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"Continuamos procurando a verdade sobre o MH370"

Gabriel Dominguez (md)8 de março de 2015

Um ano após o sumiço do voo MH370, o destino do avião da Malaysia Airlines ainda é um mistério. Em entrevista à DW, Sarah Bajc, companheira de um dos passageiros, não poupa críticas aos governos de Malásia e China.

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Foto: Reuters

Um ano após o desaparecimento do voo MH370, famílias e amigos das vítimas continuam à espera de explicações da Malaysia Airlines. Apesar da operação de busca e salvamento mais cara da história no setor, a equipe internacional de investigadores não encontrou qualquer vestígio da aeronave até agora.

Alguns parentes dos desaparecidos rejeitam as alegações das autoridades da Malásia, de que o avião teria sido destruído por um acidente e de que todos os ocupantes morreram. Eles estão revoltados com a forma como a companhia aérea e as autoridades se comportaram, quando afirmaram que não havia evidência alguma para um acidente. Agora, temem que a busca pelo avião seja suspensa.

Desde o desaparecimento, nas primeiras horas da manhã de 8 de março de 2014, do avião, que ia de Kuala Lumpur a Pequim com 239 pessoas a bordo, o caso é envolto em especulações. Investigadores acreditam que a área mais provável onde a aeronave teria caído fica a oeste de Perth, na Austrália – em um corredor longo e estreito no sul do Oceano Índico.

Sarah Bajc, companheira de um passageiro do voo MH370, conta, em entrevista à DW, como o evento mudou sua vida, por que as famílias das vítimas desconfiam das afirmações das autoridades e como o incidente influiu positivamente na evolução da indústria de aviação.

DW: Como o destino do voo MH370 mudou sua vida?

Sarah Bajc: O desaparecimento de Philip mudou toda a minha vida. Minha vida diária e meu futuro mudaram drasticamente. Fazíamos tudo junto, fora quando estávamos trabalhando. Tomávamos café da manhã na varanda, fazíamos yoga, cozinhávamos, compartilhávamos nossos pensamentos e sentimentos.

Viajávamos muito, passávamos muito tempo com os filhos, a família e os amigos. Agora, eu estou sozinha. Também fico constantemente confusa e distraída na minha busca pela verdade. Eu passei horas pesquisando, discutindo com peritos, com outros parentes e dei entrevistas aos meios de comunicação. É como se eu tivesse dois empregos de tempo integral: dar aula na escola e procurar Philip.

Como os amigos e as famílias das outras vítimas reagiram ao desaparecimento da aeronave?

A maioria dos parentes teve oportunidade de conhecer os outros, pessoalmente ou por meio da mídia social. Em geral, é um grupo formidável, em que um dá suporte ao outro. Mas nossos esforços para compartilhar informações e nos ajudarmos uns aos outros foram bastante dificultados pelas autoridades chinesas e malaias. Ambos os governos têm impedido ativamente os parentes das vítimas de se unirem formalmente, em uma associação, por exemplo. Mesmo assim, alguns de nós se tornaram amigos próximos e vamos continuar a trabalhar juntos ativamente na procura da verdade.

Flug MH370 Philip Wood und Sarah Bajc
Sarah Bajc e Philip Wood: "fazíamos tudo juntos"Foto: privat

Até que ponto as autoridades impediram parentes de se unir?

O governo chinês impediu reuniões de familiares, afirmando que as reuniões eram ilegais. Alguns foram ameaçados de punições legais ou foram intimidados. Os malaios foram mais sutis. Tentaram impedir debates públicos, ao oferecerem um grupo supervisionado a familiares, mas sem fazer nada em seguida, de modo que as pessoas ainda estão à espera de ajuda.

Como você avalia o comportamento das autoridades na gestão da crise?

Só há uma explicação para duas opções desagradáveis: ou o governo da Malásia age com negligência grosseira, o que se deveria à incompetência e à corrupção, e, portanto, não conseguem, assim, lidar com os aspectos mais simples dessa situação, desde o início até agora. Ou eles deliberadamente encobrem o que realmente aconteceu. Ou porque eles próprios são responsáveis ou devido à pressão de outro poder.

Algum membro do governo malaio chegou a se reunir com as famílias das vítimas?

Houve um encontro muito superficial. Na maioria dos casos, um membro do governo fez uma declaração diante dos parentes. Não há uma discussão honesta. A maioria dos e-mails, cartas e pedidos de informação foi simplesmente ignorada. Eu nunca foi contatada por um funcionário do governo por causa de Philip ou do voo MH370.

Protest von Angehörigen der Passagiere Flug MH370 in Peking 29.01.2015
Protesto de parentes de vítimas do voo MH370 na China: "governo chinês impediu reuniões de familiares"Foto: Reuters/Kyung-Hoon

Você encomendou uma investigação paralela para esclarecer o desaparecimento da aeronave. Existem resultados?

A única coisa que descobrimos até agora é que tentaram ativamente silenciar testemunhas, destruir ou esconder provas. Dezenas de pessoas envolvidas no caso foram ameaçadas, para que não dissessem nada.

Informações importantes, que normalmente deveriam ser publicadas, são mantidas em sigilo: a lista completa de frete, todos os registros e gravações do controle de tráfego aéreo, os dados dos sistemas de radar militares e da central da companhia aérea. Caso realmente tenha ocorrido um acidente, todos esses dados teriam que ser divulgados para confirmar esse diagnóstico. Em vez disso, eles são mantidos em segredo. Por quê?

Você tem esperança de que esse avião seja encontrado?

Não acredito na versão oficial, de que o voo MH370 está no sul do Oceano Índico. Por isso, na minha opinião, os esforços da Austrália são um total desperdício de recursos. O governo da Austrália ou é estúpido o suficiente para ficar procurando no fundo do mar sem ter evidências sólidas de que o avião caiu lá, ou colabora para encobrir algo.

Malaysia Airlines MH370 PK in Canberra 26.06.2014
Vice-premiê australiano, Warren Truss, mostra área onde avião pode estar: "governo australiano ou é estúpido ou ajuda a encobrir"Foto: picture-alliance/dpa

A Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) da ONU propõe, desde o ocorrido com o voo MH370, um novo padrão, segundo o qual aviões comerciais devem informar sua posição a cada 15 minutos.

Certamente é um passo na direção certa, apesar de eu achar que intervalos de cinco minutos façam mais sentido e, tecnicamente, provavelmente não seja um grande esforço. Isso devia ter sido introduzido muitos anos atrás.

Outras mudanças urgentemente necessárias são um maior número de transponders seguros que não podem ser desligados, e geradores de sinal muito mais fortes que a caixa-preta, distribuídos em vários pontos da aeronave, com baterias significativamente mais duradouras.