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CDU busca novo perfil

Loay Mudhoon (gh)12 de setembro de 2007

Nem sempre as posições dos políticos correspondem aos perfis dos partidos da grande coalizão do governo alemão. A União Democrata Cristã oscila entre seus valores conservadores e uma nova linha social-democrata.

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Merkel tenta dar um novo rumo à CDUFoto: AP

Às vezes, tem-se a impressão de que os dois principais partidos governistas da Alemanha – a União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social Democrata (SPD) – trocaram os papéis. Diante do recente aumento dos preços do leite, lideranças da CDU defenderam um aumento da ajuda social a famílias pobres, enquanto o vice-chanceler federal e ministro do Trabalho, o social-democrata Franz Münterfering, advertiu para o excesso de gastos sociais.

Também na política externa e de segurança nem sempre é fácil distinguir as posições do ainda popular partido democrata-cristão. Um exemplo recente: o deputado Rainer Arnold (SPD) não descarta o envio de instrutores militares alemães ao perigoso sul do Afeganistão. Peritos em política externa democrata-cristãos, como o porta-voz da CDU/CSU no Bundestag, Eckart von Klaeden, não querem saber disso e insistem que a missão das Forças Armadas alemãs se restringe ao norte, relativamente seguro.

União pragmática

Sem dúvida, a recuperação econômica e o surpreendente aumento da arrecadação reduziu a pressão por reformas na Alemanha. Assim, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pôde fazer um balanço positivo de seus dois primeiros anos de governo, acrescentando a seguinte observação: "Diante dos sucessos da grande coalizão, o seu comando funciona assim como eu o imaginei". Provavelmente, ela quis sinalizar aos seus críticos que dará continuidade ao seu estilo de liderança sóbrio, conciliatório e também de manutenção do poder.

De fato, na percepção do eleitorado, a maioria dos sucessos da grande coalizão são atribuídos à CDU e à chanceler democrata-cristã, enquanto os ministros social-democratas, em parte sem linha definida, são culpados por decisões impopulares, como o aumento da idade de aposentadoria de 65 para 67 anos.

Correção sutil de rumo

O principal motivo da reorientação da CDU, além da disputa de poder na grande coalizão, é claramente seu resultado de 35% dos votos nas eleições parlamentares de 2005. Dessa quase derrota ela aprendeu que não havia maioria para seu programa de reformas, definido na convenção partidária em Leipzig e radicalmente a favor do livre mercado.

A direção do partido, sob comando de Merkel, evitou uma análise das causas e iniciou uma correção rumo a uma social-democracia como base do Estado.

Realmente, hoje a CDU se apresenta menos ideologizada e bem mais próxima do povo do que o SPD, que ainda se encontra num processo de autodefinição, após a era Schröder e o choque da agenda 2010 [pacote de cortes sociais lançado pelo ex-chanceler federal Gerhard Schröder].

Críticos conservadores, entre eles o ex-ideólogo da CDU Wulf Schönbohm, que participou de várias comissões programáticas do partido, advertem sobre as conseqüências do novo pragmatismo democrata-cristão. "Angela Merkel destrói o perfil conservador da CDU e se transforma em auxiliar cega da centro-esquerda, inclusive às custas de seus próprios amigos partidários", escreveu no site Welt.de

Nos atuais debates sobre um novo programa partidário, deve ter sido essa preocupação que levou jovens políticos da CDU a elaborar um polêmico texto alternativo, publicado na íntegra pelo jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Nesse documento, eles criticam "a falta de conservadorismo dentro da CDU", com o qual pretendem complementar o planejado novo programa do partido. Na opinião deles, sem um perfil conservador, não será possível conquistar uma maioria conservador-burguesa em eleições.

Sem modelo de sociedade

Na verdade, as causas do dilema da democracia cristã alemã são mais profundas. Um dilema que já foi apontado em 2006 pelo conhecido cientista político Franz Walter, da Universidade de Göttingen, em artigo publicado no site Spiegel Online: "A CDU perdeu seu modelo de sociedade. Ela viveu muito tempo de um modelo de Estado social que nunca agradou às forças burguesas do partido e que hoje está superado, mas que continua sendo insistentemente valorizado e defendido por amplas parcelas da população".

Na opinião de Walter, diante da perda de sua base eleitoral, a CDU agora procura orientação e apoio, mas ao mesmo tempo é evidente que "seu sucesso advém do amplo caráter de aliança partidária. O partido integrou os mais diferentes grupos (…). Isso só funcionou porque a CDU é mais uma união solta, vaga em termos programáticos, do que um partido rígido".

A efervescente disputa entre políticos da ala liberal-conservadora, de um lado, e os social-democratas da CDU, de outro, certamente vai se acirrar no auge dos debates sobre o novo programa partidário. A busca de uma moderna fórmula de consenso pelos estrategistas da CDU é dificultada pelo fato de não existirem reais modelos europeus.

Nas palavras de Franz Walter: "Não existe mais na Europa uma atraente variante de Estado social democrata-critão, que faça uma simbiose bem-sucedida entre o solidarismo católico e o neoindividualismo protestante-burguês".