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Cronologia da crise na Venezuela

Eva Usi (kg)31 de maio de 2015

Repressão contra os protestos anti-governo polariza a sociedade venezuelana. Descontentamento com economia e segurança leva o país a uma grave crise política.

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Foto: Reuters/Carlos Garcia Rawlins

2014 não foi um ano bom para a Venezuela. Os preços aumentaram 68% e a economia sofreu recessão. O colapso do valor do petróleo acentuou ainda mais os problemas do país: as receitas de exportação desse recurso natural caíram pela metade. A incapacidade do governo de Nicolás Maduro em dar respostas efetivas a esses desafios fez com que a popularidade do governo caísse para 23%.

O governo de Maduro apresenta traços de autoritarismo desde que ele foi eleito em 2013. As manifestações contra a política econômica do país, devido ao estrito controle de preços, foram reprimidas com uso de força. Dezenas de pessoas foram mortas, centenas ficaram feridas e milhares foram detidas.

Cronologia

Janeiro de 2014: Os assassinatos do estudante Héctor Moreno, da Universidade dos Andes e, no dia seguinte, da Miss Venezuela, Mónica Spear, geraram um descontentamento nacional com a segurança pública. Em 2013, foram registradas 24.763 mortes violentas, cifra que faz da Venezuela um dos países mais perigosos da América Latina.

Fevereiro de 2014:A tentativa de estupro de uma jovem na Universidade dos Andes, na cidade de São Cristóvão, provocou uma série de protestos estudantis nas províncias de Táchira e Mérida, no extremo oeste do país, contra a falta de segurança, a escassez de alimentos, a crise econômica e a corrupção.

Dias depois, a capital Caracas foi tomada por protestos convocadas pelos líderes da oposição venezuelana Antonio Ledezma, María Corina Machado e Leopoldo López, além de movimentos estudantis. Em resposta, Maduro chamou os seguidores chavistas para uma mobilização. Quando os estudantes estavam prestes a encerrar a marcha, um grupo de pessoas encapuzadas, em motos, abriu fogo contra eles.

Os estudantes Bassil da Costa, de 24 anos, e Neyder Arellano Sierra morreram na ocasião. O jovem Robert Redman, que ajudou a transportar o corpo de Bassil, denunciou em sua conta no Twitter que levou golpes da polícia e um tiro no braço horas depois da confusão. Minutos depois de fazer a postagem, Redman foi assassinado. Jornalistas venezuelanos e internacionais também foram vítimas de abusos por parte das autoridades. Os protestos continuaram por vários meses. Mais de 40 pessoas foram mortas.

Os protestos se acirraram em várias cidades do país contra a escassez crônica de produtos básicos e os altos níveis de violência. O regime de Maduro convocou seus seguidores em Caracas e em outras partes da Venezuela e classificou os líderes da oposição e do movimento estudantil como incitadores da violência e do ódio "fascista".

Leopoldo López, líder da oposição venezuelana, se entregou às forças de segurança da Venezuela depois de permanecer escondido por quatro dias. Antes de ser preso, ele declarou que estava se entregando a uma justiça injusta e corrupta. Ele assegurou que não passaria à clandestinidade e nem abandonaria seu país.

O governo venezuelano retirou o sinal e a licença de funcionamento da emissora colombiana NTN24 e da rede americana CNN. No dia seguinte, o governo reconsiderou a decisão em relação à CNN. As duas emissoras transmitiam ao vivo os protestos estudantis e os ataques da polícia contra os jovens.

Maduro também proibiu redes de rádio e televisão de transmitir os protestos. O Twitter acusou o governo venezuelano de bloquear a divulgação de imagens das manifestações. A falta de papel, cuja compra deve ser autorizada pelo governo, obrigou 11 jornais impressos a encerrar as atividades.

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Líder oposicionista Leopoldo López foi preso em fevereiro de 2014Foto: Reuters

Março de 2014: A ONU pediu a investigação dos episódios de violência na Venezuela e a apuração ampla dos maus tratos, abusos e assassinatos para levar à Justiça os responsáveis. A Anistia Internacional denunciou que o crescente clima de violência e polarização infringiam os direitos humanos.

Em março, a cifra de mortes já passava de 20 e a de feridos mais de 300. Entre as vítimas, civis que protestavam a favor e contra o governo e agentes das forças de segurança. Mais de 1,3 mil pessoas foram detidas. A maioria conseguiu liberdade por meio de fiança. Trabalhadores da saúde se uniram ao movimento estudantil para denunciar a falta de medicamentos e material cirúrgico.

Maio de 2014:Uma missão de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasur) chegou à Venezuela com o objetivo de impulsionar o diálogo entre o governo e a oposição. Os líderes oposicionistas diziam que não voltariam a se sentar com representantes do governo enquanto a repressão contra os estudantes continuasse e os acordos não fossem cumpridos.

Junho de 2014:A organização Human Rights Watch pediu à Unasur que repudie os gravíssimos abusos de direitos humanos cometidos pelos agentes estatais da Venezuela.

31 de dezembro:Maduro admitiu que o país passava por uma grave crise. Com quedas consecutivas do PIB nos três primeiros trimestres de 2014, o Banco Central da Venezuela declarou que a economia do país estava em recessão. A instituição ainda anunciou um aumento de 4,7% no índice de preços ao consumidor somente no mês de novembro, o que equivale a uma média anual de 63,3%. O banco estatal admitiu que a Venezuela é campeã mundial em inflação.

Fevereiro de 2015: O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, foi preso numa operação do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional. Ele foi acusado de integrar a "Operação Jericó", um suposto plano para derrubar o governo. O advogado de Ledezma afirmou que o ex-prefeito desconhecia os motivos da detenção.

23 de maio de 2015:Em um vídeo gravado de dentro da prisão, Leopoldo López anunciou uma greve de fome horas depois de o oposicionista Daniel Ceballos ser transferido, sem aviso prévio, para um presídio na periferia de Caracas. Na gravação, López exigiu que todos os presos políticos sejam libertados e que seja definida uma data para as eleições parlamentares. Ele convocou também os venezuelanos para irem às ruas em 30 de maio contra o governo de Maduro.