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De volta a Kunduz, apesar do perigo

Waslat Hasrat-Nazimi* (ca)23 de outubro de 2015

Após o domínio temporário dos talibãs, muitos moradores só queriam uma coisa: deixar a cidade - ou até mesmo o Afeganistão. Mas há também pessoas que, em vez da Europa, preferem retornar à terra natal.

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Refugiados em Cabul: governo não pode oferecer abrigo a todos os deslocados internos, diz ministroFoto: DW/H. Sirat

"Eu não quero ir de forma alguma para a Europa", diz Haji Jamaluddin. O afegão de 62 anos fugiu de Kunduz, onde ensinava numa escola secundária. Ao lado da família, ele veio para a capital afegã fugindo da falta de segurança em sua província – e agora espera para voltar.

E ele não é o único. No distrito de Sherpur, em Cabul, boa parte dos migrantes faz fila no ponto de ônibus de Baraki. Eles esperam poder voltar para Kunduz. Depois de muitos dias de ocupação pelos talibãs, a cidade voltou ao controle do governo, mas isso não significa que a segurança foi restaurada por completo. Os embates nos arredores ainda perduram.

Diversos ônibus com deslocados internos partem diariamente em direção ao norte do país. Mas nem todos conseguem um lugar. Até agora, por volta de 300 famílias puderam ser repatriadas com a ajuda do Ministério do Comércio afegão. O resto precisa vir diariamente a essa parada de ônibus, na esperança de conseguir uma vaga no ônibus.

Harun Jan Aghaz espera todos os dias por um telefonema do governo. Até o momento, no entanto, ele não teve sorte. "Eles só ligam para aqueles com dinheiro e poder. Em vez de nos ajudar, eles colocam esses refugiados num hotel do bairro Khairkhana, em Cabul. E nós ficamos aqui com nossos pertences na pista", reclama o afegão.

Binnenflüchtlinge in Kabul Afghanistan
Muitas das pessoas que fugiram da violência em Kunduz vivem em barracas em CabulFoto: DW/H. Sirat

Segundo dados do Ministério de Refugiados e Repatriamento do Afeganistão, por volta de 20 mil famílias deixaram Kunduz nas últimas semanas, fugindo para províncias vizinhas ou para Cabul. "O ministério não possui nenhum orçamento auxiliar para os deslocados internos", explica o ministro responsável, Hossain Alemi Balkhi, em coletiva de imprensa há poucos dias. "Não podemos lhes oferecer nem dinheiro nem alimentação ou alojamento."

Nos últimos dias, algumas iniciativas de cidadãos e ONGs afegãs disponibilizaram comida e abrigo para os deslocados internos. Aqueles que não foram acolhidos por parentes foram colocados, em parte, em edifícios inacabados.

Alguns empresários disponibilizaram barracas ou abrigaram os refugiados em apartamentos de sua propriedade. É o caso de Hekmatullah Shadman, de Kandahar, no sul do país. Ele tem cuidado de diversas famílias de Kunduz e alugou todo um prédio em Cabul para abrigá-las.

"Tenho confiança na nossa província – mas não confio no meu governo", diz Elham, um esquálido jovem de 19 anos. "A geração mais velha reclama que a juventude vai embora. Mas, primeiro, eles deveriam trazer de volta as suas próprias famílias para o Afeganistão, como foi o caso do presidente, antes de fazer acusações contra os jovens."

Afghanistan Kämpfe um Kundus Taliban Kämpfer
A presença temporária de talibãs em Kunduz provocou a fuga de milhares de famíliasFoto: Reuters

Elham garante não querer deixar o seu país. Ele está apostando em que as forças progressistas prevaleçam, e os jovens encontrem trabalho. "Por que eu teria de ir? Para nós afegãos, o Afeganistão é o melhor lugar."

Também Sanaullah é da mesma opinião. "Minha família decidiu não ir para a Europa", explica. "Pela internet, vi como os refugiados são tratados e que muitas vezes vivem em condições miseráveis." Foi isso que o amedrontou.

Com muitas saudades de casa, Dawood, de 44 anos, explica: "Em Kunduz é melhor do que em Cabul." Ele também pertence ao rol daqueles que querem voltar para casa o mais rápido possível. E uma fuga do Afeganistão e um reinício em outro país? Para ele, nenhuma das alternativas é concebível. "Se for o caso de os talibãs retornarem, então não vamos mais fugir. Vamos adquirir armas e nos defender. Também vamos lutar. O que eu vou fazer na Europa? Prefiro morrer na minha Kunduz."

*Colaborou Sayed Amin Behrad, de Cabul