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Düsseldorf mostra 68 altares de todo o mundo

Neusa Soliz29 de dezembro de 2001

Deus e ídolos merecem adoração. Os altares de culto expostos na capital da Renânia do Norte-Vestfália dão uma ampla visão das religiões do mundo e das estranhas entidades que mereceram adoração no século XX.

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"Pavilhão Cerimonial dos 37 Naq" - Museum Kunst PalastFoto: museum kunst palast

O Museu Kunst-Palast, em Düsseldorf, apresenta uma exposição ao mesmo tempo de valor etnológico, religioso e artístico: "Altares – Arte para Ajoelhar-se" é o seu título. Em quatro imensos salões, com cerca de 3 mil metros quadrados, são exibidos 68 altares de 34 países. É a primeira vez que são aparecem numa exposição altares ainda usados em cultos, ressaltou o diretor do museu, Jean-Hubert Martin.

Construído em 1926 numa estética que lembra as construções apoteóticas dos nazistas, com imensas praças para comícios, o complexo do museu estava praticamente abandonado, até ser reformado num ambicioso projeto do arquiteto Oswald Mathias Ungers, que custou 78 milhões de marcos. Ele só se tornou possível graças a uma fundação criada pela prefeitura da cidade e a companhia energética E.ON e foi reinaugurado este ano.

Cores chocam presidente

O presidente alemão, Johannes Rau, o primeiro visitante da exposição, confessou ter ficado "um pouco confuso" com o colorido impressionante dos altares, algo incomum para um luterano como ele. De fato, a explosão de cores nos altares – muitos deles com vários metros de altura – é de forte impacto.

Nesse sentido, o altar budista japonês do Templo Ekô-Ji, clássico em sua beleza em preto e bege, é uma exceção. Embora japonês, esse templo não se encontra no Japão e, sim, em Düsseldorf, onde vive a maior colônia de japoneses na Alemanha.

Aproximadamente a metade dos objetos é da Ásia e representa desde a imagem tradicional de Buda (representado em vestes vermelhas e com uma chama sobre a cabeça no altar de Sri Lanka), passando pela vingativa Kali, da Índia (que além de pisotear seu marido, empunha um facão e ostenta no pescoço um colar com as cabeças decapitadas de seus inimigos), até altares de homenagem aos mestres da dança "Khôn", da Tailândia, no qual se vêem suas máscaras e instrumentos musicais.

Um altar para o automóvel

O que logo atrai os olhares, no primeiro salão da exposição, é "um automóvel-altar" da Coréia do Sul. Diante do automóvel novo, vê-se o que qualquer brasileiro identificaria como um "despacho" de macumba: uma toalha no chão, velas, uma cabeça de porco e oferendas como bolachas de arroz.

O que se chamou de altar, na verdade, é uma cerimônia antes da "benção" de um automóvel novo. Seu fim é apaziguar os deuses e pedir proteção contra acidentes a seu proprietário, que deve se ajoelhar diante do "altar" e oferecer vinho. Um novo Deus do século XX chamado automóvel ou consumo?

Deus televisão

O processo de liberalização do hinduísmo na Índia moderna fica patente nos altares que misturam elementos de culto com o kitsch das sociedades de massa na era da mídia.

Um dos objetos mais curiosos da exposição em Düsseldorf é uma televisão adornada, na qual se vê o vídeo de uma série de tevê : o mais novo "altar" que os hindus descobriram para adorar seus deuses, sob a forma de novelas e séries, como as que contam a estória de Ramayana e Mahabharata, as duas grandes epopéias do hinduísmo.

Umbanda forjada

Das Américas, não poderiam faltar os exemplos de sincretismo religioso do Brasil e do Caribe. Os altares de umbanda e candomblé do Brasil, porém, não são autênticos, dando a impressão de terem sido montados por quem comprou tudo o que encontrou nas lojas de artigos do culto e dispôs as peças numa ordem naïf: São Jorge e dragão, ao lado dos demais santos católicos no altar principal, pretos velhos à esquerda e índios à direita.

Manto de Obatala
"Manto de obatala"Foto: museum kunst palast

Isso demonstra que nem todos os "altares" eram autênticos, mas sim reproduções realizadas por "artistas-sacerdotes", como informaram os organizadores.

Mais interessantes são os altares da "santeria" cubana, que tem a mesma origem africana dos cultos brasileiros trazidos pelos escravos. O museu expõe alguns altares de Regla, perto de Havana, onde os preciosos enfeites e imagens são guardados em cristaleiras, móveis antigos dos tempos de uma Cuba pré-socialista.

Também de grande efeito é o altar mexicano, cheio das caveiras do culto do Dia de Finados, em que os mortos voltam à terra para matar a saudade dos vivos. Um altar imenso e colorido, com uma estética que lembra, se não as pinturas, o México de Frida Kahlo.

Christlich-synkretistischer Altar
Altar sincrético cristãoFoto: museum kunst palast

Altares portáteis, altares simples de pedras, tótens de madeira, flores de pano, altares de procissão católicos, sóbrios altares protestantes e até um quadro de grãos e sementes, como os que são desenhados no chão das igrejas católicas nos dias de ação de graças pela colheita, tudo isso pode-se ver, somente até 6 de janeiro, no Kunst Museum Palast, às margens do Reno.

Altares de ídolos pop

Entre os objetos exóticos do Oriente e de cultos pouco conhecidos, chama a atenção um "Elvis Peepbox", uma vitrine com uma guitarra e objetos que pertenceram ao lendário cantor de rock, idolatrado pelos seus fãs. E para ilustrar que a música pop se transformou num cult, também um "altar" do grupo de rock de Colônia, BAP. De autoria do cantor, compositor e pintor Wolfgang Niedecken, ele foi composto com todo tipo de objeto dado ou jogado pelos fãs aos seus ídolos no palco.