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Depressão ameaça "esperança do futebol alemão"

mw16 de dezembro de 2003

Deisler faz as pazes com Bayern de Munique, após caso de espionagem prejudicar seu tratamento contra depressão. Jogador sofre com responsabilidade de ser "a esperança da nação".

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Não há mais previsão de Deisler voltar a jogarFoto: dpa

Não bastasse o baixo rendimento de seus jogadores em campo, o Bayern de Munique vive às voltas com o drama pessoal de Sebastian Deisler. Contratado com meses de antecedência em 2001, o armador mudou-se para o clube bávaro em meados de 2002, mas seguidas lesões o impediram de retribuir à altura o investimento do recordista de títulos da Alemanha. Em cinco anos de carreira profissional, Deisler sofreu 15 contusões graves e foi operado cinco vezes.

Apontado desde seus tempos de Hertha Berlim como a grande esperança do futebol alemão, por sua criatividade, habilidade e rapidez no meio de campo, o armador retornou aos campos gradualmente no início desta temporada. Em setembro, chegou a ser convocado para a Seleção Alemã, após mais de um ano de ausência. Em novembro, mostrou estar próximo da velha forma na goleada de 4 a 1 do Bayern sobre o Borussia Dortmund. De repente, a notícia: Deisler estava internado para tratar de depressão.

Internado para tratar doença

Foi o próprio jogador que pediu ajuda, segundo o diretor do Bayern, Uli Hoeness. Aos 23 anos, Deisler admitiu não ter condições de carregar o status de esperança da nação. "Depressão é uma palavra terrível, mas não tenho o que esconder. Estou sofrendo da doença." Encaminhado à clínica psiquiátrica do Instituto Max Planck de Munique, o armador vem sendo tratado há quatro semanas à base de medicamentos e sessões de psicanálise.

"É uma depressão típica. Há uma alteração no metabolismo neurológico, para a qual existe uma predisposição", explica o médico Florian Holsboer, responsável pelo tratamento. Ele afirma que Deisler está bem física e mentalmente e faz exercícios para manter a forma.

A carga mais pesada

No momento, o jogador quer distância de tudo que seja relacionado a futebol e diz abertamente que o que mais lhe prejudicou até hoje foi a revelação do cheque de 20 milhões de marcos que recebeu do Bayern quando ainda atuava no Hertha Berlim.

Embora o clube e o jogador tenham argumentado que se tratava de uma antecipação salarial, pairou no ar a impressão de que era, na verdade, uma espécie de luvas informais para garantir o compromisso de Deisler com os bávaros. A transação seria sigilosa. Depois o jogador optou por devolver a quantia, com receio de problemas com a receita federal. O armador diz que o episódio lhe tirou a confiança em terceiros. "Me deram uma rasteira, me deixaram nu. Fiquei arrasado", confessa.

Sebastian Deisler strauchelt
Deisler (com a bola) em outubro na partida contra o Borussia MönchengladbachFoto: dpa

Uma vez no clube bávaro, o qual pagou por ele 9 milhões de euros ao Hertha, Deisler passou a sentir a pressão de pertencer ao recordista de títulos do país. "A cada dia ela era maior", afirma o atleta, que também não suportou a carga de "ser de repente a esperança da nação". Em novembro somou-se ainda complicações de saúde de sua companheira Eunice, na reta final de gravidez.

Acusação de espionagem e mau negócio

Nem mesmo internado Deisler tem tido a paz de que precisa para curar-se. Presidente do Conselho Consultivo do Bayern, o governador da Baviera, Edmund Stoiber, disse recentemente não contar mais com o retorno do jogador à equipe e declarou um erro a sua contratação. A direção do Bayern repeliu as críticas, mas também caiu em desgraça junto ao paciente, que acusou o clube de bisbilhotar a vida de seus amigos.

O diretor Uli Hoeness negou a contratação de detetives e limitou-se a confirmar ter buscado informações sobre o novo trio de assessores pessoais do jogador (um empresário, uma assessora de imprensa e uma consultora de imagem). No último domingo, uma comitiva do Bayern de Munique reuniu-se com Deisler e alguns de seus amigos na clínica para pôr tudo em pratos limpos e selar a paz.

"O mais importante no momento é deixar de falar em Deisler como jogador de futebol. Quando ele estiver novamente curado, falaremos disso", declarou Hoeness, que, diante da gravidade da doença, não vê motivo para discutir a relação custo-benefício da contratação do rapaz. Deisler, por sua vez, afirma que os recentes atritos prejudicaram sua reabilitação e não vê condições de prever uma data para seu retorno ao futebol. "Não vou mais me submeter à pressão. Isto eu aprendi nas últimas semanas."

Federação pensa em psicólogo

O caso também é acompanhado com preocupação na Federação Alemã de Futebol (DFB). Após o técnico da Seleção Alemã, Rudi Völler, o presidente Gerhard Mayer-Vorfelder igualmente mostrou-se favorável à contratação de um psicólogo para o selecionado nacional. "A pressão sobre os jogadores é cada vez maior. Para alguns, valeria a pena ter um psicólogo na comissão técnica. Mas antes que a gente tome uma decisão, vamos falar com os jogadores. Contratar um psicólogo só faz sentido, se eles estiverem preparados para se abrir com ele", avalia o dirigente.