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Democracia vence na Ucrânia

Ute Schaeffer / gh27 de dezembro de 2004

O candidato da oposição Viktor Yushchenko venceu as eleições presidenciais da Ucrânia, na repetição do polêmico pleito de 21 de novembro passado, anulado por causa de fraudes em massa. Um comentário.

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Yushchenko, novo presidente, tem muito trabalho pela frenteFoto: AP

Apurados 98,1%, o candidato pró-ocidental obtinha 52,3% dos votos, uma vantagem de 8,4% ou 2,4 milhões de votos sobre o candidato pró-russo Viktor Yanukovich, primeiro-ministro desencompatibilizado para disputar a reeleição. A participação no pleito foi de 77,22% contra 80,85% há um mês.

Apesar não terem sido registradas grandes manipulações pelo observadores nacionais e estrangeiros, o partido de Yanukovich apresentou mais de 550 queixas de irregularidades a serem apuradas. Isso não impede a imprensa européia de falar numa "vitória da democracia". Reproduzimos, a seguir, o comentário da jornalista Ute Schaeffer, chefe da redação ucraniana da Deutsche Welle:

Vitória da democracia – novo presidente tem tarefas gigantes a cumprir

Viktor Yushchenko é o novo presidente da Ucrânia. Com isso, realizou-se a troca de poder esperada pelo Ocidente e exigida pelos ucranianos. Legitimado por uma eleição livre e justa, a principal tarefa do novo presidente ainda está por ser cumprida. A consolidação da democracia e do Estado de direito vai demorar mais e ser mais difícil do que a repetição das eleições.

Wahlen in der Ukraine Viktor Juschtschenko Anhänger
Poder e manipulação do Estado não resistiu à pressão das ruasFoto: AP

O que ocorreu nas últimas semanas não foi mais uma disputa por candidatos ou programas. Foi a luta de um Estado superpoderoso, que usou todos os seus meios para eleger "seu" candidato contra a pressão de uma opinião pública democrática, estudantes corajosos, jornalistas revoltados e empresários críticos. Estes venceram. A democracia venceu na Ucrânia. Cabe agora instituí-la em todos os níveis do Estado e da economia. Uma tarefa gigante.

Os eleitores delegaram a Viktor Yushchenko uma missão clara: garantir mais democracia e uma perspectiva real de vida. Espera-se que, com ele, melhore rapidamente o nível de vida da população – inclusive no meio rural –, e que as aposentadorias e bolsas de estudo aumentem e sejam pagas regularmente.

Mais complicado é o conflito de interesses em nível político e econômico. Yushchenko terá de manobrar, visto que os grupos econômicos concorrentes têm objetivos divergentes e, até agora, partilharam proveitosamente entre si os setores político, empresarial e os meios de comunicação de massa. Ninguém está disposto a renunciar a esse poder.

É preciso combater a corrupção e o nepotismo, que envolvem de forma epidêmica a política, a economia e a sociedade. Uma tarefa que, em 2001, custou a Yushchenko o cargo de chefe de governo. Trata-se de executar uma eficiente política econômica, cujos lucros não devem beneficiar apenas uma minoria e, sim, através de impostos, serem revertidos em contribuições sociais e na criação de uma infra-estrutura.

É necessária uma modernização drástica da indústria e da economia, para que a Ucrânia futuramente possa vender melhor seus produtos. E, não por último, está em jogo uma política externa multivetorial, de importância vital para a Ucrânia com suas numerosas fronteiras.

Yushchenko pode prever o que tem pela frente. No sistema político ucraniano, com seus inúmeros grupos, ele se impôs e soube lidar com os diferentes interesses políticos no país. Por isso, chegou a ser acusado de não ter força de liderança política. Por outro lado, só sobrevive no esfacelado espectro político ucraniano quem busca o consenso e consegue reunir todos os partidos numa mesa.

Fora discursos calorosos, a Europa até agora tem pouco a oferecer à Ucrânia. Nesta hora, finalmente, os vizinhos ocidentais deveriam se preocupar com a Ucrânia, porque a mudança política desencadeada pela eleição não só precisa de tempo – ela necessita também do apoio ativo do exterior. Uma Ucrânia politicamente estável, pacífica e democrática significa mais segurança para a Europa. Por isso, Bruxelas e Berlim deveriam avaliar atentamente as chances decorrentes do resultado eleitoral.

Leia abaixo os comentários da imprensa européia.