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Crise brasileira será longa, diz Fraga

(pc)17 de setembro de 2002

A crise brasileira continua preocupando os europeus, mas Armínio Fraga tratou de dissipar os temores.

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Armínio Fraga (esquerda) e Pedro MalanFoto: AP

O Brasil só poderá sair da crise aos poucos, diz Fraga. Primeiro, é preciso que o novo governo prove que dará continuidade à sólida política de estabilidade econômica.

Apesar de a calma ter voltado ao mercado financeiro, depois que o FMI (Fundo Monetário Internacional) socorreu o Brasil com um pacote de US$ 30 bilhões, no mês de agosto, o presidente do Banco Central acha que o país ainda corre o risco de turbulências, e que a crise pode piorar.

Esperar pelo novo presidente

Depois do resultado das eleições, no mês de outubro, será preciso aguardar ainda a posse do novo presidente, em janeiro de 2003. Os mercados irão observá-lo atentamente, assegura o presidente do Banco Central.

Mesmo com um novo governo, ele garante que não haverá alteração substancial da política econômica: "Todos os principais candidatos aceitaram o princípio da responsabilidade fiscal e monetária." Fraga diz que aceitaria continuar na presidência do Banco Central, desde que suas diretrizes básicas fossem mantidas.

Dívidas em dólar

O principal argumento dos economistas internacionais que temem a quebra do Brasil é o peso do serviço da dívida brasileira, que representa 70% das exportações. Fraga estima que o tamanho da economia brasileira minimiza o risco de uma moratória. O importante, segundo ele, é que a recente desvalorização do real aumentou as exportações e a entrada de divisas. Isto contribui para resgatar a confiança do investidor estrangeiro.

Fraga descarta também problemas de pagamento da dívida por causa da desvalorização do real, já que os créditos de muitas empresas foram contraídos em dólar. "As empresas que têm dívida em dólar são as que recebem divisas." Por exemplo, as empresas exportadoras e também as siderúrgicas. O preço do aço está vinculado à cotação do dólar.

Além disso, o Brasil nunca cometeu o pecado mortal de outros países em crise, que é financiar o déficit de pagamentos por meio de créditos a curto prazo. O déficit de pagamentos brasileiro é financiado inteiramente com investimentos diretos do exterior.

Orçamento rígido e problemas sociais

Para assegurar o pagamento da dívida a longo prazo, é preciso que o orçamento brasileiro produza um superávit de 3,75% em relação ao BIP. Esta foi a meta fixada nos acordos com o FMI. Isto só depende da política, "mas eu estou otimista de que todos os candidatos à presidência irão cumpri-la", disse Fraga.

O presidente do Banco Central estima que a rigidez orçamentária não conduz automaticamente a problemas sociais. "Muitos países do mundo conseguem produzir um superávit ainda maior." Mas é necessário organizar muito bem o orçamento, para que as medidas de contenção social, que necessariamente terão de ser tomadas, não afetem o país.

Apesar do orçamento apertado, Fraga estima que o governo de Fernando Henrique Cardoso conseguiu nos últimos oito anos priorizar as políticas de saúde e educacional.

Mas não há alternativa política à rigidez orçamentária; só se consegue crescimento econômico com confiança na macroeconomia, concluiu o presidente do Banco Central.