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Crise migratória testa política de integração sueca

Richard Orange (jps)21 de outubro de 2015

Tentar integrar imigrantes do Oriente Médio não é algo novo para Suécia. Há 20 anos, país europeu abriu suas portas para iraquianos, mas com resultados ambíguos. Desafio agora é aperfeiçoar sistema e não repetir erros.

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Quase metade das pessoas que vivem na terceira maior cidade da Suécia, Malmö, tem origem estrangeiraFoto: picture-alliance/dpa/F.Gentsch

Não há lugar mais etnicamente misturado do que a praça Möllevaangen, na cidade sueca de Malmö. Não há café mais integrado do que o Simpan. E há poucos exemplos melhores de um iraquiano culturalmente adaptado do que Ram Alnashimi. O produtor musical está sentado sozinho, com um bloco de anotações e telefone à sua frente. Ele está planejando uma apresentação para o tocador de alaúde Jafar Hasan Aboud.

Para Alnashimi, que chegou na primeira onda de imigrantes iraquianos, em 1992, a chegada de mais de seus compatriotas torna o seu trabalho mais fácil.

"Tantos iraquianos famosos vieram à Suécia", afirma. "Eles mudaram bastante o país. Muitos iraquianos que vieram aqui são bons com a cultura, muitos são bem-educados."

Aboud, que fugiu para a Suécia em 2007, vai se juntar ao The Masguf Ensemble, um grupo de suecos étnicos que aprendeu a tocar instrumentos iraquianos com a ajuda de imigrantes.

Mas embora Alnashimi acredite que os iraquianos são o "grupo mais bem estabelecido entre aqueles originários de países árabes", eles ainda estão para trás em relação a outros grupos.

"Você não pode comparar os iraquianos com chilenos ou os iranianos", diz. "Eles estão há tempos na Suécia, já se misturaram à sociedade."

Empregos para quem procura

Quase metade das cerca de 270 mil pessoas que vivem na terceira maior cidade da Suécia, Malmö, tem origem estrangeira. E os iraquianos são o maior grupo. Mas poucos deles podem descrever seu círculo de amizades como "completamente integrado", como Alnashimi.

Se você deixar o café Simpan, com seus suecos que bancam o papel de artista e seus intelectuais imigrantes, e passar pelos feirantes de frutas e legumes que gritam em árabe na praça, você vai encontrar o Camoccia Café & Salladsbar, onde imigrantes encontram outros imigrantes.

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O produtor Ram Alnashimi: ele chegou na primeira onda de imigrantes iraquianos, em 1992Foto: DW/R. Orange

Muitos vivem em Rosengaard, um distrito distante três quilômetros, conhecido por conflitos regulares, onde mais de 80% das pessoas têm origem estrangeira. Median Zannoun, o dono do café e um bem-sucedido empresário iraquiano, lamenta o alto nível de desemprego na área.

"Há tantas pessoas em Rosengaard que procuraram educação e buscam se tornar engenheiros e médicos", afirma ele. "Se elas querem um trabalho, elas conseguem. Outras pessoas simplesmente não querem."

O próprio Zannoun chegou de Mosul em 1989. Conseguiu o emprego em uma fábrica de vidros e usou o dinheiro para começar seu próprio negócio cinco anos depois.

"Eu fui tratado da mesma forma que qualquer outro, da mesma maneira que um sueco", diz ele. "Pelo que disseram meus amigos na Alemanha e no Reino Unido, a Suécia parecem ser muito melhor para os imigrantes. Se você for uma pessoa normal, pode conseguir um trabalho, um apartamento e qualquer outra coisa."

Uma questão de timing

Os iraquianos mostraram disposição para iniciar pequenos negócios, e médicos e dentistas iraquianos estão firmemente estabelecidos. Mas, de acordo com Tamar Wahid Jassim, um engenheiro de 37 anos, a situação é mais dura para outros profissionais.

"Eu conheço uma pessoa com um mestrado em engenharia aeronáutica, mas que está sem trabalho. Ele só atua como mentor de novos recém-chegados", diz. "Não foi fácil entrar no mercado. Eu fui forçado a estudar um mestrado por dois anos. Alguém do governo me disse que eu deveria desistir e procurar um emprego em algum restaurante."

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O comerciante Median Zannoun: usou o dinheiro que ganhou em fábrica de vidros para começar próprio negócioFoto: DW/R. Orange

"É uma vergonha admitir isso, mas quase 60% dos iraquianos não têm qualquer educação e não querem se integrar. Não sei qual é a taxa de desemprego entre eles, mas é muito alta.”

Os iraquianos conseguiram chegar num momento melhor, afirma. "Os iranianos chegaram dez ou 15 anos antes, quando havia oferta de empregos. Eles conseguiram se estabelecer mais facilmente", afirma.

Os sírios que chegam hoje estão mais bem preparados. "Eles são mais abertos para o resto do mundo. Não é o que ocorreu com os iraquianos, que ficaram fechados por mais de 30 anos sob o regime de Saddam Hussein", opina.

Foco na educação

A partir do seu emprego noturno em um centro de imigração, Alnashimi acredita que o nível educacional dos iraquianos que chegam agora a Suécia está piorando.

"Você não pode comparar as pessoas que chegam agora com os meus pais", diz ele. "Quando viemos custava 50 mil dólares para trazer uma pessoa à Suécia. Hoje essa conta está mais para 500 dólares. Isso faz uma grande diferença."

Schweden Malmö Rosengaard
O distrito de Rosengaard, onde mais de 80% dos moradores têm origem estrangeiraFoto: picture-alliance/dpa/H. Fohringer

Ele também vê essa diferença entre os sírios. "Os que vieram três ou quatro anos atrás tinham uma educação melhor. Com os recém-chegados não acontece o mesmo. É sempre assim: os que fogem primeiro são aqueles com mais educação e dinheiro."

A Suécia está decidida a investir para que eles consigam alcançar os outros. Se você visitar a biblioteca de Rosengaard, vai ver homens e mulheres jovens – entre eles somalis, árabes e afegãos – debruçados sobre livros de exercícios, computadores ou prestando atenção em aulas de conversação.

A Suécia gastou ano passado 17 bilhões de euros para custear a vida de estudantes e também concedeu 15 bilhões de euros em empréstimos estudantis fora do seu já gratuito sistema universitário.

"É uma coisa fantástica pegar dinheiro para estudar", afirma Jasmin. "É uma oportunidade que você não encontra no Reino Unido e nos EUA."

A questão saber se os recém-chegados vão usufruir disso. Para que isso aconteça, as salas de leitura das universidades de Malmö e Lund terão que se tornar tão diversificadas como a praça Möllevaangen ou o café Simpan.