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Cresce o abismo entre EUA e Europa

Estelina Farias8 de julho de 2002

Apesar da visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, à Europa, em maio, aparentemente em clima de plena harmonia, acumulam-se indícios de um abismo transatlântico cada vez mais profundo.

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Presidente George G. Bush quer, com freqüência, agir sozinho na coalizão anterrorFoto: AP

Os exemplos mais evidentes do antagonismo são o veto dos EUA à prorrogação da tropa de paz na Bósnia sob o comando da ONU (Sfor), a exigência de Washington para Yasser Arafat deixar a presidência palestina, as divergências dos dois lados do Atlântico sobre as investigações da Al Qaeda na Alemanha e o aumento dos gastos militares nos EUA, ao mesmo tempo em que eles diminuem nos países-membros da UE.

A União Européia substituirá a ONU no comando da Sfor. Os preparativos para a missão interina já estão em marcha, em Bruxelas, mas a comunidade européia se esforça, ao mesmo tempo, para apaziguar a contenda com o governo do presidente americano sobre o Tribunal Penal Internacional (TPI). Washington usou o seu direito de veto e impediu a prorrogação do mandato da missão na Bósnia por mais seis meses, com o intuito de impedir que os seus soldados em missão da ONU sejam julgados pelo TPI em Haia. O Conselho de Segurança da ONU rejeitou a imunidade para os militares americanos e prorrogou só por mais 12 dias o mandato que expirou no último dia de junho.

Mal-entendido

Na contenda transatlântica existe pelo menos um mal-entendido. Os EUA questionaram a sua participação na ação policial da ONU na Bósnia, mas nunca ameaçaram retirar os seus soldados de lá, até porque a Sfor não foi criada pela ONU, mas pelo acordo de Dayton, que possibilitou o fim da guerra na Bósnia em 1995. Mas foi nesse equívoco que caiu grande parte da imprensa européia.

Para os europeus é difícil compreender a rejeição do Tribunal recém-criado para julgar crimes de guerra e contra a humanidade. Na realidade isso corresponde à tradicional necessidade americana de querer ter tudo sob o seu próprio controle. Daí o motivo de Washington só admitir prorrogar a missão de paz Bósnia mediante imunidade para os seus soldados no TPI. Para os aliados no velho continente isto se chama chantagem.

Fora Arafat

O segundo motivo das divergências transatlânticas chama-se Arafat. Para o presidente norte-americano, Arafat não é parceiro de negociações e enquanto tiver o apoio dos palestinos Bush não pretende fazer nada pela criação de um Estado soberano. Por isso, Bush arquivou, de repente, o seu discurso sobre o Estado palestino e com isso criou mais um problema com os europeus. Estes acham a conduta de Arafat em relação ao terrorismo realmente controvertida, mas entendem que só os palestinos podem tirá-lo do poder e por meio de eleições livres.

Investigações da Al Qaeda

As investigações da organização Al Qaeda na Alemanha são outro motivo de desavença. As leis, as diretrizes e os regulamentos alemães prejudicam muito as investigações de terroristas potenciais, segundo queixa freqüente de Washington. Além disso, todos os Estados da UE, sobretudo a Alemanha, se negam a extraditar supostos terroristas para os Estados Unidos, porque lá eles correm o risco de ser condenados à morte. A pena capital foi abolida na UE e todos os 15 países comunitários são, por princípio, contra ela em todo o mundo.

Gastos militares

Os EUA empreendem atualmente os maiores esforços armamentistas desde os tempos da Guerra Fria. Na Europa, ao contrário, os orçamentos da defesa diminuem, como se 11 de setembro não tivesse acontecido. O perigo do terrorismo é real nos Estados Unidos e a população tem medo. Não é de admirar, portanto, a tendência de Washington sempre querer agir sozinho na coalizão internacional que criou contra o terror, após os atentados em Nova Yorque e Washington, com saldo de quase três mil mortos.

Os aliados europeus, e a Alemanha com grande ênfase, prometeram apoio incondicional a Washington na luta antiterror, atenderam os pedidos de ajuda concreta, enviando bombardeiros, navios, tanques e soldados para o Afeganistão e a costa da África, mas não se dispõem a abrir de mão de princípios e valores democráticos.