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Colombo e a música

DW (dds/av)12 de outubro de 2008

Grande e benfeitor da humanidade ou primeiro responsável por terríveis atos de exploração e extermínio? Mais de 500 após sua "descoberta", Colombo permanece ambivalente. E figura irresistível para a arte.

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Colombo, retrato de GhirlandaioFoto: PA/dpa

Embora cerca de 500 anos antes dele, vikings provenientes da Islândia já tivessem chegado ao continente americano, Cristóvão Colombo continua sendo considerado, via de regra, o "descobridor" da América. Isto porque somente a partir de suas viagens iniciou-se uma colonização duradoura e o povoamento contínuo do "Novo Mundo" com habitantes de outros continentes.

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Laboratório espacial que leva o nome do explorador genovês

Os méritos de Colombo são, até hoje, objeto de debates acalorados. De um lado, seu ímpeto desbravador, sua coragem de explorar águas e terras totalmente desconhecidas. Do outro, exploração, escravização, mesmo extermínio de povos indígenas.

Mas é justamente esta ambivalência que torna Colombo uma figura tão interessante para as artes. Também os músicos descobriram o tema para si, ainda que só 200 anos após o mítico 12 de outubro de 1492.

Italianos e um neto de Bach

A primeira obra sobre o tema de que se tem notícia é de Alessandro Scarlatti (1660-1725), cuja ópera Il Colombo ovvera L'India scoperta (Colombo ou a Índia descoberta) estreou na Itália em 1690. Entre as obras italianas que se seguiram, citem-se as de Vincenzo Fabrici, em 1788, e de Francesco Morlacchi em 1828. O mestre do belcanto Gaetano Donizetti (1797-1848) e o contrabaixista virtuoso Giovanni Bottesini (1821-1889) também compuseram, cada um, seu Cristoforo Colombo. A estréia da ópera de Bottesini deu-se em 1848, no Teatro Havana de Cuba.

Porém, a saga do genovês não inspirou apenas seus compatriotas. O primeiro músico alemão a se ocupar do tema foi Wilhelm Friedrich Ernst Bach (1759-1845), único neto de Johann Sebastian a alcançar fama como compositor.

Sua cantata Columbus oder die Entdeckung Amerikas (Colombo ou a descoberta da América) baseia-se num poema de Louise Brachmann (1777-1822). Ele enfatiza o suspense dos estágios finais da frota de Colombo: quando a viagem já ameaça revelar-se um fracasso e a tripulação amotinada está prestes a lançar seu comandante ao mar, vem o grito de terra à vista: "Und Land! Und Land!".

Obsessão custosa

A data e o local precisos do nascimento de Cristoforo Colombo, nome original do aventureiro, são desconhecidos: estima-se que nasceu em 1451 em Gênova, Itália. Em 1477 mudou-se para Lisboa, na época, um dos principais centros de navegação da Europa.

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Réplica da nau Niña parte em 2005 de Maysville, EUAFoto: AP

A partir de 1480, se tornou obcecado pela ambição de encontrar um caminho para as Índias, navegando para o ocidente. Após verdadeira campanha para financiar seu projeto, recebeu dos reis da Espanha a missão oficial de procurar a preciosa rota marítima. Em caso de sucesso, uma série de privilégios lhe estaria garantida.

Colombo içou velas em 3 de agosto de 1492, a bordo da caravela Santa Maria. Após inúmeros perigos, catástrofes naturais imprevistas e ameaças de motim, a pequena frota sob seu comando alcançou em 12 de outubro uma ilha nas atuais Bahamas, à qual deu o nome de San Salvador.

Até sua morte, em 1506, o delírio de explorador custou a Colombo pelo menos nove de seus numerosos navios. Sem falar nas vidas de tantos que o acompanharam, por entusiasmo, necessidade, ou ambição.

Carlos Gomes, Milhaud e outros

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Idealização: Colombo e seus homens chegam a San SalvadorFoto: AP

No século 19, Colombo foi celebrado, sobretudo, como herói patriótico, mito da era moderna, pioneiro da navegação – e da globalização, se empregarmos um termo contemporâneo. Neste espírito é a cantata Colombo, do brasileiro Antônio Carlos Gomes (1836-1896), natural de Campinas.

Alberto Franchetti (1860-1942), em Cristoforo Colombo, estreada em 1892 na Ópera de Gênova, o apresenta, pela primeira vez, como personagem trágica, no fundo, um herói inativo. Para evitar derramamento de sangue, no terceiro ato o protagonista ordena a seus seguidores que deponham armas e se deixa prender.

A ópera de Franchetti granjeou a admiração do colega Giuseppe Verdi e do maestro Arturo Toscanini. Ao final, seu Colombo morre em plena consciência do êxito de seus descobrimentos, mas também das crueldades da colonização por ele iniciada.

Igualmente consciente da ambivalência da personagem é o libreto de Paul Claudel, sobre o qual se baseia a ópera do francês e entusiasta do Brasil Darius Milhaud (1892-1974). Seu Christophe Colomb é descobridor, mas também colonizador, vendedor de escravos e sedento de ouro. A primeira montagem realizou-se me 1930, na Ópera Unter den Linden, em Berlim. Dois anos antes, Erwin Dressel estreara sua Armer Kolumbus (Pobre Colombo) em Kassel.

O rádio, Caballé e a Coca-Cola

Columbus, ópera para o rádio de Werner Egk (1901-1983), é a primeira a utilizar, em 1933, citações de fontes originais, num esforço de apresentar os eventos com fidelidade histórica. Nove anos mais tarde, por ocasião dos 450 anos do descobrimento, o poeta britânico Louis MacNeice escreve a peça radiofônica Christopher Columbus: A musical journey, uma irônica prestação de contas com o espírito imperialista, com música de William Walton (1902-1983).

Em Atlántida, o espanhol Manuel de Falla (1876-1946) encontrou naturalmente um lugar de herói para Colombo. A cantata cênica, a que se dedicou durante os últimos 20 anos de sua vida, é uma glorificação do passado colonizador de seu país e de uma Igreja Católica triunfante.

Montserrat Caballes
Soprano espanhola Montserrat CaballéFoto: AP

O controvertido herói retorna ao palco em 1982, em Cristóbal Colón, de Leonardo Balada (1933). Estreada em Barcelona, ela foi saudada como homenagem espetacular ao descobridor, utilizando todos os registros do teatro musical. A ópera deveu certamente boa parte de seu sucesso de público às participações da soprano Montserrat Caballé e do tenor José Carreras.

O papa da música minimalista Philipp Glass tampouco deixou de homenagear Colombo no 500º jubileu da chegada à América, em 1992, com a ópera The voyage, com estréia no Metropolitan de Nova York.

Porém o título de "versão mais irreverente" vai provavelmente para Christopher Columbus, de Don White e Patric Schmid. Negando totalmente qualquer idealização do explorador genovês, os fundadores do teatro Opera Rara criaram em 1976 uma opereta a partir da reciclagem de peças de Jacques Offenbach (1819-1880). O final é surpreendentemente feliz: Cristóvão descobre a árvore da Coca-Cola na ilha de Manhattan e se torna multimilionário.