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Das ruas à Filarmônica

26 de janeiro de 2012

Um coro formado por ex-moradores de rua e ex-viciados se apresentou numa das salas de concerto mais importantes do mundo, em Berlim. O fundador do grupo conta como é tirar pessoas das ruas e uni-las em torno da música.

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Cantar estimulou os membros do coro a sair das ruasFoto: picture-alliance/Eventpress Hoensch

Normalmente um espaço ocupado por grandes nomes da música erudita, a sala de música de câmara da Filarmônica de Berlim recebeu nesta semana o Straßenchor (coro de rua) de Berlim, um grupo de canto formado por ex-moradores de rua da cidade. A apresentação de Carmina Burana, de Carl Orff, teve casa cheia.

O coro foi fundado em 2009 pelo pianista Stefan Schmidt e desde então já se apresentou em diversos locais da Alemanha, além ser presença frequente em programas de televisão.

Deutsche Welle: Por que um bem-sucedido pianista decidiu montar um coro com moradores de rua de Berlim?

Stefan Schmidt: Quinze anos atrás eu tive um problema no coração e não pude tocar por alguns anos. Durante esse período eu refleti muito sobre a minha vida e mudei muito. Então eu me mudei para Berlim e vi muitos pessoas vivendo nas ruas, fazendo nada, e pensei que poderia fundar um coro com essas pessoas.

Por que tipo de experiências passaram alguns dos membros do coro?

Berliner Straßenchor
Stefan Schmidt: "Música pode mudar muita coisa"Foto: picture-alliance/dpa

Bem, há de tudo. Algumas pessoas são viciadas em crack ou são alcoólatras. Outros tem sérios problemas psicológicos. Outros viveram a vida toda nas ruas. Mas agora todos que estão no coro tem um apartamento. Alguns dos membros trabalham normalmente, mas estão no coro porque queriam cantar nesse coro.

Você se surpreendeu com o grande talento musical que você encontrou no coro?

Sim, foi realmente surpreendente! Temos dois ou três que são pessoas de um talento excepcional e eu espero poder ajudá-los a se aperfeiçoar nesse caminho.

Como participar do coro mudou a vida de algum de seus integrantes?

Inicialmente, muitos deles começaram a encontrar apartamentos e agora estão começando a voltar a trabalhar. Muitos estão estudando ou aprendendo uma nova profissão. Temos muitos jovens no coro que estão apenas começando suas vidas, outros estão tentando recomeçar.

Quais foram os maiores desafios com os quais você foi confrontado pelas pessoas do coro?

Acredito que o maior problema foi o álcool e as drogas. Não permitimos a ninguém fazer uso de ambos antes dos ensaios e acho que isso ajudou muitos deles a parar de vez e começar a amar o coro e a comunidade em torno do coro. No começo, eles paravam [de usar álcool ou drogas] por duas horas, mas muitos pararam em definitivo.

Foi difícil estabelecer disciplina no grupo?

No início eles não estava acostumados com isso, mas agora há comunidade e eles ajudam uns aos outros. Se alguém não está se concentrando, o grupo todo reage. Às vezes (ri) é muito difícil fazer o grupo ficar em silêncio.

Como o projeto é financiado?

É muito difícil, pois não temos nenhum tipo de fundação. Recebemos algumas doações e fazemos alguns concertos pagos. Isso nos ajuda a sobreviver de um mês para o outro.

O quão importante é para pessoas entrar em contato com arte e música com as quais não estão familiarizadas? Isso pode mesmo ajudá-las?

Música pode mudar muita coisa. No grupo eles aprendem a entrar em contato com outras pessoas. Nas ruas eles estão sozinhos e tem que lutar pela própria sobrevivência. No grupo eles conhecem esse novo sentimento de fazer parte de um grupo. Acho que a maioria deles nunca teve essa experiência. Isso o torna muito atentos às próprias emoções. Às vezes eles podem começar a chorar de repente por causa desse sentimento. Acho incrível o que a música proporciona. Ela aproxima e mantém as pessoas juntas.

Entrevista: Breandáin O'Shea (mas)
Revisão: Alexandre Schossler