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Coreia do Norte mantém ambições atômicas e arrisca aliança com a China

13 de fevereiro de 2013

Ao realizar teste nuclear, ditador Kim Jong-Un busca obter prestígio dentro e fora do país. Mas estratégia pode causar ruptura com seu vizinho e único aliado, do qual depende economicamente.

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Foto: picture-alliance/dpa

O ditador norte-coreano Kim Jong-Un está no posto há pouco mais de um ano. O balanço de seu governo até agora: dois testes de mísseis e, desde a manhã de terça-feira (12/02), também um teste nuclear. Ao menos uma coisa ele conseguiu: unir a comunidade internacional. De Pequim a Berlim, de Tóquio a Nova Déli, de Seul a Washington − o terceiro teste nuclear da Coreia do Norte foi condenado no mundo inteiro.

Em abril de 2012, a Coreia do Norte alterou a sua Constituição. Desde então, o país se denomina oficialmente uma "nação com armas nucleares". O que leva um país completamente empobrecido a dedicar uma parte significativa de seus escassos recursos ao desenvolvimento de mísseis e armas nucleares?

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Último teste de míssel foi em dezembro de 2012Foto: Reuters

Talvez seja apenas coincidência, mas é curioso observar que o teste nuclear ocorre no segundo aniversário do início do levante contra o ex-ditador líbio Muammar Kadafi. Esta é a leitura de Pyongyang dos acontecimentos no norte da África: primeiro Kadafi abandonou o desenvolvimento de armas de destruição em massa, a pedido de europeus e americanos, para posteriormente ser derrubado. Para os governantes norte-coreanos é certo que eles precisam da bomba como uma forma de preservar seu domínio e também como elemento de dissuasão contra EUA, Coreia do Sul e Japão.

Prova de poder nacional

E, além disso, há o considerável ganho de prestígio da liderança norte-coreana. A propaganda estatal vende o teste nuclear como uma prova de poder nacional. O jovem líder pode se apresentar como um homem forte. Os influentes militares são tranquilizados com seu brinquedo favorito. Internacionalmente, o país consegue obter atenção adicional. Pyongyang vê possivelmente sua posição fortalecida para negociações com outros países sobre concessões materiais ou para uma flexibilização das sanções.

Nesse jogo, Pyongyang arrisca até perder o apoio da China, seu único aliado remanescente. A Coreia do Norte é, economicamente, totalmente dependente de alimentos e combustível da China. As relações entre os dois vizinhos já estavam abaladas antes do teste nuclear. O lançamento de um foguete pela Coreia do Norte no final de dezembro irritou Pequim. Quando a China apoiou, no final de janeiro, a resolução 2087 do Conselho de Segurança da ONU, que aumentou as sanções ao país, devido ao teste com míssil, Pyongyang espumou de raiva.

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Norte-coreanos formam símbolo atômico durante evento em estádio de PyongyangFoto: AP

O jornal Global Times, de propriedade do Partido Comunista chinês, respondeu com um comentário afiado. O regime norte-coreano foi acusado de ingratidão em relação ao esforço chinês para enfraquecer a resolução. O Global Times até ameaçou: "se a Coreia do Norte realizar mais testes nucleares, a China não hesitará em reduzir sua ajuda."

Entretanto, esta é apenas uma opinião dentro do establishment partidário chinês. Teng Jianqun, do Instituto Chinês de Estudos Internacionais de Pequim, citado pela revista britânica The Economist, afirma que há três "escolas" entre os membros da liderança chinesa. Um grupo considera a Coreia do Norte uma fonte recorrente de problemas e acredita que a China deveria tirar seu apoio e considerar o país um problema de segurança. A segunda escola acredita que a Coreia do Norte não tem nada em comum com a China e que deveria ser deixada sozinha. Por final, uma terceira escola considera a Coreia do Norte um velho aliado, que merece todo apoio da China.

Conflito de meta

A China está num conflito de metas. De um lado, Pequim quer estabilidade na península coreana e evitar uma implosão da Coreia do Norte. Porque ela causaria um grande fluxo de refugiados para a China e, no final, soldados americanos poderiam ser enviados à fronteira da China com a Coreia. Por outro lado, o governo em Pequim quer derrubar as ambições nucleares de Pyongyang e se apresentar internacionalmente como um promotor da paz.

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Com teste nuclear, ditador Kim Jong-Un quer se apresentar como homem forteFoto: AFP/Getty Images

Mas, acima de tudo, a China não tem interesse numa corrida nuclear no Leste Asiático. Esse é o maior problema, segundo o especialista em Coreia do Norte Rüdiger Frank. "O raciocínio é muito simples: se você tem um vizinho que possui armas nucleares e você mesmo não as tem, então há uma certa assimetria. Com certeza haverá pessoas na Coreia do Sul e no Japão que vão pedir para que essa assimetria seja abolida."

O teste atômico ocorreu num momento de incerteza política na Ásia Oriental. Tanto a China como o Japão e a Coreia do Sul passam por mudanças de poder. No que se refere ao Conselho de Segurança, a China vai provavelmente agir da mesma forma que depois do teste de mísseis de dezembro. Nas negociações com os EUA, os diplomatas de Pequim irão diluir a próxima resolução e as sanções nela incluídas até o nível em que não doam tanto para Pyongyang, apoiando, posteriormente o documento. Pyongyang irá reagir, então, com ameaças terríveis e manterá sua política. Até o próximo teste nuclear.

Autor: Matthias von Hein (md)
Revisão: Alexandre Schossler