1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

De Berlioz a Ligeti: festa para o teatro musical

Augusto Valente13 de janeiro de 2003

A música clássica tem um grande ano pela frente, marcado por numerosos jubileus. Dentre os homenageados, compositores contemporâneos de ópera, como György Ligeti e Boris Blacher. E um francês do século 19.

https://p.dw.com/p/37rN
Simon Rattle, titular da Filarmônica de Berlim,Foto: AP

A Alemanha celebra Hector Berlioz. Em 11 de dezembro, completa-se o bicentenário deste compositor que escapa a todas as classificações. Já no primeiro dia do ano, a Orquestra Sinfônica de Berlim, sob a regência de seu maestro titular, Eliahu Inbal, executou a ousada Sinfonia Fantástica, lado a lado com sua menos conhecida continuação, Lélio ou Le retour à la vie, uma série de seis episódios orquestrais, entremeados com textos narrados. Seguem-se três récitas concertantes da ópera Romeu e Julieta, entre 17 e 19 de janeiro, com Simon Rattle à frente do Coro da Rádio de Berlim e da Filarmônica de Berlim.

Em 19 de janeiro, a mesma orquestra executa a Missa solene, regida por Alois Koch e com a participação do Collegium Musicum Luzern e da Schola Cantorum Wettingensis. Outra grande obra sacra de Berlioz, o Réquiem, está programada em Braunschweig e para a Kunstfest Weimar.

Também concertantes serão as diversas apresentações programadas de Les Troyens, que o compositor francês escreveu aos 60 anos de idade. Na Alemanha, a ópera só teve sua estréia em 1890, em Karlsruhe. Devido a sua monumentalidade e complexidade, Les Troyens continua sendo uma filha enjeitada dos palcos alemães: após adiar sua estréia repetidas vezes, a Ópera Nacional Unter den Linden, de Berlim, acabou por recentemente abdicar de vez do projeto.

A hora e a vez da ópera

Um dos demais homenageados musicais de 2003 é Boris Blacher, que completaria 100 anos em 19 de janeiro. O músico falecido em 1975 especializou-se num teatro musical estilizado. Ele escreveu várias obras para a Deutsche Oper de Berlim, dentre as quais Das preussische Märchen. Por sua vez, Bertolt Goldschmidt (1903–1997), natural de Berlim, foi forçado pelo regime nazista a emigrar da Alemanha. Pouco antes de sua morte, ele teve duas óperas lançadas em CD: Beatrice Cenci e Der gewaltige Hahnrei. Especialista em Gustav Mahler, Goldschmidt assistiu Simon Rattle no estudo de algumas obras daquele grande sinfonista austríaco.

Um outro autor dos palcos cumpre um jubileu este ano: trata-se de Udo Zimmermann, compositor de Die weisse Rose e Levins Mühle. Dentre as personalidades musicais que o influenciaram, ele cita György Ligeti, que em 28 de maio também fará 80 anos. Este compositor nascido na Transilvânia escapou da revolução de 1956 em sua pátria indo para Viena. Nos anos 60 estabeleceu-se na Alemanha, acabando por naturalizar-se. Ligeti é considerado uma das principais figuras da música contemporânea européia.

Ao longo das décadas, seu estilo evoluiu em direções sempre inesperadas: das raízes nacionalistas, sob a influência de Bela Bartók, ele passou por um exuberante impressionismo orquestral (Atmosphères), pelo dadaísmo não verbal de Aventures e Nouvelles aventures e por um minimalismo algorítmico, temperado pelo interesse em fractais e teoria do caos. As obras mais recentes de Ligeti – dentre as quais a ópera Le grand Macabre e os três cadernos de estudos para piano – incorporam elementos da world music e uma releitura freqüentemente irônica da tradição clássico-romântica européia.