Oskar Vetter, que passou a dirigir a DGB a partir de 1969.

"As discussões sociais se acirram. Estado sindical e a dominação do funcionarismo público: com essas palavras de ordem, os empresários, suas associações e seus amigos da política tentam estupidificar a opinião pública."

Evasão de membros

A crise do Estado social faz aumentar o número de membros dos sindicatos. Em 1981, a DGB contava com quase 8 milhões de trabalhadores. Apesar desse aumento, a partir de 1983, os sindicatos passam a enfrentar forte resistência por parte da política. Sob o governo democrata-cristão, eles passaram a ser excluídos cada vez mais de processos decisórios e politicamente marginalizados.

Os sindicatos reagem, concentrando-se com força na política tarifária. Surgem brigas, greves e a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais. A política de reforma dos conservadores e liberais torna-se um tema constante, estigmatizado pela DGB como neoliberalismo e desmantelamento do Estado social.

Em 1998, a DGB convoca uma grande passeata contra o pacote de austeridade do governo de Helmut Kohl. No entanto, cada vez menos alemães estão dispostos a ir às ruas, a cultura de protesto desapareceu. Isso também foi sentido pela DGB, que durante um curto período, no contexto da reunificação, chegou a contar quase 11 milhões de membros, mas dos quais perdeu quase metade, nos anos que se seguiram.

Ruptura com social-democracia

Dieter Schulte, presidente da DGB entre 1994 e 2002, explicou na ocasião que "temos que estar conscientes de que na Alemanha nos últimos anos – também agora na Alemanha reunificada – uma desindustrialização passou a acontecer, que setores tradicionais estão em retrocesso e justamente aqueles setores, nos quais no passado os sindicatos tinham um grande número de membros".

Com a mudança de governo para a coalizão de verdes e social-democratas, em 1998, apoiada ativamente pela DGB, os sindicatos passaram a ter novas esperanças. De fato, a princípio, o governo de Gerhard Schröder procurou estar próximo aos sindicatos, mas em 2002 fracassou a chamada "aliança pelo trabalho", formada pela política, sindicatos e associações patronais.

A Agenda 2010 marcou a ruptura final. O projeto de reformas pôs abaixo a tradicional ligação com a social-democracia. Se na década de 90 ainda se dizia que a DGB não era politicamente neutra, desde então a confederação não pronunciou nenhuma recomendação eleitoral, o que se confirmou nas eleições parlamentares de 2009.

A chefe de governo alemã e presidente da conservadora União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, agradeceu à sua maneira. Na comemoração dos 60 anos da DGB, ela cumprimentou, dizendo saber estimar o valor dos representantes dos sindicatos livres como interlocutores importantes na política.

Autora: Sabine Kinkartz (ca)
Revisão: Augusto Valente