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Troca da guarda

(sv)11 de maio de 2007

Tony Blair sai e Gordon Brown entra em cena. A mídia européia comenta a mudança política no Reino Unido.

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Blair (esq.) e Brown, seu provável sucessorFoto: AP

Depois de anunciar, na última quinta-feira (10/05), que deixa a liderança do Partido Trabalhista e o governo no próximo 27 de junho, o premiê britânico Tony Blair declarou nesta sexta-feira (11/05) seu total apoio a Gordon Brown como seu provável sucessor.

Segundo Blair, o atual ministro da Fazenda Brown é "um talento extraordinário e raro", plenamente capaz de conduzir o Partido Trabalhista e o país. Brown, por sua vez, elogiou a "distinção e coragem" com que Blair conduziu o país nos últimos dez anos.

A mídia européia comenta a mudança no governo em Londres:

Ninguém pede bis

"O período de Blair no governo foi uma encenação que acabou, afinal, demorando demais para os britânicos. O premiê agiu como um ator, pleiteou muito e acabou conseguindo o contrário. As heranças deixadas por ele são a paz na Irlanda do Norte e guerra do Iraque. [...] Até agora, ninguém pediu bis. Pelo contrário: Os eleitores comportaram-se muito mais à maneira não sentimental do público teatral de Londres, que, com freqüência, pega o casaco debaixo da cadeira e deixa a sala antes mesmo do fim do espetáculo.

O drama Blair, pelo que parece, acabou demorando demais para o gosto de alguns. [...] Um ator como Blair, certamente Brown não é. Ele pode ser comparado é ao produtor, que alinhava a peça sem ser visto e sem assumir a responsabilidade de um fracasso no palco. Agora, porém, o tímido Brown terá que se expor às luzes da mídia e não só o público britânico se pergunta como ele vai se sair nesse papel."

(Süddeutsche Zeitung)

Culpa pelo maior erro

"Tony Blair deixa o Reino Unido como um país mudado. Um país mais tolerante, mais social, mais misturado etnicamente e, em todos os sentidos, mais aberto que dez anos atrás. Também um país com mais desigualdades e, infelizmente, menos flexível em termos de mobilidade social. Se Blair foi responsável por isso tudo ou se isso é apenas um reflexo dos tempos, fica em aberto.

O que, sem dúvida, não está em discussão é sua culpa no maior erro da política externa do pós-guerra. As conseqüências disso ainda deverão ser sentidas por muito tempo. Esta é a inscrição trágica de Tony Blair ao fim de sua década como primeiro-ministro."

(The Independent)

Democracia televisiva

"Estes dias, Tony Blair encena sua tão preparada renúncia e Gordon Brown, o ministro da Fazenda com suas muitas qualidades, vai daqui a pouco adentrar a Downing Street número 10. [...]

Uma coisa é certa: o escocês Brown não é um raio de sol. Vive discretamente e não é um político da democracia televisiva. E porque é seu partido e não o povo que o coloca no trono, ele precisa lutar ainda mais arduamente para ganhar os corações dos eleitores."

(Die Zeit)

Nó na garganta

"No lugar onde sua aventura começou, Tony Blair conduz o começo do fim. [...] Ainda restam a ele sete semanas para governar, na esperança de que o sucessor indicado Gordon Brown assuma seu lugar.

Mas o discurso, que põe fim a uma época, sua despedida dos correligionários e do país, tudo isso aconteceu ali [no Durham Labour Club]. Depois de uma década inesquecível, a cortina começa a se fechar para Tony Blair. Depois de Bill Clinton, aposenta-se mais um toureiro da política internacional. E não só ele tem um nó na garganta."

(La Repubblica)

Mercado e solidariedade

"É certo que Tony Blair deixa um balanço de contrastes, mas, de forma geral, tudo parece melhor do que aquilo que se fez na França. Há mais bilionários no Reino Unido do que antes, mas também muito menos pobres. No mercado de trabalho em bom funcionamento, é fácil encontrar emprego.

Nunca um governo britânico investiu tanto no setor público, principalmente na educação como este. Em suma, Tony Blair, o liberal, desenvolveu a economia de mercado e fortaleceu, ao mesmo tempo, os instrumentos da solidariedade. Não se pode simplesmente copiar estes experimentos. Mas pode-se, pelo menos, pensar sobre eles."

(Libération)

Euforia desbotada

"Ao contrário da maestria da encenação de sua pessoa, um balanço sóbrio dos anos de governo não é tão brilhante assim. [...] A euforia que acompanhou Blair em seu período inicial como chefe de governo parece tão gasta quanto o modismo Cool Britannia, que deveria, no passado, sugerir mudança, modernidade e abertura ao mundo.

Este efeito não deixa de ser o outro lado do eficaz aparato de relações públicas criado por Blair. O esforço de impor em todo acontecimento a 'virada' certa acabou voltando contra o próprio premiê no fim de seu mandato."

(Neue Zürcher Zeitung)

Personalidade como poucos

"Tony Blair costumava dividir o mundo entre otimistas e cínicos. Não há dúvidas a qual das duas categorias ele próprio se encaixava. Seu otimismo era, às vezes, auxiliado por uma manipulação desconfortável da mídia – uma forma de modernização, na qual seu governo certamente exagerou.

Isso não muda nada no fato de que ele conseguiu transformar o Reino Unido num país que olha com confiança para o futuro. Se esse lado do seu governo, ao qual pertencem também seu engajamento pela África e a política climática, será ofuscado pelos efeitos da guerra no Iraque, só o tempo vai dizer. Mas com seu afastamento o mundo terá, sem dúvida, um chefe de governo de personalidade marcante a menos."

(de Volkskrant)