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Poder demais

29 de abril de 2010

Grandes agências de rating são criticadas após rebaixar credibilidade de Grécia, Portugal e Espanha, provocando queda nas bolsas europeias. Especialistas acusam agências de pessimistas e de excesso de poder.

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Foto: picture-alliance/dpa

As agências de rating avaliam a credibilidade de empresas, mas também de Estados. Entre as mais conhecidas do mundo estão a Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch, todas norte-americanas. Elas concedem notas (ratings), que vão do AAA (investimento seguro) até D (insolvente).

Investidores privados, instituições de crédito e seguradoras decidem, a partir dessas notas, se irão conceder empréstimos às empresas ou países em questão. Com isso, as agências de rating acabam exercendo um papel determinante no mercado financeiro.

Círculo vicioso

Anteil der Staatsschulden
Gráfico do endividamento na UE e países-membros

As avaliações da Standard & Poor's em relação à Grécia desencadearam críticas veementes. Especialistas creditam à agência a responsabilidade pela situação dramática no momento. Críticos temem o início de um círculo vicioso, que poderá levar o país à falência. Além das notas ruins dadas a Grécia, Espanha e Portugal, especula-se que a Irlanda poderia estar na lista negra da agência.

As agências de rating, há de se lembrar, foram também responsabilizadas pela falência do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers, em setembro de 2008, o que desencadeou a crise financeira internacional. As agências são acusadas de terem encoberto anteriormente a péssima situação dos bancos com boas notas que não correspondiam à realidade.

Pessimismo excessivo

Segundo Martin Hüfner, economista-chefe da empresa de consultoria financeira Assenagon, sediada em Munique, o rebaixamento dos países pela S&P não trouxe, de fato, nenhum dado novo. "Isso poderia ter sido feito há quatro semanas", diz ele. Como, durante a crise financeira, as agências tenderam a avaliações excessivamente seguras, agora elas apresentam a tendência a exagerar negativamente, explica o economista. Ele acredita que as outras duas agências de rating Moody's e Fitch também venham a rebaixar a Grécia em suas próximas avaliações.

No entanto, as consequências para a Grécia são dramáticas, aponta Hüfner, já que os grandes investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, não podem arriscar dinheiro em um país cujo nível de credibilidade é zero. O economista defende uma mudança nas regras, para que os investidores não sejam forçados a recusar os papéis, por exemplo, depois que um país é rebaixado. "Isso só piora as coisas, e as agências de rating perdem a liberdade de ação", explica.

Gerenciamento incompetente

Os tumultos no mercado financeiro forçam agora os políticos a se apressarem. No próximo 10 de maio, durante um encontro extraordinário de cúpula da UE, é possível que seja concedida à Grécia uma ajuda bilionária.

Hüfner credita aos políticos parte da responsabilidade pela situação atual: "A gestão da crise é muito ruim". Os países europeus prometeram ajuda a Atenas, mas quando esta quis lançar mão da oferta, os governos, sobretudo o da Alemanha, hesitaram em agir com rapidez. "O mercado não gosta de jeito nenhum desse vai-não-vai", explica o economista.

Ratingagenturen in der Kritik
Analistas de rating na mira dos críticosFoto: DW

Menos poder para as agências

Até o fim deste ano, espera-se que entre em vigor uma nova diretriz da UE, pela primeira vez submetendo as agências de rating ao controle das autoridades de supervisão financeira do bloco. Algumas estão ameaçadas de punição, entre outros motivos, por não cumprirem com seus deveres de informação.

Por sua vez, o presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn relativiza o significado das agências privadas, considerado um despropósito "acreditar demais" no que é dito por elas. Diversos políticos, como o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, exigem que a UE crie sua própria agência de rating, em contraposição às privadas. Se isto não ocorreu até agora, é sobretudo por falta de vontade política.

SV/dw/afp
Revisão: Augusto Valente