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Conferência em Munique revela divergências entre europeus e americanos

Laís Kalka3 de fevereiro de 2002

A supremacia tecnológica e militar dos EUA, o papel da ONU e da Otan e controvérsias no tratamento a ser dado ao Iraque marcaram os debates da Conferência sobre Política de Segurança.

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O ministro alemão da Defesa, Rudolf Scharping, e o secretário-geral da Otan, George RobertsonFoto: AP

Após dois dias de debates, encerrou-se neste domingo a 38ª Conferência sobre Política de Segurança, da qual participaram cerca de 250 especialistas em política exterior e defesa de mais de 40 países. Tendo como tema central os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e suas conseqüências globais, a conferência revelou divergências entre americanos e europeus.

Necessidade de reforma da Otan

– De parte dos europeus, ficou claro o temor de que a supremacia tecnológica e militar dos EUA enfraqueça a aliança.

O britânico George Robertson, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, lamentou a carência de equipamentos dos exércitos europeus e exigiu que os governos liberem mais recursos para a defesa. "Por maior que seja a energia que apliquem na Otan e na UE, o fato é que, militarmente, os europeus ainda são subdesenvolvidos."

Mas ele dirigiu críticas também aos EUA, que deveriam, em sua opinião, facilitar o acesso às tecnologias e fomentar a cooperação da indústria armamentista. "Se os EUA não agirem assim, a cooperação militar com os aliados se tornará impossível, o abismo entre os exércitos americano de um lado e europeus e canadense de outro se tornará simplesmente intransponível", teme o secretário-geral.

Para o ministro alemão da Defesa, Rudolf Scharping, as causas do desequilíbrio encontram-se dos dois lados do Atlântico: "Na falta de capacidade e de vontade política dos europeus para investir, mas muitas vezes também na falta de disposição de nossos amigos americanos de identificar projetos transatlânticos, de realizá-los em conjunto, organizando para tanto a necessária transferência de tecnologias".

O futuro da aliança contra o terror

– Os oradores americanos acentuaram que os EUA estão "em guerra" e que o combate ao terrorismo ainda não terminou. Alguns mencionaram abertamente o Iraque como próximo alvo, intenção com a qual a Alemanha não concorda. Rudolf Scharping consideraria "um erro" atacar aquele país. Deputados europeus alertaram para as graves conseqüências que uma decisão como essa teria para a estabilidade no Oriente Médio.

Segundo o ministro alemão, a Organização das Nações Unidas precisaria ser integrada no combate ao terrorismo, "caso contrário a população européia não o apoiará mais". O vice-secretário americano da Defesa, Paul Wolfowitz, rechaçou a exigência, afirmando que "para a autodefesa, não precisamos de uma resolução da ONU".

A Rússia, representada por seu ministro da Defesa, Serguei Ivanov, advertiu igualmente os EUA de um ataque contra o Iraque ou o Irã, alegando que não há "nenhuma prova" do envolvimento desses países nos atentados de 11 de setembro.

Ao mesmo tempo, Ivanov reivindicou uma definição uniforme do que seja terrorismo. "Separatismo, extremismo religioso e fanatismo" deveriam receber o mesmo tratamento, afirmou o ministro, referindo-se à luta da Rússia contra os chechenos e acusando o Ocidente de "moral dupla".

Todos os oradores da Otan defenderam o incremento da cooperação com a Rússia, a quem o secretário-geral chamou de "parceiro em igualdade de condições".