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De política e paetês

Augusto Valente5 de julho de 2003

Chegou a vez de Colônia: após invadirem Berlim, Paris e Madri, gays, lésbicas e simpatizantes de todas as partes do mundo preparam-se para tomar de assalto a "San Francisco alemã", neste primeiro fim de semana de julho.

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Christopher Street Day com charme carnavalescoFoto: AP

Trata-se do Dia do Orgulho Gay, ou CSD – o Christopher Street Day. Inicialmente importado dos Estados Unidos como manifestação política, essa comemoração tornou-se possivelmente o maior e mais animado evento de rua do verão coloniano, competindo tranqüilamente com o festival de música PopKomm. E ameaçando abalar até a secular tradição do Carnaval local, que sofre a desvantagem de ser realizado em pleno inverno.

Mais uma vez, a metrópole às margens do Rio Reno prepara-se para participar do colorido desfile de rua. Seus 40 mil participantes distribuídos em 100 carros provavelmente ilustram todas as facções do mundo gay: de estridentes travestis a clones musculosos, "ursos" barbudos, das associações de pais, policiais, gregos, turcos ou jovens homossexuais a fetichistas de couro e borracha, bissexuais, transexuais, sado-masoquistas (infiltrados!) e o que mais se possa imaginar.

Por sua vez, os espectadores – de zero aos 90 anos de idade, sem distinção de cor, religião ou preferência sexual – têm que estar preparados para receber tanto os brindes, que vão de bonés a preservativos, como os jatos de água e de espuma que jorram de alguns carros. Ou, quem sabe, até uma surpreendente cantada.

Tolerância movida a euros?

Zwei küssende Engel auf dem CSD in Hamburg
Hamburgo, 08/06/2002Foto: AP

O público deste CSD é decididamente internacional: há meses, revistas especializadas da Holanda e da França apresentam ofertas para um excitante fim de semana na chamada "San Francisco da Alemanha". Como no ano passado, a prefeitura da cidade investiu 20 mil euros em publicidade para o evento.

O aparente gesto de generosidade tem motivação sobretudo pecuniária. Cada turista – estima-se que serão mais de um milhão este ano – gasta uma média de 75 euros: do volumoso total, a cidade se beneficiará não só direta como indiretamente, na forma de impostos.

Como nada vem do nada, os dois dias de folia custam cerca de 650 mil euros, dos quais um terço é financiado pela iniciativa privada. Afinal de contas, há um bom tempo as grandes empresas já reconheceram que gays e lésbicas são um grupo altamente lucrativo de consumidores. Quem duvidar, basta conferir a imponente lista dos que investem em 2003: Becks Bier, Reemtsma (tabaco) e o fabricante de preservativos Condomi aparecem lado a lado com Ford e Coca-Cola.

A Ford é sem dúvida o patrocinador mais generoso e engajado. Desde 1994, um grupo de funcionários da montadora de automóveis desfila no CSD, e até já contam com seu próprio conselho de fábrica.

Frank Niewöhner, do departamento de marketing, explica o que torna os homossexuais tão atraentes para o empresariado: não só eles representam um grupo numericamente respeitável, perfazendo 5% a 10% da população alemã, como possuem uma renda líquida acima da média, sobretudo devido à típica ausência de filhos. Além disso, vivem preferencialmente em cidades grandes, gostam de sair e divertir-se.

É com este perfil em mente que sua empresa bolou o poster para um de seus modelos mais esportivos. Nele, vê-se duas mãos masculinas entrelaçadas, e o slogan: "Como se a gente só tivesse carros na cabeça".

Festa à parte

CSD in Berlin
Berlim, 28/06/2003Foto: AP

Acusado pelos simpatizantes mais críticos de haver se desvirtuado, tornando-se uma orgia de frivolidade e consumo, o CSD tenta este ano retornar em parte a suas origens políticas e assim recuperar o prestígio perdido. O slogan "Ame o seu próximo" abriga o apelo por uma lei antidiscriminação, não só para os homossexuais quanto para outras minorias, como estrangeiros e deficientes. Haverá numerosas discussões e eventos políticos sobre a temática, em teatros e clubes do centro de Colônia.

Peso político é que não faltará entre os convidados de honra: o prefeito de Berlim, Kaus Wowereit – homossexual assumido – estará no primeiro carro, ao lado da secretária da Agricultura do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, Bärbel Höhn. Além disso, uma festa de gala em benefício das vítimas da AIDS transcorrerá sob o patronato da ministra da Saúde, Ulla Schmidt.

Dúvidas, dúvidas... -

Mas, como negar, boa parte dos participantes trocaria todos eles pela diva pop Cher. É que corre o boato que a cantora e ícone gay americano de – quase invisíveis – 57 anos virá especialmente para o CSD de Colônia!

Ou será um travesti, uma dublê perfeita?

E, neste caso, alguém conseguirá notar a diferença?