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Quem será o próximo?

6 de julho de 2010

No dia em que Dalai Lama completa 75 anos, especialistas falam sobre o risco que envolve a escolha do próximo líder tibetano: a manipulação do governo chinês pode minar a liderança espiritual e política de seu sucessor.

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Dalai Lama comemora em Dharmsala, ÍndiaFoto: AP

Dalai Lama chega aos 75 anos nesta terça-feira (06/07), mas as comemorações são um tanto restritas. Não é em todo lugar do mundo que os tibetanos podem celebrar o aniversário de seu líder espiritual e político: no Nepal, mais de cem refugiados foram presos depois de se reunirem para festejá-lo.

O governo proibiu os quase 200 mil tibetanos que vivem no Nepal de comemorar em lugares públicos o aniversário do líder exilado – o país considera o Tibete como parte do território da China.

Em 1959, Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama, deixou o Tibete após uma tentativa frustrada de levante contra o domínio chinês. Desde então, ele vive na cidade indiana de Dharamsala, no nordeste do país. Muitos tibetanos o reverenciam como um deus vivo, o que faz de sua sucessão um assunto sensível e complicado.

Complicada sucessão

"Tradicionalmente, o Dalai Lama é um monge e também o líder de Estado no Tibete. Além disso, é considerado tão espiritualmente avançado pelos tibetanos que eles chegam a acreditar que, quando ele morre, é capaz de controlar sua própria reencarnação", explica Paul Williams, especialista da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Uma vez que tibetanos e budistas acreditam em reencarnação, Paul Williams ressalta a sensibilidade da questão que envolve a sucessão do Dalai Lama. "Estamos falando da pessoa que será considerada a reencarnação do atual Dalai Lama ou daquela que será considerada politicamente o líder do governo tibetano no exílio?"

Dalai Lama Flash-Galerie
Dalai Lama e Mao Tse Tung, em 1954, antes do exílio do líder tibetanoFoto: AP

Vida política

Nos últimos anos, o atual Dalai Lama tem separado claramente sua responsabilidade política do seu trabalho espiritual. "Sua Santidade diz que, no que diz respeito a suas responsabilidades políticas, está semiaposentado", diz o porta-voz do governo tibetano, Thubten Samphel.

"Ele passou muito de suas responsabilidades políticas para líderes eleitos. Já as responsabilidades espirituais de Sua Santidade, o Dalai Lama, terão continuidade com o seu sucessor", esclarece Samphel.

Ainda assim, não está claro como os tibetanos no exílio escolherão seu novo líder. Segundo Thubten Samphel, a liderança política eleita irá supervisionar o processo de sucessão. O próprio líder espiritual já havia indicado que seu sucessor poderia ser escolhido ainda antes de sua morte ou até mesmo ser eleito democraticamente.

"Há um legado na história tibetana que prevê o reconhecimento e a encarnação do Dalai Lama antes da morte de seu predecessor. Essa tradição existe. Mas, no momento, não posso dizer se isto será levado adiante por Sua Santidade. É uma decisão dele", conclui o porta-voz.

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O 11º Panchen Lama escolhido pelo governo chinêsFoto: AP

Interferência chinesa

A questão da sucessão tem ficado cada vez mais espinhosa desde que o Dalai Lama ungiu, em 1995, uma criança de seis anos como sendo a reencarnação de Panchen Lama, a segunda figura mais importante no budismo tibetano. Pouco tempo depois, a criança desapareceu e Pequim escolheu o seu próprio Panchen Lama.

Observadores dizem que o regime comunista e a liderança chinesa, em grande parte ateísta, deverão interferir e manipular os fatos depois da morte do Dalai Lama, instituindo um líder próprio.

"Os chineses poderiam dizer que descobriram o correto, o real reencarnado. E que ele está no Tibete com eles, que irão treiná-lo, apresentá-lo quando estiver mais velho e anunciar a todos que ele é o Dalai Lama e deverá ser o líder do Tibete – claro, sob o controle chinês", diz Paul Williams.

Ainda na semana passada, um velho líder chinês disse que todas as reencarnações de líderes espirituais tibetanos precisam ser aprovadas pelo governo central em Pequim.

Autora: Disch Uppal / Nádia Pontes
Revisão: Rodrigo Rimon