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"Decisão final sobre Grécia será dos europeus e não do FMI"

Gero Schliess (ca)8 de julho de 2015

Há consenso quanto à necessidade de uma reestruturação da dívida grega, afirma o economista Jacob Funk Kirkegaard. Boa parte do FMI quer o corte imediato, mas os europeus querem primeiro ver as reformas, avalia.

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Foto: picture-alliance/epa/O. Panagiotou

Tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) como os europeus já entenderam que a Grécia vai precisar de um corte da dívida, afirmou o economista Jacob Funk Kirkegaard, do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, em entrevista à DW.

"Não se trata mais de se isso deve acontecer, mas de quando e como", afirmou. Segundo ele, o grande ponto de discórdia é que boa parte do FMI defende o corte imediato, enquanto os europeus querem primeiro ver as reformas estruturais implementadas pelos gregos.

"No final, quem vai decidir são os europeus, e não o FMI, porque se trata de empréstimos europeus", assegurou.

O economista disse ainda que o novo relatório do FMI apoiando a exigência grega por um corte da dívida pode ajudar o premiê grego, Alexis Tsipras, junto ao seu eleitorado, mas não tem impacto onde realmente importa: nos governos europeus.

DW: O FMI apoia a posição grega de que Atenas precisa urgentemente de um corte da dívida. Mas até agora os chefes de governo europeus não demonstraram nenhuma disposição a isso. Há discordância entre os credores sobre uma questão crucial?

Jacob Kirkegaard: Eu não acho que essa discordância seja realmente substancial. Quando se conversa a portas fechadas com representantes da zona do euro, todos afirmam que, para eles, está claro que a maior parte do dinheiro emprestado à Grécia está perdida. As dívidas têm de ser reestruturadas, portanto. Não se trata mais de se isso deve acontecer, mas de quando e como.

O que isso significa exatamente?

A verdadeira divisão entre o FMI e a zona do euro está no fato de que uma grande parte do FMI defende um corte imediato da dívida para que a economia grega volte a ganhar impulso.

Jacob Funk Kirkegaard Peter G. Peterson Institute for International Economics
Para economista Kirkegaard, desacordo entre as instituições não é substancialFoto: PIIE

Outro grupo no FMI está mais próximo da posição da zona do euro e pretende conceder um alívio da dívida somente quando a Grécia tiver feito o seu dever de casa e cumprido as promessas de reforma.

No final, quem vai decidir são os europeus, e não o FMI, porque se trata de empréstimos europeus. E espero que os europeus mantenham a sua posição: redução da dívida somente em troca de reformas.

Mas o novo relatório do FMI não reforçaria a posição grega e enfraqueceria o ponto de vista do governo alemão?

O relatório ajuda Tsipras especialmente em casa, porque ele pode explicar aos eleitores gregos o motivo pelo qual ele aguentou tanto tempo, por que os gregos tiveram de aceitar o fechamento dos bancos e outras medidas duras. Mas o relatório vai ter pouco impacto onde realmente importa: nos outros governos europeus. Eles têm o seu próprio eleitorado em seus países. No final, o documento do FMI não vai auxiliar os gregos.

A divergência entre as instituições não dificulta ainda mais as negociações?

Elas podem ficar um pouco mais complicadas caso os gregos consigam jogar as diferentes posições dentro da troica umas contra as outras. Mas aí devemos também indagar: quem lucra com um atraso? Ninguém! E quem vai sair prejudicado com um atraso? A Grécia. Os bancos gregos permanecerão fechados até que se chegue a um acordo.

O relatório do FMI não espelha, no geral, a posição dos EUA?

Com a sua exigência por uma redução da dívida, ele se aproxima de conhecidas posições americanas, embora não exista uma posição bem definida do governo Obama.

Em editorial, o jornal New York Times criticou que os chefes de governo europeus teriam piorado a crise com sua má gestão. Isso reflete a posição do governo e dos mercados financeiros americanos?

Há uma opinião generalizada aqui [nos EUA] de que a crise do euro deve finalmente passar. Nesse ponto de vista, a Europa está focada num pequeno país com apenas 2% do Produto Interno Bruto europeu, em vez de cuidar melhor do autoproclamado Estado Islâmico, da Ucrânia e de outras coisas. Existe um certo estranhamento por os europeus não terem conseguido superar a crise.

Isso não significa que os EUA concordem com a exigência grega de um corte da dívida. Considere o seguinte: na prática, a política americana para a Grécia é executada pelo FMI. Foi o FMI quem, em grande parte, codesenvolveu e implementou o programa de reformas grego. Se o presidente Obama se pronuncia repetidamente de forma crítica sobre a política de austeridade, é porque ele está mirando a política interna americana.