1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Doping: contraprovas congeladas de Atenas 2004 nunca foram testadas

30 de abril de 2012

Nos Jogos Olímpicos ocorridos na capital grega foram recolhidas amostras para serem testadas mais tardes, com métodos mais modernos. Mas elas nunca foram aproveitadas e estão prestes a ser destruídas.

https://p.dw.com/p/14n8E
Foto: DW-Montage/fotolia.com/Kaarsten

Em 2004, durante os Jogos Olímpicos de Atenas, amostras para controle de doping foram pela primeira vez congeladas, um procedimento repetido nas edições seguintes. Por um prazo de oito anos, essas amostras ficam à disposição para serem analisadas posteriormente, com métodos mais modernos. É o que prevê o Código Mundial Antidoping.

Mais de 15 mil amostras estão armazenadas num laboratório antidoping de Lausanne, na Suíça. Elas foram coletadas nas Olimpíadas de Atenas em 2004, de Turim em 2006, de Pequim em 2008 e de Vancouver em 2010.

As amostras coletadas em Atenas serão destruídas em três meses e substituídas pelas de Londres, a serem reunidas durante os próximos Jogos Olímpicos. No entanto, segundo informa a emissora alemã de televisão ARD, as amostras coletadas em Atenas serão destruídas sem nunca terem sido testadas.

Griechenland Sport Olympiade Olympiastadion in Athen
Amostras recolhidas em Atenas em 2004 não foram testadasFoto: AP

São 3.667 amostras de sangue e urina que se encontram guardadas em Lausanne, há oito anos, sem que qualquer coisa tenha sido feita. As amostras esquecidas são um verdadeiro escândalo.

"Por que deveríamos fazer isso? O que deveríamos testar posteriormente? Os métodos da época eram suficientemente bons. Não temos informações de que naquela época os atletas tenham tomado qualquer coisa que não pudéssemos ter testado", defende-se o presidente da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI), Arne Ljungqvist, responsável pelos testes.

Novos tipos de teste

Especialistas em doping veem a questão de modo bem distinto. Muitos diretores de laboratórios credenciados pelo COI dizem haver um número suficiente de procedimentos novos ou melhorados que poderiam ser aplicados. Esta é a postura defendida também pelo professor Mario Thevis, do laboratório de controle de doping de Colônia, que participou das últimas Olimpíadas a serviço do COI.

Thevis, um dos pesquisadores de doping mais conceituados do mundo, exemplifica: "Naquela época um medicamento pode ter sido ingerido e seu uso descontinuado cerca de 7 ou 14 dias antes das competições. Os testes feitos durante os Jogos, não detectaram nada. Hoje em dia, com o uso de métodos muito melhores, podemos encontrar os resquícios desse medicamento" nas amostras da época.

David Howman, diretor-geral da Agência Mundial Anti-Doping (WADA, na sigla original), sediada em Montreal, no Canadá, diz-se surpreendido pelo resultado das pesquisas da emissora alemã ARD e pela reação do COI. Howman lembra que a WADA investiu desde 2004 mais de 50 milhões de dólares no aperfeiçoamento dos testes de detecção de doping.

"E isso porque queremos detectar melhor as substâncias responsáveis pelo doping. Hoje os testes são muito melhores. Se você utilizar esses testes mais desenvolvidos nas amostras de 2004, é muito provável que vá encontrar casos positivos", completa Howman.

"Farsa completa"

O comitê executivo da WADA reúne-se no próximo 18 de maio. Howman pretende recomendar ao comitê que sugira ao COI a realização imediata de novos testes, pois o COI – como proprietário das amostras – é quem deve decidir a esse respeito.

David Howman World Anti-Doping Agency (WADA)
David Howman, da WADA, disse estar surpreendido com a reação do COIFoto: Reuters

"Durante os Jogos de Londres já será tarde demais, pois os oito anos já terão transcorrido. Deveríamos usar agora as novas técnicas de detecção. Deve ter muita coisa para ser encontrada. Mas mesmo que não, deveríamos fazer isso na condição de Comitê Olímpico Internacional. Pois caso contrário não terá passado de uma grande farsa o fato de termos armazenado tudo isso por tanto tempo", diz o canadense Richard Pound, ex-vice-presidente do COI.

No momento, as 3.667 amostras de 2004 esperam para serem destruídas ou novamente testadas. Se ainda quiser aproveitá-las, o COI terá que correr contra o tempo.

Autor: Florian Bauer (sv)
Revisão: Alexandre Schossler