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Consenso na discórdia

Alexander Kudascheff12 de novembro de 2002

União Européia e Rússia mantêm suas discordâncias sobre a guerra na Tchechência, mas chegaram a um acordo sobre o acesso ao enclave Kalinigrado. Um visto de trânsito deverá evitar imigração ilegal e a máfia.

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Protestos contra guerra na Tchechênia durante cúpula euro-russa em BruxelasFoto: AP

Muitos problemas que estorvam as relações entre a União Européia e a Rússia permanecem sem solução depois de sua décima cúpula. Mas só o fato de ela ter se realizado já foi um sucesso. Para começar, ela teve de ser transferida de Copenhague para Bruxelas, porque a Dinamarca havia permitido a realização de um congresso de exilados tchechenos. Ainda assim prevaleceu uma atmosfera construtiva no encontro da UE com o presidente russo Vladimir Putin. Houve cooperação mesmo na discórdia.

A receita foi o desejo de ambos os lados de não permitir uma escalada da discórdia e muitos esforços, empreendidos sobretudo pela UE, como era de se esperar.

Terrorismo & direitos humanos

A guerra na Tchechênia estorva as relações da UE com o presidente Putin. As violações sistemáticas dos direitos humanos e o tormento cotidiano da população civil incomodam e pesam na consciência dos europeus. Mas, de outro lado, estes são políticos pragmáticos e sabem que a Tchechênia é um problema russo. Eles apoiam a vontade incondicional de Putin na luta contra o terrorismo, mas advertem que os meios têm de ser empregados de forma proporcional. E eles sentem que Putin tem apoio da grande maioria dos russos no combate ao terrorismo tchecheno. O apoio popular já existia mesmo antes da tomada de centenas de reféns num teatro de Moscou em outubro.

Os europeus vacilam entre suas consciências pesadas e a certeza de que a luta contra o terrorismo tem de ser decidida. Mas aí discordam claramente de Putin em um ponto: o conflito na Tchechênia tem de ser solucionado por vias políticas porque a causa dele é política: os tchechenos querem liberdade, autonomia, talvez até um Estado independente e se esforçam para se separarem da Rússia, o que é inaceitável para Moscou.

Para os europeus a fórmula mágica são amplas autonomias regionais para os tchechenos. Moscou não admite isso e, pelo menos em um ponto, Bruxelas foi de encontro ao Kremlin: já não considera o presidente da Tschechênia, Aslan Maschadov, impreterivelmente o porta-voz do tchechenos. E Putin pode se dar por satisfeito com isso.

Portas fechadas para imigrantes

Os europeus retiraram uma pedra do caminho das suas relações com a Rússia. Com grande sensibilidade diplomática, desistiram de exigir visto para os russos viajarem para Kalinigrado e de lá a outros lugares. Esta cidade russa de um milhão de habitantes se tornará um enclave quando a Lituânia e a Polônia ingressarem na União Européia. Mas, de outro lado, a UE decidiu criar um documento de trânsito, a fim de transmitir aos cidadãos europeus a impressão de que Lituânia e Polônia não representarão uma porta aberta para uma avalanche de imigrantes ilegais e a máfia entrarem na União Européia.

O acordo repleto de detalhes fez com que ambas as partes não saiam com a sensação de perdedores. Como acontece com soluções negociadas, o acordo terá que demonstrar sua eficácia no cotidiana, pondendo ser complementado, em caso de necessidade.

O encontro de cúpula Rússia & UE foi o décimo do gênero, demonstrando o quanto as relações se normalizaram. O consenso sobre Kalinigrado mostrou também que atritos, divergências e arrufos não as estorvam consideravelmente. A Rússia é um parceiro importante para os europeus e também para a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Pode-se observar a mudança radical no continente europeu após o fim do comunismo exatamente na tranqüilidade com que os dois lados lidam um com o outro. O fato de uma cúpula da UE com a Rússia não ser mais espetacular é um sinal de normalidade. E a capacidade de negociar consensos também. (ef)