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Deputado é expulso por anti-semitismo

Estelina Farias14 de novembro de 2003

Pela primeira vez em sua história, os partidos cristãos da Alemanha (CDU e CSU) expulsaram um deputado de sua bancada. Em votação secreta, 195 deputados optaram pela saída de Martin Hohmann, acusado de anti-semitismo.

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Martin Hohmann fica sem bancadaFoto: AP

A grande surpresa da votação secreta foram as 16 abstenções e os 28 votos contra a expulsão do deputado que gerou grande indignação no país com um discurso considerado anti-semita, proferido no Dia da Unidade Alemã (3 de outubro). Na ocasião, Hohmann perguntou se os judeus não podem ser chamados de "Tätervolk" (povo criminoso) em virtude de sua participação na Revolução de Outubro russa. A palavra alemã "Tätervolk" só é usada para se referir aos nazistas, que mataram seis milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

Todos os setores da sociedade alemã reagiram com grande indignação ao discurso de Hohmann, principalmente o governo da coalizão social-democrata e verde e a imprensa. O ministro da Defesa, Peter Struck, demitiu o comandante das Forças Especiais da Bundeswehr, general Reinhard Günzel, imediatamente após tomar conhecimento de uma carta de solidariedade que o militar enviara a Hohmann. Uma semana após o início do escândalo, a cúpula da CDU e CSU decidiu, de surpresa, iniciar o processo de expulsão do deputado.

Sem culpa coletiva

- Políticos de todos os partidos, além da imprensa, aplaudiram a decisão, apesar de a considerarem tardia. As duas legendas conservadoras ainda haviam tentado contornar a situação, mas o acusado de anti-semitismo recusou-se a mostrar arrependimento ou a pedir desculpas pelo seu discurso. Pelo contrário, Hohmann respondeu que não estava disposto a carregar por toda a sua vida a culpa coletiva, referindo-se à tese de que todos os alemães seriam culpados pelo extermínio dos judeus durante o nazismo.

A presidente da CDU, Angela Merkel, justificou o número relativamente alto de abstenções e votos contra a expulsão de Hohmann da bancada no Parlamento em Berlim como uma decisão "humanamente difícil, mas correta". O deputado Wolfgang Bosbach (CDU) ponderou, por sua vez, que "seria uma grande bobagem interpretar esses votos como uma aprovação das declarações avaliadas como anti-semitas".

Sentença de morte política

- Jornais de circulação nacional publicaram nesta sexta-feira um pedido de membros da CDU e CSU contra a exclusão de Hohmann da bancada. Com um artigo sob o título "Apelo a Angela Merkel e Edmund Stoiber" (presidente da CSU), os 26 signatários se solidarizam com o acusado e exigem um debate franco e aberto. Eles criticam o processo de expulsão do deputado democrata-cristã como "uma sentença de morte política, em vez de um debate e solidariedade crítica, como resposta à campanha da imprensa contra os dois partidos".

Muitos dos autores do anúncio já haviam despertado atenção por causa de declarações de conteúdo radical de direita. Entre eles destacam-se o secretário do Interior de Berlim, Heinrich Lummer, e Herbert Fleissner, da editora Langen-Müller, de Munique.

Na última fileira

- Não adiantou nada o apelo publicado nos maiores jornais alemães. O deputado, que foi prefeito de Neuhof durante 14 anos, ficou sem bancada e será submetido à humilhação de sentar-se na última fileira de cadeiras do Parlamento, destinada aos deputados sem bancada. Lá já têm assento as duas únicas deputadas do partido neocomunista (PDS), Petra Pau e Gesine Lötzsch, mas por outro motivo: elas não têm bancada porque o Partido do Socialismo Democrático não conseguiu ultrapassar a barreira dos 5% de votos na última eleição, em 2002. As duas já avisaram que não admitem Hohmann do seu lado. Como elas ocupam a extrema esquerda da fileira, o colega terá de tomar assento na extrema direita.

Reserveoffizier auf 18%-Kurs
Jürgen Möllemann era praticante de pára-quedismoFoto: AP

O último deputado a tomar assento na última fileira foi Jürgen Möllemann, que foi expulso do Partido Liberal também sob acusação de anti-semitismo. Um suicídio atestado por laudos policiais encerrou a carreira do polêmico político, que foi ministro no governo de Helmut Kohl e líder dos liberais. Möllemann se atirou de pára-quedas, sem abri-lo, quase no mesmo instante em que o Parlamento em Berlim cassava o seu mandato.