1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Cunhado de Nietzsche criou colônia racista no Paraguai no século 19

Marc von Lüpke-Schwarz (av)9 de agosto de 2013

Em 1887, Bernhard Förster, cunhado do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, partiu para fundar uma colônia "racialmente pura" na América do Sul. A "Nueva Germania" existe até hoje, mas a ideologia racista fracassou.

https://p.dw.com/p/19LQO
Foto: ullstein bild

O filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) bem que desejou um outro marido para sua irmã Elisabeth. No entanto, em 1865, ela decidiu casar-se justamente com o professor secundário berlinense Bernhard Förster.

Durante o reinado do último imperador alemão, Guilherme 2º, Förster angariara uma péssima fama como antissemita. Foi afastado do ensino depois de uma briga de rua com o empresário judeu do ramo de bebidas Edmund Kantorowicz. A partir de então, passou a se apresentar como "mártir". Em 1886, abandonou a Alemanha, juntamente com Elisabeth Förster-Nietzsche, numa caravana de 14 famílias, com o fim de assegurar a sobrevivência da "raça ariana".

Friedrich Nietzsche
O filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900)Foto: Getty Images

Viagem ao Paraguai

O destino da viagem era o Paraguai. Lá – segundo as expectativas de Förster –, as pessoas podiam novamente tornar-se "saudáveis", através de um estilo de vida em harmonia com natureza e do abandono das "más influências" da civilização.

Parte importante de sua ideologia era excluir tudo o que fosse supostamente judeu: por isso sua sociedade "racialmente pura" teria que ser fundada longe da Alemanha. A comunidade cultivava, ainda, ideias socialistas e o vegetarianismo – com base na opção alimentar do próprio casal Förster-Nietzsche.

Para o governo paraguaio, os alemães eram bem-vindos. O país estava numa situação catastrófica: após a Guerra do Paraguai, travada contra a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) em 1870, o Paraguai não só perdera a metade do território nacional, como 80% dos homens aptos ao serviço militar. Portanto, não era de espantar que o governo em Assunção estivesse disposto a receber de braços abertos um grupo de colonos dispostos a investir no país.

Dependência de apoio alemão

A colônia "Nueva Germania" foi fundada em 1887 como primeiro assentamento privado do Paraguai, para o qual o governo de Assunção concedera mais de 20 mil hectares de terra, a 90 quilômetros a sudeste da cidade de Concepción (leste), onde somente alemães eram aceitos.

Os primeiros anos foram penosos para os "novos germânicos": além de atormentados por pragas e parasitas, suas colheitas eram miseráveis.

O racista Förster doutrinava os colonos segundo sua brutal visão de mundo. Já durante a viagem de navio até o chamado Novo Mundo, fazia palestras sobre temas como a "Purificação e renascimento da raça humana" ou a "Salvação da cultura da humanidade".

Uma cláusula no contrato entre o governo do Paraguai e Förster determinava que, se dentro de dois anos não houvesse 140 famílias alemãs vivendo na colônia, a concessão das terras seria rescindida. Isso obrigava o ideólogo a fazer forte propaganda na Alemanha, tanto para conquistar novos colonos como para angariar doações para seu projeto.

Friedrich Nietzsche, que repudiava o antissemitismo, negou veementemente qualquer tipo de apoio financeiro. Sua irmã tentou convencê-lo por todos os meios, sugerindo, por exemplo, que uma área da Nueva Germania fosse denominada "Bosque de Friedrich". O filósofo respondeu com sarcasmo: era melhor o nome "Lamaland" – "Lama" era o apelido que Nietzsche usava para Elisabeth.

Porträt - Elisabeth Förster-Nietzsche
Elisabeth Förster-Nietzsche (1846-1935): inicialmente, ela manteve-se leal às ideias do maridoFoto: ullstein bild

Fracasso do racismo

A recusa de Nietzsche de investir no projeto mostrou-se sábia também do ponto de vista econômico, pois após dois anos nada foi adiante. Enquanto a família iniciadora residia na luxuosa "Corte de Förster", os demais colonos viviam em condições bem modestas. Elisabeth chegava a dizer que Nueva Germania era seu principado. Seu marido, por sua vez, desenvolvera uma insalubre paixão pelo álcool.

Quando, em 1889, foi divulgado um relatório sobre as verdadeiras condições de vida na colônia, Förster cometeu suicídio. Sua criação, contudo, seguiu existindo, mesmo depois que a viúva retornou para a Alemanha.

Até hoje, os descendentes daqueles colonos alemães que o casal quis instalar na selva vivem em Nueva Germania. Alguns casaram-se com habitantes do local, num testemunho inegável de que a terrível propaganda racista de Förster não teve sucesso na região.